30 agosto 2002

SHOUT OUT !

Gente, quantos recadinhos!! Cheguei a me confundir, agora. Vamos lá:

Luka - obrigada pela visita! Volte sempre, tá?
Roberta - fiel BiBlogueira, te agradeço a lembrança das 4 mil visitas! Estamos indo muito bem!
Alessandra - claro que eu me lembro de ti, guria! Valeu por chamar as minhas coisinhas de "dom"!
Denisinha - o ministério da saúde adverte: BIBLOG causa dependência química! Beba com moderação.
Carolzinha - doce de menina! Thanks for all, nós é que temos sorte de ter uma mãe daquelas!


EXPLICANDO

A Aninha, que coloca recadinhos aqui no meu SHOUT OUT regularmente, é aquela nos braços de quem eu me Aninhei durante meus sortudos primeiros anos de vida.
Sorte do meu pai, que ali ainda se Aninha!
Beijos para a minha mãe-menininha!! Saudade! (Não inha!)


DESCULPANDO

Hoje estou meio com pressa. Tenho sido relapsa, eu sei; vou procurar escrever mais regularmente - até para fazer jus às visitas viciadas de vocês.

Só para deixar um pensamento da minha terapeuta freud-lacaniana: às vezes, é mais importante o tom dado à palavra do que o seu próprio significado.

Não é interessante? Existem "nãos" e "nãos", por exemplo. O tom é único e intransferível. A letra é racional e linear; a melodia, no entanto, é vibração pura.

Quem ganha o jogo?

Um "não" indeciso pode ser mais positivo do que um "sim" incerto. Quem dá o tom da palavra? Quem rege a fala?

Já perceberam como as consoantes são percussivas? Percussão é ritmo, amigo, lembre-se dos tambores. TaMB, TaMB, TaMB! Tambores. Consoantes batucam.

As vogais são melódicas e grudentas, ou você acha que o IÊ-IÊ-IÊ foi obra do acaso?

"She loves you / yeah, yeah, yeah!"

Atenção às palavras. Outro dia eu continuo... hoje vou voando, vupt, fui!!

27 agosto 2002

A EDUARDA


Vou contar a vocês tudo que eu sei sobre a Eduarda.

Pouco mais de um metro e setenta, não sai na rua sem salto alto. Vira um mulherão de um e oitenta, morena-cor-de-jambo, os fios de cabelo sempre bem lisos.

- Mas eu espicho em casa - ela explica, mas só para os íntimos.

Espichar os fios, segundo ela, trata-se de um processo tão demorado quanto uma cirurgia complicada. Primeiro, lavar bem os cabelos. Depois, passar uma escova, insistentemente, enquanto segura o secador quente com a outra mão.

Isso feito, é a hora de passar a ferro - chapinha, como dizem. Eu nunca vi de perto, mas dizem que ela demora cerca de duas horas para concluir o ritual todo. Depois, mais meia hora fazendo orações a todos os santos, implorando, de joelhos, não para não ser assaltada na rua - mas para não chover.

- Se chover, enrosca tudo. Do assalto, é mais fácil eu me livrar.

Se perguntarem como, a Eduarda responde que enfia uma agulha no olho do sujeito, sem pensar duas vezes. Anda sempre com uma agulha na bolsa, sobretudo quando vai a shows em praça pública ou na beira da praia.

- Não dá, minha filha, os bofes ficam achando que a bunda da gente é corrimão! Eu furo mesmo!

Não, ela não fura o olho do sujeito na primeira passada de mão. Só na terceira, ou em caso de assalto. A primeira furada é na mão, a segunda é na barriga. A derradeira é cegueira na certa. Também, quem mandou?

A Eduarda é escorpiana, com ascendente em escorpião e a lua em áries. Isto significa, amigo, que é melhor levar uma agulhada dela do que tentar cutucá-la - com o dedo, que seja.

- Você não me conhece! Você não me conhece! - ameaça.

Quando ela diz que você não a conhece, é porque não conhece mesmo. Dizem alguns moradores da Nilópolis, na baixada fluminense, que a Eduarda aparecia, misteriosamente, numa foto semi-nua na página 13 do jornal O Globo, todo dia 13. Mas só em Nilópolis.

Isso aconteceu durante 13 meses, juram. E havia uma legenda embaixo: FUJA DA MINHA PICADA ENQUANTO É TEMPO.

Então, todos já sabiam que, no dia seguinte, haveria um registro de 13 homens nos hospitais da cidade, picados por um animal jamais identificado pelos cientistas. Dali, as vítimas iriam direto para o manicômio, onde ficavam repetindo frases desconexas e falando sobre uma mulher com corpo de moça e cabeça de escorpião. Claro, ninguém acreditava.

