29 dezembro 2001



Esta foto está em http://www.olivieranquier.com.br/

Se tem uma mulher feliz de marido neste mundo - além da minha mãe, é claro -, esta mulher se chama Débora Bloch. Tudo bem, a Marília Gabriela não conta, que aquilo nem é marido - é uma ostentação em perna e osso.

Olivier Anquier é o nome do maridão da Débora. Um francês de tirar o fôlego.

Já assistiram ao Dário do Olivier, no GNT? Não perco um. Com todo respeito. Trata-se de um programa culinário - acreditem se quiser, o homem ainda cozinha.

Cá estava eu, ontem, observando atentamente a explicação do Olivier acerca do fermento. Nunca tive tanto interesse pelo fermento antes. De uma hora para outra, o fermento tomou conta da minha noite. Ah, o fermento... (suspiro)

Dizia aquela doce criatura de qualidades redundantes, bem dentro da minha telinha, que o fermento é uma bactéria. "Um ser vivo, como eu e você". De repente, passei a enxergar as bactérias com outros olhos - tudo tem seu charme, não é verdade? Ah, a bactéria... (suspiro)

E o Deus da culinária prosseguiu: "Vocês sabem como é que o fermento faz o pão crescer? Pois ele se alimenta dos açúcares presentes na farinha. E, como tudo que entra tem de sair, o bichinho elimina o que comeu..."

Cocô de bactéria. Eis o princípio do crescimento do pão. Segundo o maridão da felizarda Débora, o bicho-fermento come o açúcar da farinha, e "libera" - para não usar outra palavra - gás carbônico. Isso mesmo. O excremento do fermento é - veja que amor! - gás. Não é lindo? (suspiro)

Em outras palavras, poder-se-ia dizer que o pum da bactéria é que faz o pão crescer. Ah, o pum da bactéria... (suspiro)

Desliguei a TV, e fui dormir contando bacteriazinhas. Hoje, bem cedinho, fui à padaria e comprei meia-dúzia de pãezinhos franceses.

Ah, as metáforas da vida... enquanto a Débora saboreia um pão francês de cerca de 80kg, eu me contento esfarelando bactérias - e furando bolhas de pum com os dentes.

Não há nada mais romântico nesta vida.

*Notícia importante: agora, você encontra os pães do Olivier somente nos supermercados Pão de Açúcar!

28 dezembro 2001

Belém abaixo de zero

Hoje estava pensando nas vicissitudes da vida, quando recebi uma carta. Tudo bem, não foi carta - foi e-mail -, mas dizer carta é tão mais romântico. Se me permite a ficção, vou de carta mesmo.

O selo era de Belém do Pará, e o garrancho tinha o sotaque do desgraçado que ficou de telefonar, e nunca mais. Vicissitude usa rabo-de-cavalo - pensei -, e manda carta. Como se isso me bastasse.

Meu filho, feliz ano novo por quê?

Eu acho de uma graça certos homens do Pará. Aliás, alguns rapazes que usam rabo-de-cavalo deveriam pensar, pelo menos duas ou três vezes, antes de enviar e-mails do tipo “corrente positiva” no fim do ano.

Pronto, esculhambei com a minha ficção. Não estou nos meus dias úteis. Não era nem um e-mail pessoal; era amplo e irrestrito. Eis a verdade, dura e completamente virtual.

O sujeito foi passar uns tempos em São Paulo, e foi lá que nos conhecemos. Em território neutro. Essas histórias nunca acabam bem, justamente porque nunca acabam. Não há uma lágrima, uma briga, não há o pé na bunda tradicional. Um belo dia, cada qual retorna ao seu local de origem, e o romance fica parecendo um ponto suspenso no tempo; uma coisa do além, algo que nunca aconteceu, de fato, nesta dimensão.

A tragédia é que o cheiro do xampu dele resiste à Via Dutra, e nem o calor do Rio de Janeiro derrete a minha sádica memória.

Por outro lado, parece-me que os paraenses são seres desmemoriados e insensatos, criaturas geladas que se aproveitam do espírito natalino e ferem o coração dos outros a facadas cibernéticas. E-mail coletivo, a essa altura, já é demais. Cúmulo da frieza.

