25 maio 2004

A gripe e a rotina emocional


Peguei uma gripe nojenta, estou enfurnada dentro de casa, meio febril, com um edredom até o pescoço, falando pelo nariz, comendo sem sentir gosto e ouvindo em mono. Agora me dê uma razão para permanecer com o humor intacto, vendo flores na vida, tecendo comentários otimistas sobre o futuro. Uma só, uminha.

Minhas amídalas estão do tamanho de bolas de pingue-pongue, ia me esquecendo de acrescentar. E a minha voz, quanta diferença.

O amigo que der com os cornos neste acidente virtual chamado blogue, desculpe, mas vai aturar crise de mulher que não é a sua – ou seja, pouca vantagem há nisso. Sim, porque aturar o mau humor da própria mulher é, além de útil à saúde conjugal, um gesto nobre. Aqui, de nobre, temos só a pretensão.

Já que está aqui, permita-me discorrer sobre algumas inutilidades da vida, assim me distraio da dor que assola minhas maçãs cranianas (gostou?).

Estou de saco bem cheio disso que chamam rotina. Precisando viajar, respirar outros ares, conhecer gente nova, tropeçar em estradas ainda não subidas, derrapar nas não descidas.

Pensando bem, talvez uma mulher precisando viajar não seja exatamente uma necessidade de deslocamento físico. Talvez, também, não seja uma alucinação resultante de cartelas e mais cartelas de aspirina e benegrip, como você pode estar pensando. Não. Pode ser só uma predisposição momentânea ao desconhecido - esse deus infinito e soberano que nos encanta a todas. Mesmo as mais tímidas, mesmo as menos “saidinhas”. Todas, no fundo, querem(os) um tíquete livre que dê direito às mais inimagináveis saídas.

Não estou reclamando do meu cotidiano, que, se não está uma festa ensolarada, tampouco tem sido cinzento ou enfadonho. Mas existe uma rotina intelectual – da qual nem todos os livros e jornais do mundo dão ou darão conta -, e existe ainda uma rotina emocional. Para esta, não bastará todo pro zac produzido no planeta.

É sobre esse tipo de rotina que estou falando aqui. Não acordar, levantar, dormir. Mas cogitar, pensar, sentir.

E aí? A quantas anda a sua rotina emocional?