Hoje em dia, há versões diferentes sobre o paradeiro da Eduarda. Dizem que ela teria trocado de identidade, inclusive. Nada se pôde provar sobre os crimes do manicômio, até porque a polícia alegava não ter tempo a perder com fantasia de maluco.

Minha cunhada é amiga íntima da Eduarda, e é por isso que eu sei sobre seus hábitos e técnicas. Arrisco-me muito, no entanto, por estar aqui escrevendo sobre isso.

Em noites dos dias 13, jamais durmo.

26 agosto 2002

Buenas!

Venta um bocado aqui no Rio, e o vento me dá uma espécie de alívio misturado com expectaiva - que coisa esquisita. O alívio é porque o vento varre, e a expectativa é porque parece mudança; as folhas mudando de lugar, a poeira levantando, as árvores balançando... parece que alguma coisa está por acontecer, não parece?

Eu gostaria muito de que algumas coisas acontecessem, e outras deixassem de acontecer. Poderiam, por exemplo, parar de me perguntar por que motivo eu não me inscrevi no FAMA. O vento poderia varrer essa pergunta pra mim.

Outra coisa que o vento poderia varrer para bem longe - além dos bombons de uva-passa e dos amplificadores Peavey, claro - seria as pessoas que acham que tudo sabem. Quem nunca ouviu falar em banana, por exemplo, e jura que é nutricionista de macaco. Como tem gente metida a sabida neste mundo! E não há nada mais corta-tesão do que um "sábio" desses. Brad Pitt vira Zé do Caixão na hora.

O vento poderia trazer coisas boas e diferentes. Uma surpresa no fim da tarde: flores. Faz tempo que não recebo, e sempre digo que não gosto lá muito - mas é mentira.

Olhar para o lado, e, quando olhar de volta, encontrar as unhas feitinhas. Plim! Sequer entrei no salão.

Um dia frio, mas beeeem frio, em pleno Rio de Janeiro. E uma casa com lareira, queijo e vinho. E o bofe, que ninguém é de ferro. Mas tem que ser O cara, senão é melhor fofocar com as gurias ou ler um livro.

Uma música nova, prontinha: o vento trouxe a inspiração; eu escrevo tudo de uma vez só, pego o violão, e, ao olhar para o papel de novo, já está tudo cifrado. Plim! Trata-se de um hit em potencial.

Esta teria que ser uma ventania, mas não custa tentar: acordo, olho no espelho, e - plim! - estou a cara da Meg Ryan. Eu pareço um anjo, só que não tenho asas. Vou passar um dia interinho sorrindo docemente, esbanjando meus olhos azuis e comendo sorvete sem engordar uma grama, tal como nas comédias românticas.

São essas coisas inesperadas que eu vejo e ouço no vento. Ele tem um sotaque misterioso, não tem? Parece que está dizendo: "nunca sssse ssssabe... nunca sssse ssssabe..." O vento é todo reticente.

Há quem tenha medo da expectativa do vento, há quem se angustie. Eu acho que, na verdade, daqui a gente enxerga muito pouco. Só sabemos que tem vento porque a poeira levanta, e ter medo da poeira vir nos olhos é a parte mais fácil.

O difícil - e o melhor - do vento é saber confiar no bafo de quem o sopra.





Isso aqui eu achei interessante, olha só:

"Vídeo-games não influenciam crianças. Quer dizer, se o Pac-man tivesse
influenciando uma geração, estaríam todos correndo em salas escuras,
mastigando pílulas mágicas e escutando músicas eletrônicas repetitivas."

Kristian Wilson, Nintendo Inc, 1989.

Poucos anos depois surgiriam
a festa rave,
a música techno
e o famoso ecstasy...

24 agosto 2002

TESTE

Ah, vocês passaram no meu teste. Eu estava certa: ninguém dá bola para as minhas conversas gramaticais, mas, quando escrevo bobagem, vocês estão sempre por aqui. Preferem as minhas bobagens, certo? O BiBlog agradece às visitas e aos comentários no SHOUT OUT, gosto de estar de olho em vocês - assim como vocês estão de olho em mim.

Certo. Vou comprar umas galochas VERDES - já sei que vão ficar verdes, mesmo. Não sei onde vou achar. Acho que tem no Carrefour aqui da Barra.

POR FALAR EM CARREFOUR

Falando nisso, não posso entrar no Carrefour. Não me deixem entrar lá. Chego super bem intencionada, quero só atum light e molho vermelho. Quem disse? Tem muita coisa lá!