Pensei em todas as maneiras possíveis de responder à altura ao desaforo; optei pelo seguinte texto:

“Olá, somos gratos pela sua preferência. Aguarde um momento, já lhe desejaremos um feliz ano novo. O seu e-mail é muito importante para nós”.

Se não o Pará inteiro, com essa, espero congelar – no mínimo! – Belém.
Natalzinho bem chuvoso, este. Rio, 24 graus. Pode?

Hoje é o dia. Eu quase posso tocar o silêncio.
Tudo que vai deixa o gosto, deixa as fotos - quanto tempo faz?
Deixa os dedos, deixa a memória - eu nem me lembro mais.


O Panetone não acaba, e tem um vinho italiano na geladeira. Periga eu me
perder no meio daquelas frutas cristalizadas, e acabar até me colorindo um
pouco. Amanhã é dia de batente, mas nem parece. E o vinho é tinto, me
parece. Podiam cristalizar o feriado, também.

Eu fico à vontade com a sua ausência... eu já me acostumei a esquecer.

Sonhei que tocava contrabaixo, enveredava pelos slaps da vida, e três (das
cinco) cordas rebentavam ao mesmo tempo. Inédito! - três cordas do baixo
rebentando juntas. Ainda bem que isso só me acontece em sonho.

7 dias para 2002...

A música que eu tocava - no sonho - era Mercedita. A família Ferrettitocava junto, e o Renato Borghetti fazia uma participação também. Quem
cantava era uma senhora de cabelo enroladinho, pele escura, olhar meio
sofrido. Cantava muito bem, cantava doce.

Depois que praticamente debulhei o meu contrabaixo, fiz cara de decepção,
larguei o instrumento no chão e desci do palco. Parece que um outro
baixista iria me substituir - tinha um Yamaha de 6 cordas, se não me
engano. Mas saí correndo, chorando, parecia que o mundo tinha desabado. Nem
quis ver o fim da festa.

Vai ver eu estava era de olho no vinho tinto, tanto que acordei.

Italiano!!

22 dezembro 2001

O Far Up, ontem à noite, estava ABARROTADO de gente. Foi o último dia da temporada - aliás, que delícia de temporada! Vai deixar saudade.
Pô, Luis, faltou tu... ***

Não vou passar o Natal em família, mas em banda. Não haverá peru, porque a cozinheira aqui é vegetariana, e os outros que engulam a minha pizzazinha bem mais ou menos.
Alguém quer encarar? Aceitamos reservas, até porque a banda é pequena. Tecladistas, percussionistas, sopristas e demais istas serão aceitos - mas só para o Natal. Depois, segue o power trio velho de guerra.
***

Sugestão de presente de Natal: CD do Nei Lisboa - Cena Beatnik. Só tenho ouvido isso e Enya, nos últimos tempos. Ah, e Cesar Passarinho, claro.
***

Ho Ho Ho, a vida é bela. E tenho dito.

20 dezembro 2001

"Não sou o dono do mundo, mas sou filho do Dono."

Acabei de ler essa, num adesivo grudado na bunda de um Golzinho branco. Quase morri de rir. Já conhecia, mas sabe quando te pega de jeito? Tem coisa que pega a gente de jeito, e tem coisa que não pega agora, mas vai pegar daqui a pouquinho. Loucura, isso de pensar em momentos.

Passou o meu espírito suíno. Entrei no clima. Imagine uma mensagem de Natal assim: "UM PUTA ANO PRA VC. Afinal fizemos quase tudo por merecer." Isso não dá uma música?? Tem que ser em acorde menor, pra enfatizar a melancolia do "quase".

Quase é brabo; pior que nada.

Uma balada em ré menor, é isto. Não! Já sei: uma QUASE-balada. Quer coisa que derrube mais do que uma QUASE-balada? Não chega a ser triste, a desgraçada. Tem um quezinho saltitante, lá no fundinho, sugerindo que "hope has a place in a lover's heart".

As quase-baladas sugerem. E as milongas sul-gerem (o que é ainda pior).

Feliz Natal a todos os filhos do Dono do mundo, de coração, em franco ré maior. E que 2002 seja uma nova fase - com MAIS tudo, e MENOS quase.

