16 outubro 2002

Alou, macacada.
Em casa, já recebi críticas rígidas em relação ao meu fraco desempenho aqui no BiBlog nos últimos dias.
Culpo o calor e a (conseqüente) falta de inspiração. Pode ser?

Não se vive mais no Rio de Janeiro; derrete-se, aqui, dia após dia. Hoje eu fui dar uma caminhadela na praia, à noite. À noite! Suava em bicas. Vento nenhum. Até o mar, acostumado que deve estar às temperaturas exageradas desta cidade, pareceu-me suspirar de calor – posto que as ondas, cá de longe, pareciam-me mesmo velhas baianas, com seus vestidos rodados de espuma branca, a balançarem, em suas redes, para um lado e outro, com a lua na cabeça e alguma preguiça justa no coração.

Eu digo justa, sim, porque “o calor vem desumano” – como cantam Djavan e Cássia -, e ninguém merece movimento algum, por estes dias, que não seja o vaivém ondulatório, ou pendular, ou qualquer outro vaivém que vocês imaginem aí em suas mentes sujas, mas depois não me venham dizer que a pervertida aqui sou eu!

Na calada da noite, só para variar um pouco, os bandidos metralham os prédios públicos e detonam bombas nos shoppings da cidade. O tal Palácio Guanabara está virado num queijo suíço, e não é de hoje que os traficas andam planejando transformar a cidade maravilhosa em Tábua de Tiro-ao-Álvaro – não tem mais onde furar.

Mas, para não dizer que não falei das flores, nossa futura governadora, Rosinha Garotinho, não poderia ter nome artístico mais apropriado aos cidadãos que temem pelo futuro disto aqui. Rosinha Garotinho: uma flor e uma criança – oh, quanta esperança.

Deve soar mesmo esperançoso à maioria da população, pois a moça está eleita, de fato, e nada mais se pode fazer. A não ser, é claro, reclamar para o bispo.

Mudando de assunto - até para não terminar tão doce quanto limão estragado -, hoje eu comi um feijãozinho caseiro que lembrou minha Vó Manoela, mãe de meu pai, já falecida. Foi com ela que aprendi a rezar, quando ainda achava que Ave Maria era, realmente, alguma parenta das galinhas, pombas e patas que minha vó criava no sítio. Eu achava uma ótima piada: “Ave Maria, cheia de graça”. E imaginava, sei lá, uma garça desajeitada, divertida e muito boazinha, que ficava voando lá pelo céu (?), a rogar por nós, agora e na hora de nossa morte, amém.

Mal sabia a Vó Manoela que eu iria precisar tanto dos cuidados da garça-mãe de Deus, pois que escolhi vim logo parar debaixo do braço do Redentor, e, quanta ironia: o cenário aqui anda quase beirando a perfeição daquilo que um dia fora imaginado pelo, desculpe-me a governadora, mas pelo chifrudo mesmo.

Já sei, já sei: era preferível que eu terminasse o texto na acidez do limão que nas guampas do diabo. Mas essas coisas a gente não escolha. (Governadoras, sim).