Na última vez, saí com uma saia jeans até o joelho, meio rasgada (de propósito, amigo), super linda. Dizem que é feio comprar roupas no Carrefour, mas eu não saco nada de grife mesmo, então me acho naquelas prateleiras grandonas e cheias de descontos irresistíveis. Já viu? Tem coisa de R$ 9,90! A última blusinha que eu comprei descosturou na primeira lavada, mas ficou até fashion com aquele fio puxado. Vermelho.

CALORIAS

Minha amiga sabe tudo de calorias. Ela almoça números. Quando pergunto "o que você comeu hoje?", ela responde: "820".

Se passar de mil, é exagero. Dois mil, já vira caso ilegal. Um crime contra a boa forma. Ontem eu disse que almocei almôndegas de peru, e ela me olhou como se houvesse algo errado comigo. Pedi desculpas, sempre peço. Dei mancada?

Ela me respondeu que sim. Cada bolota daquelas tem 120 calorias, segundo minha amiga. E se dizem LIGHT. Eu como váááárias bolotas, e ela diz que isso não se faz, que é crime, que vou pesar meus pecados todinhos. Isso que eu nem contei que comi arroz integral junto. Ela não me perdoaria.

Um polenguinho light - aquele queijo mole, amigo - tem só 30 calorias. Aquilo pode. Dica da amiga: esmagar um polenguinho light numa fatia de pão light, colocar maionese light na outra fatia e um pedaço de peito de peru light entre as duas. Pode acrescentar catchup, mas só se for light.

Sim, ela achou um mercadinho que vende catchup light - eu nem sabia que existia. Fica meio longe, mas vale a pena. Ela compra todas as coisas num hipermercado, e depois corre até o mercadinho e embolsa uns tubos do condimento vermelho. E dorme sossegada.

E, para terminar: da última vez em que ela teve que tomar soro na veia, chegou em casa, ainda meio grogue, e foi pesquisar na internet as calorias do negócio. Descobriu que havia 450 calorias por tubo. Meu Deus, ela havia tomado dois tubos. Ficou puta:

- EU PODIA TER COMIDO UMA BARRA GRANDE DE CHOCOLATE !!!

E xingava o médico, de anti-ético pra baixo.

23 agosto 2002

Anota aí na tua cibercaderneta:
http://flocgel.blogspot.com/

Gente, sou manca nesse negócio de internet, de modo que não sei nem criar um link para o endereço acima. Mas visitem! Trata-se de um blog muuuuito divertido, de um grupo de meninas ótimas. Não deixem de conferir, tá? (Argh, frase manjadíssima. Acontece.)

Outra coisa. Ontem eu fui até a Lapa, e dei de cara com o Yamandu Costa tomando uma cervejinha num boteco-restaurante muito legal. Esqueci o nome, mas fica em frente ao Carioca da Gema.

Minha amiga estava com fome, queria um cachorro-quente. Mas não tinha ali. Sabe o que o garçom fez? Foi comprar o dog na esquina, e trouxe para ela:

- Não se deve deixar uma dama com vontade alguma.

Aí eu tirei o chapéu. Ganhou cliente e admiração, numa só tacada. Assim é que se faz.

Outra coisa. Eu terminei a faxina da semana ontem (atrasada), e já teve gente que deixou um farelo de não-sei-quê cair no chão. Tou vendo daqui.
Acho que fui eu, mas reclamo só para não perder o hábito.

O piso aqui é de ardósia. Sabe o que é ardósia, né? Lajota verde, amigo.
Pois eu esfrego a sacada, esfrego, esfrego, minha amiga falou que a gente lava com detergente, eu lavo, lavo, depois Optimum, força, força, pano, e tudo. No fim, dou uma espiadela na sacada do vizinho, e... adivinha??

A sacada do vizinho é sempre mais verde.

É mole? Há algo incompreensível nas minhas lajotas. Cera verde, passo também, que é para dar aquele brilho. Inclusive, estava comentando ontem, minha unha do dedo do meio do pé direito está VERDE-ARDÓSIA. Já tomei trocentos banhos, e a porcaria da cera não sai. Estou andando de botas nesse calorão, se alguém pergunta eu largo um papo de roqueira e tudo bem.

Sugestões?

Até o verão, preciso poder usar sandália - embora não seja meu calçado preferido, mas aqui no Rio a coisa pega.

Só uma observação maldosa: se a minha unha está assim, imagina a do vizinho. Hehe, tomara que ele esteja com o pé do Hulk.