19 dezembro 2001

Mas nós devemos estar todos muito bem de vida, mesmo, neste país. Sim, porque ninguém mais quer encarar o batente. Estão percebendo?
O Rio de Janeiro, pelo menos, está engarrafado até as bordas. Faz um calor do cão, e o clima é de festa geral, ampla e irrestrita.
"Me liga depois do carnaval" - é a frase mais constante.
Onde é que está a fortuna dessa gente, que eu não vejo? Deus, ainda nem chegou o Papai Noel!!!
Estou indignada, me perdoem a acidez. Nada funciona, tudo é fila, e a gente aqui, latindo para economizar cachorro.
Vou parar por aqui, que vocês já devem estar sentindo que meu espírito está mais suíno do que natalino. Fui. (Trabalhar).

17 dezembro 2001

Estou virada numa marqueteira virtual. Vamos lá.
Pessoal do Rio, essa semana (de terça 18 a sexta 21) tem uma temporada de Ana Lógica no Far Up - COBAL do Humaitá. R. Voluntários da Pátria, 448
- loja 10, sobrado. Tel: 2537-2421.


H o r á r i o s:
Terça, dia 18 : 21:30 h
Quarta, dia 19 : 21:30 h
Quinta, dia 20 : 22:30 h
Sexta, dia 21 : 23:30 h

Apareçam!

16 dezembro 2001

Também, não precisava chover tanto.
(Eterna insatisfeita)

Ontem, no Alternativa Saúde - da Patrícia Travassos -, uma moça chamada Marta Viana, terapeuta metafísica, falava a respeito de TPL: Transmutação dos Padrões de Limitação.
Gente, que coisa interessante.
Segundo ela, o nosso campo energético se forma desde o momento da concepção até os sete anos de idade. O sistema neurológico, idem.
A criança, até os sete anos, é pura absorção. Tudo o que os pais (ou pessoas mais próximas) vivem durante esse período é "puxado" para dentro da criança, e aquilo vai se tornar um bolo energético que acompanhará até o final dos seus dias.
Transmutação dos padrões de limitação, pelo que pude entender, é uma terapia que visa a auxiliar as pessoas a saírem desse vício involuntário que é causado pela repetição eterna dos mesmos padrões de comportamento. Exemplo: o sujeito escolhe sempre as mesmas situações na vida, e se depara sempre com as mesmas dificuldades, sem entender por quê.
A resposta pode estar lá na formação do campo energético, e a solução pode ser a tomada de consciência e a limpeza da aura (as duas coisas estão ligadíssimas).
Tudo isso é interessante, mas não consigo deixar de pensar, acima de tudo, no seguinte: quantas pessoas, no mundo, têm noção da responsabilidade que é criar um filho, muito além de fraldas e convênios com médicos e farmacêuticos?

15 dezembro 2001

O ceú se vestiu de cinza, está fresquinho no Rio de Janeiro. Até venta. Deus ouviu as minhas pressas.
Demorasse muito, acho que eu fugiria para os pampas - como se lá estivesse menos abafado. Não importa. A memória é que refresca.
Ia passar o Natal no sul; não vou mais.
Vai fazer quatro anos que a gente mora aqui.
Quando a gente se afasta, as lembranças começam a aparecer, em série, nos sonhos, em frente ao espelho, nas esquinas, nos cheiros. Lembrei tanta coisa que nem tinha mais importância, achei que não teria cabeça para guardar tanto. Tive.
As novidades vão respingando, dia após dia, mas as antigüidades brotam do subsolo inconsciente, de um jeito quase anti-ético.
Gotas de presente, já notou? Momentos.
Parece que o passado sempre é mais sólido. Brotos de memória.
Besteira, na verdade. Tudo é tão nada sólido... passado, presente e futuro são apenas estados diferentes das mesmas partículas - é só ar.
Vai ver que é por isso, então. Venta no Rio de Janeiro: o arzinho anti-ético resolve balançar os meus cabelos sagitarianos justo nesta época do ano.
E a minha filosofia vive de brisa.
Eu que me vire.

Não resisti. Saudade.

14 dezembro 2001

Acordei com o cara martelando ali em cima. Obras no apartamento. E o sujeito é tão rímtico com a tortura, que eu sonhava com um metrônomo gigante me obrigando a tocar baixo no andamento da canção. Ai, que neura, não posso lembrar.

