29 setembro 2009

O moço que adorava quebrar paredes


A descarga escangalhou de vez. Aliás, a válvula. Ou sei lá.

O moço esteve aqui e tentou o dia todo trocar as peças, mas a senhora sabe, o encanamento é antigo... E vamos ter que quebrar as paredes mesmo.

Revisando a cena (e acrescentando o diálogo final):

O moço entrou aqui dizendo que ia tentar “dar um jeito” e saiu afirmando: no seu caso eu tentei dar um jeito, mas isso aqui nem é mais caso para jeito, não.

“Ah, não?”

“Não. Vamos ter que dar é solução.”

Espera. Revisando a cena outra vez, para ver se escrevi direito (não estou crendo):

A descarga escangalhou de vez. Aliás, a válvula.

O moço entrou aqui dizendo que ia dar um jeito. Não deu jeito nenhum, gastou meu tempo, sujou as paredes, a pia, o meu sabonete francês e, àquelas alturas, o nome dele. No final, disse que não era caso para “dar um jeito”, mas para “dar solução”. Ou seja, quebrar as paredes da minha casa.

Agora vem a parte boa de se trabalhar com ficção:

O moço entrou aqui e (blá blá blá)...

Então, ele quebrou as minhas paredes, eu aproveitei que estavam quebradas mesmo e juntei um bocado de paredes, e olhei bem para o moço, a senhora sabe, o encanamento é antigo, o seu caso não é nem para dar um jeito e... Bem, sou meio ruim de pontaria, quis dar uma solução no moço todo, mas solucionei só uma orelha. Fim.


PS: todo o resto era verdade. À exceção do sabonete “francês”, que era um Protex básico ali da esquina, mas eu achei mais dramático se... Você entende.

24 setembro 2009

Para as mulheres chatas e rabugentas

As mulheres chatas e rabugentas merecem todo meu apoio e solidariedade. As mulheres chatas e rabugentas têm meu carinho e respeito, simpatia, inclusive. Na falta de outra coisa, levem até minha admiração. A pouca paciência que tenho, usarei generosamente com as mulheres chatas e rabugentas.

Façam suas reclamações nos meus ouvidos amplos; divulguem suas vicissitudes diárias pelas minhas publicações periódicas. O espaço que eu tiver, eu o cederei de bom grado às mulheres chatas e rabugentas.

Sempre achei terríveis as mulheres chatas e rabugentas. Fazia parte da minha rebeldia de adolescente – e vai ver tinha até seu charme – ridicularizá-las, espinafrá-las em público, alfinetar suas cabeças vermelhas de impaciência com a vida. Pensava mesmo que eu era só uma guria implicante e me divertia com isso.

Não sei exatamente quando deixei de ser uma guria implicante e me tornei uma mulher chata e rabugenta. Temo que já faça uns dias.

Temo mais ainda que não passe após o oitavo dia do ciclo.

15 setembro 2009

Meu ego

- Bom dia, meu Ego.

- Como assim?

- Faz um dia lindo.

- Poxa, obrigado.

- Eu não disse que você faz um dia lindo. Estou falando do sol!

- Imagina, peguei o primeiro vestidinho amarelo que vi no armário...

- Meu Deus!!!

- Tamos aí. Mas pode me chamar de Ego mesmo.

14 setembro 2009

Letras

Amo escrever. Amo escrever. Amo escrever.
Estou dizendo isso porque às vezes brigamos. Letras e eu, eu e letras.

Há dias em que perco o sono e tenho ganas de contar, mas me falta a coragem de sentar a bunda na cadeira e cumprir o doloroso processo: letras e eu, eu e letras.

(Chorosa): Amo escrever.
(Confessional): Amo escrever.
(Patética): Amo escrever.
(Irônica): Amo escrever.

(Definitiva): Amo escrever?

Bah, desde que deixei de ser adolescente venho me tornando pior ainda.