Ainda não inventaram luvas de borracha para os pés, né? Seria uma boa. Eu sou tão atrapalhada com aquela cera, qualquer dia caio de bunda no chão, e vão pensar que sou um semáforo-sinal-sinaleira duplo, dizendo: SIGA - SIGA.

Credo, quanta besetira.
Fui.

22 agosto 2002

Buenas, macacada!
Tudo nos conformes?

(Não, não sou doida. É que, pelas visitas de vocês, já saquei que não estou aqui falando sozinha. Então, me permito um diálogo-de-uma-nota-só.)

PRÓCLISE

Aqui entra uma das minhas famosas observações gramaticais. Você sabe o que é PRÓCLISE?
Não, meu amigo, não se trata de uma próclise dentária. Próclise é quando o pronome é usado antes do verbo, sacou?
Exemplo: me permito.
Observe que o pronome (me) vem antes do verbo (permito).

** BiBlog também é cultura **

Ali em cima, quando eu escrevi "então, me permito um...", eu estava errada. Não se usa próclise em início de frase, nem tampouco depois de uma vírgula - a não ser que ela encerre um aposto, mas aí é coisa para outro post.

O correto seria: "então, permito-me um..." - ÊNCLISE (quando o pronome vem depois do verbo.)

Não se inicia frase com pronome. Mas, cá entre nós: que coisinha bem enfadonha.
Há uma penca de escritores que chutam a bunda de próclises, ênclises e mesóclises, e fazem uma salada do jeito que lhes dá na veneta. Com bom gosto - e responsabilidade -, é claro. Nesses casos, acho absolutamente interessante trapacear a gramática. Digo mais: acho charmoso, até.

Me permito, portanto.

Se não houver humor (bom!) na língua, estaremos perdidos. Alguns críticos da arte literária - para não falar das outras artes, digamos, mais sonoras - até parecem policiais procurando pêlo em ovo para multar a galinha. E sempre acham, naturalmente.

Não quero malhar os críticos, nem os gramáticos mais ortodoxos. Quero só colocar uma pitada de erva-mate na tapioca, ou um pouco de acarajé no chimarrão - tanto faz. Um país tão rico, tão colorido, preocupado com picuinhas, obsessões pragmáticas. Tem dó.

Com todo respeito à língua portuguesa, vamos aprender a soltar a franga, deixá-la exceder um pouco o limite de velocidade estabelecido. Sem multa!

Só tem uma coisa: tem que conhecer o certo, para depois saber fazer errado. Errar correto é sempre mais difícil.

E já dizia o Caetano (que eu regravei): "Meu som te cega, careta, quem é você??"

21 agosto 2002

EPA, EPA, EPA!

Estava andando na praia, agora há pouco, quando o moço que vende Biscoito Globo - pronúncia: bixcoito-globo - me parou com a seguinte frase:

- E a loirinha vai levar um doce ou um salgado pro namorado, noivo ou marido?

Levei um susto. Loirinha?? Fiquei olhando para ele com cara de tacho. Ele atacou:

- Está namorando, está solteira ou está casada, loirinha?

Loirinha, de novo. Rebati - "estou dura!!" -, e segui a minha caminhada. Ora, bolas.

Parei na farmácia que fica ali perto do postinho, e fui direto à prateleira dos tonalizantes. Ok, estou precisando de retoques. O último foi o Terra, número 22 da Casting, mas ali não tinha. Tinha só o Noz - um tom mais grave, digo, mais escuro. Vai esse mesmo. Tenho urgência.
Ora, bolas.

Nada contra as lindas loirinhas - sou fã do jeitinho meigo da Meg Ryan, por exemplo. Dou todo meu apoio. Mas, eu? Poxa, vocês não sabem o tempo que eu gasto em frente ao espelho, a tingir minhas madeixas da cor TERRA, empapando cada fio como se fosse o único, louca de medo de fazer mechas sem a mínima intenção.

Aí, vem o tio do bixcoito-globo, e me acusa de LOIRINHA?? Comigo, não.

Sou muito morena, morena tropicana (pelo menos de cabelo): ai, ai, iô, iô.


FUSCA PRATEADO

Hoje eu ia dirigindo pela Av. das Américas, quando avistei à frente um fusca prateado, a coisa mais lindinha do mundo. Todo limpinho, brilhando, cuidadíssimo - coisa rara e bonita de ver.

Quando olho a placa: Porto Alegre. Olha, que bacana! E uma mulher dirigindo. Conterrânea!!

Já fiquei toda faceira. Vou ultrapassar, e buzinar. Vou acenar! O fusca é perfeito!

