17 junho 2004

Mais Cazuza


Agora falando racionalmente, li e concordei em gênero, número e grau com esta crítica:

“Acompanhando a trajetória de Cazuza desde o início da década de 80 (e sua entrada no Barão Vermelho), O Tempo Não Pára quase naufraga em sua primeira metade, quando, justamente por evitar aprofundar-se na alma de seu protagonista, acaba retratando-o como um jovem pretensioso e mimado que, fruto de um lar excessivamente liberal, dedica-se a ofender seus pais e à auto-destruição. O Cazuza visto neste segmento é antipático e detestável; um projeto unidimensional de 'artista maldito'. Além disso, o fraco roteiro, em sua errônea ambição de retratar um mito, jamais permite que o personagem simplesmente 'converse': tudo o que sai da boca do compositor é lírico - como, se em vez de 'falar', Cazuza apenas 'declamasse'.”

(Leia na íntegra)

Não, não estou detonando o filme. Gostei de ter assistido; é um filme triste e chega a emocionar em vários bons momentos – a trilha sonora do biografado ajuda, e muito, claro. O Daniel Oliveira dá um show, isso é incontestável.

Mas há muito a ser contestado, e o crítico do site Cinema em Cena, a meu ver, vai com precisão cirúrgica às, digamos, pisadas de bola que o filme dá.

A primeira coisa que me chamou atenção foi justamente a impressão de que o Cazuza devia ser um mala. Garotinho mimado, rebelde sem causa, revoltado e egocêntrico – além de pernóstico e inconseqüente. E se torna chato, muitas vezes, ao interromper o que seria o ritmo normal de uma conversa para pinçar, como que do “mundo mágico das inspirações”, frases poéticas nem sempre cabíveis no momento, soando um discurso vazio e pretensioso.

Parece que a Lucinha Araújo não acha isso – se fosse meu filho, eu não ia gostar nada de um roteiro que retratasse o cara desse jeito. Mas, como o filme é baseado no livro da própria mãe, está tudo em casa.

Outra coisa que me chamou atenção (e isso não consta na crítica acima) foi uma certa esnobada no Frejat. Além de ter poucas falas, fica parecendo, em alguns momentos, que ele era o bundão da história. Que não estivesse preparado para a genialidade do Cazuza - verdadeiro artista/poeta/astro - e, por isso, tivesse ficado comendo poeira quando o cantor decidiu sair do Barão. Pelo pouco que sei da história, acho que não foi bem assim.

Por fim, a cena em que ele descobre que está doente realmente merecia ao menos uma preparação para que o espectador entendesse que ali viria chumbo grosso. Do jeito como é colocada, no seco, o que poderia ser uma bonita comoção acaba virando uma espécie de susto de mau gosto – como quando alguém chega por trás e: “BUUUUUU!”.