22 outubro 2002

Sempre acho que vou acordar, um dia, com o barulho da chuva, virar de lado e puxar um pouco mais o edredom, sentir o cheiro do chá de erva-doce que ele vem trazendo devagar, com biscoito integral e mel e um sorriso bobo que eu sempre vejo, e sempre me encanta, mas nunca sei dizer o próximo compasso daquela sempre mesma situação que cisma em acabar diferente a cada chuva, a cada chá e a cada beijo integral com mel.

Eu me desligo das coisas como são, e me detenho às coisas como SER.

A chuva é água, mas o ser da chuva é muito mais; o ser da chuva é o barulho e é o gosto e sou eu mesma, enquanto mulher, enquanto mundo e como chuva ser.

O chá também foge da erva que é, e vem ser aqui no vapor do hálito dele, e no meu calor, e no orvalho do amanhecer chá.

Assim é que tudo perde o sentido e ganha os sentidos, assim é que o doce vem antes do mel, o barulhinho é o pai da chuva, o vaporzinho é que tem o chá – e não o contrário -, tal como o amor nos tem, não pelo poder, nem por assim dizer, mas simplesmente pelo nosso próprio SER.