Ainda outra surpresa: na bundinha do fusca, um adesivo com a bandeira do RS. Vou sorrir, e vou aumentar o volume do Vitor Ramil para ela ouvir! Tem jeito de gente boa, a moça...

Antes de ultrapassar, ainda olhei mais uma vez para a bunda do carro. E vi. Vi o que não poderia ter visto. O terrível, o inoportuno, o descabido: um adesivo do Internacional. Acreditem, a moça era colorada.

Nada pode ser perfeito.

O fusca nem era prateado, pensando bem; era cor-de-cinza. E feio, o coitado. Muito feio.

Ultrapassei reto, e fui-me embora.
Minha gente,
não é que pintou insônia?? Pudera, fui deitar cedo demais... como vão vocês?

Eu vou bem, obrigada.
Um tanto de saudade do Sul - e seus respectivos -, mas tudo bem. Às vezes, bate um banzo melancólico... mas isso é coisa de madrugada insensata.

Aliás, toda madrugada é insensata, desde que me conheço por coruja.

Eu sabia que tinha alguma coisa estranha no ar, mesmo antes de constatar que meu irmão havia lavado a louça que eu deixei na pia, assim que voltou do trabalho, à noite.

(Um parênteses: aqui, mais certinho seria "meu irmão havia lavado a louça que eu DEIXARA na pia...", mas eu fico meio assim de usar o pretérito mais que perfeito, pode soar formal demais. Sabe o que é isso? - Trauma de ter sido obrigada a ler Guimarães Rosa e José de Alencar com 12 anos de idade. Belo incentivo ao hábito literário. 90% da turma saía com a convicção de que ODIAVA ler.

Veja bem - continuando entre parênteses -, nada contra os grandes escritores; o problema é OBRIGAR qualquer adolescente a se concentrar numa literatura lenta e rebuscada, enquanto o coitado mal consegue se concentrar nos artigos coloridos das revistas preferidas.)

Mas, voltando à louça que eu DEIXARA na pia: a surpresa da madrugada foi encontrar tudo limpinho, como num passe de mágica. Eu não disse que toda madrugada é insensata?

Meu irmão lia para mim, quando eu era pequena, uma historinha chamada "Pedrinho vai ao médico". Era de uma coleção de livros azuis que tínhamos em casa. Havia outras histórias, mas eu insistia na do Pedrinho, e, por mais que já soubesse o final, adorava ouvir de novo, e de novo, e de novo.

Se ele mudasse alguma coisa no texto, de improviso, era só para chamar minha atenção. E eu reclamava - não é assim!! Agora o médico vai ouvir o coração do Pedrinho!

Hoje eu adoro quando ele muda alguma coisa de improviso.
Na guitarra ou na pia da cozinha.

18 agosto 2002

Buenas, tchê!!
Dia lindo e ensolarado aqui no Rio. Parece verão; está quente, mas tem uma brisa gostosa.
Estou escrevendo rapidinho, recém acordei, e daqui a pouco tenho que sair para um churrasco de aniversário. Lindo dia para churrasco.
Desejo um domingo tão gostoso quanto o meu para todos os que aqui puserem os olhos, e muitas felicidades aos possíveis aniversariantes leoninos - nunca se sabe.
Estou de bem.
Beijos da
Bíbi

17 agosto 2002

Vou divagar enquanto posso.

Vou divagando enquanto intenso; o principal é o texto, o resto é verso avulso e não importa.

Inspira o teto, inspira o tato e inspira o conto, não interessa o fato. Não estou com pressa - a valsa é vida lenta, o tiro
é morte rápida.

Vamos ficando por aqui, vamos divagar, vamos deixar sair o que não pode mais ficar.

(Vocês acham que eu sou muito complicada?)

16 agosto 2002

INDO EMBORA

Estou me despedindo do solo, do fixo e do colo. Cansei da vida aflita, vida falida, falecida vida. Eu vou sem pés, sem nós; eu e eu, a sós. Vou rumo ao infinito, sem medidas, e parto normal: sempre ganho é no grito.

Deixo para trás os significados; levo só os símbolos, e bolo outras versões. Se escapar um verso, a solução está no ar. Se o cérebro parar, vou flutuar, ar. Se o coração inventar de não bater, escrevo um compasso diferente e engulo tudo.

Bate outra vez.

Estou indo embora, olha o vento. Não quero abraçar as estrelas, quero pairar com elas no espaço. Certas vidas perecem, viram adubo.

