11 setembro 2004

Crise conjugal


O monitor do meu micro esteve de dieta, e eu não percebi. Percebo agora, porque – acreditem – ele está com cintura. Aliás, uma bela cintura. Melhor que a minha.

Está certo, devo ter sido uma esposa desatenta; ele já vinha dando sinais de fraqueza nos últimos tempos, e eu não me toquei de nada. Fiz vista grossa. Volta e meia, ele dava umas tremidas (sinal evidente de alguma carência nutricional), piscava mais que o necessário. Era um aviso.

Hoje, ao ligar o computador, deparei-me com o resultado da baixa ingestão calórica: as janelas do Windows estão acinturadas. E os botões de ajuste, ali embaixo, não funcionam. Fico imaginando que, se o quadro evoluir, vai ser difícil continuar escrevendo aqui.

E se meu monitor estiver com anorexia? Significa que os meus textos vão emagrecer sensivelmente, e não adiantará empurrar sopas e sopas de letrinhas – porque o monitor vai sempre se achar gordo, rejeitando indefinidamente.

E se for bulimia? Aí o teclado tomará banhos de texto vomitado, um horror – sem contar que ele pode pegar gosto pela coisa, e começar a produzir literatura escatológica sem a minha permissão.

Não adianta eu dizer que preferia o monitor gordinho; ele não vai acreditar. Uma pessoa, quando entra em dieta séria, é porque não tolera mais a auto-imagem. Mesmo que as minhas letrinhas se esforcem para convencê-lo de que eu sempre o amei, desde o início, mesmo tão quadrado, mesmo pouco esbelto... será inútil.

Estou francamente preocupada com a saúde dos meus escritos. Eu gostava de quando o monitor também se gostava. Tivemos momentos hilários, profundos, românticos; almoçávamos ficção, jantávamos confissão. E fazíamos amor em prosa e verso, sem restrição. Rotina de um casal feliz, mesmo.

Agora, com essa falta de gostosura, não sei dizer se a relação continuará com o mesmo vigor. Estou sem estímulo. Não me vêm as palavras. Acho que vou desistir de vez.

(Que nada, vou ali traí-lo com um caderno enooooorme e já volto!)
Diferentes visões


Essa eu ouvi de um tatuador gaúcho.
O sujeito chegou ao estúdio dele disposto a fazer uma tatuagem na hora, e já tinha tudo na cabeça:

- Quero uma tatoo macabra, brother! Muito macabra!

O tatuador então puxou o catálogo das figuras mais trash, e entregou ao jovem rebelde. Ele folheava. E folheava. E demorava. E nada de escolher um desenho.

- Pô, não tem outro álbum aí?

Tinha, e o tatuador entregou a ele. Mais meia hora de meticulosa observação, e nenhuma decisão. Até que o cliente começou a olhar para os lados, e flagrou na parede a foto de uma tatoo.

- É ESSA! É ESSA! Nossa, chapei! Muito irado, cara! Tá decidido: eu quero uma igual a essa.

E assim foi feito.
Acontece que a figura era de uma linda flor.