A vida ensina sem ser didática, e a dor não conhece matemática. Não tem muito segredo, a gente ganha é no grito.

Tudo aqui é muito alto; o amor é alto, a alegria é uma gritaria. Cansei de me fingir de surda-muda. Se o negócio é brulho, não falto.

Estou indo embora, pulando fora e caindo em mim.

15 agosto 2002

O PREGO


A filha de uma amiga nossa tem doze anos e quer enfiar um prego na testa.

Segundo a menina, o nome daquilo é mesmo piercing, é bonito, está na moda, e é muito... maneiro. Que fura, fura. Mas é maneiro.

No meu tempo, injeção na testa a gente não aceitava nem de graça. Mas pensava no assunto, é claro. Hoje em dia, pelo visto, pensa-se menos; fura-se mais.

Acho até bonito um piercing na sobrancelha, se combinar com o estilo da pessoa ADULTA que quiser inseri-lo acima do seu próprio olho. Mas, com doze anos??

Eu tenho o dobro da idade dessa fedelha, e a única coisa que me enfeita é Jesus Cristo, pendurado na cruz, pendurado numa correntinha pendurada ao meu pescoço. Com todo respeito. E eu passo pela porta do Unibanco, numa boa, sem apitar.

Outra coisa: furaram as minhas orelhas muito cedo, no tempo em que eu não podia me defender, de modo que penduro uns brincos nelas sempre que tenho vontade. Ainda assim, a orelha direita é chique demais para aceitar qualquer coisa que não seja de ouro, e inflama. A outra é mais humilde.

Sim, mas eu não durmo de brinco. Não tomo banho de brinco. Nem me peso de brinco, que pode dar impressão de que engordei.

O brinco a gente manipula, tira e põe na hora que bem entender. O prego, não. O prego é praticamente um anexo metálico. À noite, periga alguém bater achando que é mosquito.

Fora que dói. Muito. Sofrimento curto, na hora de colocar, mas muito intenso. Quem já fez, confirma.

Não sou tão careta assim; aceito o prego (em adultos) numa boa. Reconheço que estamos no século XXI, as pessoas são livres, etc.

E dou graças a Deus porque, por enquanto, ainda estão pendurando só os pregos. Imagine quando começarem a pendurar os quadros.

Não devo viver para tanto.

12 agosto 2002

PRATICAR A SATISFAÇÃO CONSTANTE

Eu li a frase acima nuns dizeres do Sai Baba, se não me falha a memória. Não é bonito - satisfação constante?
No mínimo, inteligente.

Experimente passar um dia sem se irritar com nada, absolutamente. Sabe um dos princícpios do budismo, né? - a intemporalidade das coisas. Tudo passa, como uma onda no mar; já dizia o Nelson Motta.

Se nada fica, meu amigo, é meio inútil sofrer. Concorda?
Como diria meu avô: você perde a lavada da bunda. Desperdício puro.

Não é inteligente ter apego a coisa alguma, que dirá se apegar ao tempo - uma coisa tão inoportuna quanto inexistente, que a gente cisma em levar ao pé da letra. Quando a lavada da bunda termina, a ação já lhe escapou por entre os dedos - com todo o respeito. Isto significa que toda lavada de bunda é única, essencial e sagrada. E passa.

Praticar a satisfação constante deve ser, pelos meus cálculos, lavar a bunda com prazer, independentemente do tamanho da sujeira. Sem ficar pensando no antes ou no depois - apenas estar ali, presente, de coração.

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã - porque, se você parar pra pensar, na verdade não há.

Experimentem daí, que eu experimento daqui. E durmam com Deus, queridos. Beijocas.

11 agosto 2002

Ois!

Obrigada, Nandu! Volte sempre.

Fui ouvir jazz num barzinho chamado Taberna Diferente, lá em Santa Tereza.

Ainda não entendi como é que aquela gente não bate no bonde; vocês imaginam que há um bonde transitando por lá, e os carros andam por cima dos trilhos dele. Na rua.

É um vai-vém maluco, minha gente, quase dei de cara com o bonde duas vezes. A estrada, não bastasse, é cheia de subidas (e descidas, para quem vem de cima) e curvas.

Você pede informação, e o sujeito diz: "segue os trilhos do bonde toda a vida" - e o pior é que ele não está brincando! Você toca por cima dos trilhos, mesmo, e reza. No meu caso, rezei muito. Jesus Cristo já não agüentava mais, sorte que ele está acostumado ao fiel em desespero, que tem gente que só reza nessas horas, sabe como é.

Tudo bem que o bonde é meio devagar, mas assusta igual. A mim, assusta. Não sou de andar nos trilhos dos outros, eu me sinto invasiva, sei lá, um desconforto sem igual. É como tocar com instrumento emprestado, mas sem pedir permissão. Com o agravante que o instrumento pode te atropelar de repente.

E quando vem um ônibus, então???

Você vai subindo a ladeira, em curva, e o bonde vem de atrás (o "de atrás" é licença poética, não pude evitar, ok?). Lá de cima, embaladinho, vem um busum lotado, afoito e nem-te-ligo. Pra quê. Jesus Cristo, nessa hora, quase ficou surdo, tanto que eu implorei para esperar pelo menos eu tocar no Metropolitan - gosto do nome antigo - antes de partir.

Acredito na hora certa, mas as curvas de Santa Tereza são de abalar a fé de qualquer cristão. E eu peço mesmo.

Graças e Ele, cheguei lá em cima numa boa, apesar do susto e alguns fios de cabelo a menos. Bufava.

O barzinho é rústico, daqueles com banquinhos de tronco de árvore. E tem papel higiênico no banheiro, o que já me cativa uns 60%.

Não que haja alguma relação entre o medo do bonde e o papel higiênico; foi apenas uma observação.

Ih, acho que não convenci.

09 agosto 2002

Alou, pessoas!

Desculpem tê-los abandonado nos últimos dias. Estou envolvida com o trabalho, o que é excelente e me faz bem.

A cidade maravilhosa está cada dia melhor, lindos dias de sol e aquele ventinho - dupla infalível para secar lençóis; ando lavando roupas e minha pele vai melhorando, o sabão em pó vai acabando, o preço do amaciante está pela hora da morte, e Amélia é a senhora sua mãe.

Apaixonei-me, francamente. Ela se chama "Mandy", é uma balada maravilhosa cujo compositor agora não me ocorre - perdão, mais uma vez. Estou amando, há algumas semanas. Preciso variar um pouco, sei lá, trocar de Mandy. Essa fidelidade toda não me cai muito bem, preciso e prefiro manter a minha fama de má... luca. Sempre é mais seguro variar, no sentido enlouquecedor da palavra. Se é que me entendem. Estou variando.

Noite dessas, fui parar no Carioca da Gema, um barzinho apaixonante que fica na Lapa. Não comentem por aí, mas encontrei um bonitão cheio da ginga, e dancei samba e bossa a noite inteira. Eu, dançando samba.

O som é ao vivo, trata-se de uma batucada leve e encantadora, cheia de talento e swing. Gente "da gema", mesmo, fazendo aquilo que nasceu ouvindo. É como ir a um CTG em Bagé, mais ou menos - eu fiquei pensando. Eles fazem aquilo com um pé nas costas, e você não entende nada, mas se encanta.

Lá eu não digo que sou baixista de uma banda de rock, mas eu acho que eles desconfiam que eu não sou muito "da gema", até porque não estou podendo ir à praia nem durante a noite, com medo de que me confundam com um holofote ambulante.

Chega de conversa, hoje eu vou a Santa Tereza ouvir jazz (pronúncia: JÁIXXXX). Tenho ouvido coisas. E a minha analista também.

Beijos!!

02 agosto 2002

Muita vontade de escrever bobagens para pouco tempo...
Luis, obrigada pelos elogios! Fico feliz em fazer um Blog que sirva para alguma coisa. Parece que vai dar um fim de semana chuvoso no Rio de Janeiro. Deu na previsão. Estou com uma tossezinha tão chata... Vontade de fazer um almoço aqui em casa, chamar os amigos músicos, e obrigá-los a comer o meu macarrão integral com molho de ricota, mas acho que vou acabar criando inimizades. Ô, gente que é chegada a uma picanha!! Tive a infeliz idéia de fazer as unhas e, depois, acreditem, faxinar a minha cozinha. O resultado é que estou atrasada para tomar banho, me arrumar e retocar o esmalte, para depois ir até a Lapa - só devo chegar lá amanhã. Mesmo assim, prefiro ficar aqui teclando um pouco, porque a coisa na cozinha foi meio HARD, estou esbaforida e não gosto de fazer tudo muito correndo, parece que perde a poesia.
Poesia? Quem falou em poesia?
Não, sei, captei uma coisa de poesia, eles vivem falando aos nossos ouvidos mesmo. Quem serão eles?
Não, amigo, eu não sou louca. Louco é você, que perde a poesia no primeiro desentendimento no trânsito. O trânsito já é desentendido por si só, ninguém deveria se aborrecer. Todos concordamos com o fato de entrarmos numa caixa de lata e sairmos andando por aí, todo mundo ao mesmo tempo. Marcamos horários, inclusive, que é para ninguém perder "a hora do rush".
Depois, querem reclamar. Eu não entendo o trânsito. Ah, quero ver aquele filme com o Tom Cruise, que estreou hoje, de ficção científica. Sei lá, deu curiosidade. No filme, os carros voam. Seria uma boa, mas eu vôo mesmo sem carro.
Outro dia, fui até o RS, olhando o relevo, de barriga para baixo, enquanto o vento batia no meu cabelo. Falei com uns amigos, e voltei na mesma noite. Quando a gente dorme, é que acorda. Ou você acha que eu voaria dormindo??
Tem dó.





01 agosto 2002

PARA MARISTELA KAYSER BOCK

Tu me manda um e-mail, Maris? Ou escreve aqui no SHUOT OUT o teu e-mail, que eu não tenho aqui, e dá saudade, e quero mandar coisas, mas não consigo. Beijos no Jesué e na Pri, e beijos pra ti também!

PARA TODOS

Oi, gente, hoje estou um sem inspiração e com preguição, de modo que vou postar aqui uma crônica antiga minha que eu acabei de achar. Beijos.


Quanto vale uma escova grátis?



Bíbi Da Pieve



Imagine que o seu casamento esteja meio sem graça. Precisando de um tempero - que você cisma em chamar de "investimento".

O Adelmo anda distante, e, quando resolve chegar mais perto, você não quer saber.

As afinidades evaporaram depois do primeiro ano de convivência. Faz três anos que vocês se enfiaram nesse quarto-e-sala com paredes descascando. Tudo ia muito bem, ele até fazia as suas unhas de vez em quando. Mas, hoje em dia, o clima é de cortar com a faca: mal se olham.

Antes que as paredes desabem de vez - você pensa -, é melhor eu investir no meu relacionamento.

Pronto. Parece que o mundo inteiro adivinhou suas necessidades: internet, televisão, revistas, livros e sex-shops oferecem rápidas e práticas soluções para o seu problema.

Será que isso é um sinal? - você questiona -, ou toda essa indústria já exisitia antes do Adelmo, e já torcia para que eu o encontrasse um dia, casasse com ele, e, depois de três anos, decidisse investir num relacionamento mal das pernas?

Não importa. O Adelmo vale o investimento; você saca meia-dúzia de manuais sobre casamento, uma camisola de rendinha, faz o pé e a mão no salão mais caro, e ainda sai achando que está no lucro - ganhou uma escova grátis.

Devorados os livros, decoradas as dicas práticas, entendidos os fundamentos psicológicos das diferenças entre os sexos, alisado o cabelo e lixado o pezinho - você está pronta para mudar de vida. Afinal, o Adelmo é o príncipe que todas as suas amigas pediram a Deus (lindo, alto, louro, vinte e tantos), e você prometeu a si mesma um
happy end digno de Hollywood.

Mas faltou um detalhe: um bom vinho, para brindar à lua-de-mel do investimento.

Atrasada, você passa na delicatessen mais próxima ao quarto- e-sala descascado, desce do ônibus num pulo, quebra o salto, e cai de joelhos na sarjeta. Chove muito. O cabelo empaçoca e espiga.

É quando aparece, do nada, o gaúcho Kleiton - que você não vê há uns quinze anos -, e lhe dá a mão. Você levanta, gagueja; não sabe se ri, chora, abraça, beija ou engole o salto quebrado.

E você também não sabe há quanto tempo não sente isso, mas desconfia que faça uns quinze anos - desde que o Kleiton, seu amor platônico de adolescência, resolvera ir tocar percussão no Canadá.

Agora ele deve estar com quase cinqüenta; é baixinho, careca, meio barrigudinho, mas continua com o mesmo olhar: desconcertantemente percussivo. Durma-se.

Mas como, se você não deixou passar uma linha? Se você decorou todas as dicas, comprou os melhores perfumes, usou os melhores esmaltes - como é que pode, agora, um batuqueiro sulista vir atrapalhar o seu investimento no Adelmo?

Acontece, minha cara. Esse tipo de Kleiton não escolhe suas vítimas. E a maioria dos manuais de "felicidade" não vêm com a letra "k" no índice.

Nada contra os Adelmos, os livros de auto-ajuda e as pedicures. É que - particularmente - tenho uma quedinha pelos saltos quebrados, pelos encontros inusitados, e pelas tempestades - que são intensas justamente por serem naturalmente crespas, sem investimento algum.

E sem escova grátis.