(Será que esse sonho tem a ver com Saturno - o planeta do tempo -, ou só com o martelo mesmo? Jung explica.)

A esta hora da tarde, o rapaz já está meio descompassado. Deve ter almoçado, vai que tomou até um chopinho, taí, perdeu o tempo. Músico que toma umas e outras, não raro, atravessa tudo.

Tínhamos um baterista, nos tempos jurássicos da banda, que ia atrás das palmas do público. Estivesse o público animado, andava a bateria atrás, a mil por hora, e deixava a banda toda suando para acompanhar. Música de quatro minutos, por exemplo, terminava em dois. E o repertório era curto, de modo que começávamos a repetir tudo, certa feita, quando a coisa apertava.

Vê como são as coisas; sempre se aprende. Foi com ele que aprendi a segurar o ar lá dentro, muito ar, muito tempo. Técnica vocal, que nada. Arrume um baterista desse tipo meio afoito e influenciável, que você aprende rapidinho (literalmente) a cantar uma música inteira respirando só duas vezes: no início e no fim.

E não precisa se preocupar com troca de figurino, porque começa-se a cantar de uma cor (a natural), e termina-se (invariavelmente) azul. Ou roxo, no caso das canções mais extensas.

Acho que o vizinho daquele baterista não fazia obras no apartamento.

13 dezembro 2001

Decidido: o nome do meu cágado é Vi. Ontem ele me veio com essa:
- My name is Vi. Vi Torugo.
***
E o pessoal que faltou ao show da Ana Lógica, na terça, não tem nada a declarar? Só sei que me diverti. No próximo, levo o Vi e coloco em cima do meu amp de baixo. Para ir se acostumando à Vi-bração do instrumento...
***
Ainda não aprendi a inserir um link aqui nesta coisa. Ando muito lenta com essas situações práticas. São as Vi-companhias, desconfio.
***
Que nada. "Tô me guardando pra quando o carnaval chegar" (Chico - o Buarque, claro.)
***
Transmissão virtual de pensamento. Recém reclamei da não-manifestação dos ausentes no show de terça, chegou aqui um e-mail de um ausente arrependido. Fizeste falta. Aliás, fizeste pênalti.

10 dezembro 2001

Estou faceira com as visitas ao meu BiBlog - obrigada a vocês!

Aproveito a deixa, e os convido para o show da minha banda (Ana Lógica), amanhã, terça-feira, no Far Up - Cobal do Humaitá, Rio de Janeiro. R. Voluntários da Pátria, 448 - loja 10, sobrado. Tel: 2537-2421.
O show começa às 21:30, cedinho mesmo.

Convém reservar uma mesinha, tá?

Não deixem de falar com esta baixista/vocalista que aqui escreve.

Para o pessoal que sempre me pergunta sobre o site: a Ana Lógica ainda não tem site, mas já tem a equipe que eu pedi a Deus. Estamos aguardando o projeto gráfico do CD, essas coisas são assim mesmo. Creio que, em breve, abriremos as portas virtuais, e serão todos muito bem-vindos.

Diquinha de hoje: www.carlosmaltz.com

09 dezembro 2001

Não sei se foi a Enya, na vitrola, ou aquele mamãozinho bem maduro e doce que eu achei na volta da praia. Ou será que foi o clima, mesmo?

O fato é que há alguma coisinha muito boa pairando sobre as nossas cabeças. Passamos o ano todo trabalhando; passou voando. Agora eu me pus a curtir um pouquinho, com mais responsabilidade, dar um solavanco nas idéias e tomar consciência da dinâmica do universo.

Nada como um bom dezembro no Rio de Janeiro, com o sol queimando a cuca e derretendo os conceitos criados até novembro.

Como é que pode, o mamão deixar de ser verde? - por exemplo. Se tem fruta amadurecendo, também tem cabelo mudando de cor, e também tem unha crescendo, isso deve ser algum sinal muito expressivo da natureza. Do tipo: pega a tua pranchinha, e te deixa levar.

Mania que a gente tem, às vezes, de querer ancorar em qualquer ponto do tempo ou do espaço, fincar os pés, e achar que é durão. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Confundir estabilidade com mesmice: sou assim, e pronto. (Para não ter o trabalho de mudar?)

"O tempo é infinito; a cronologia é que é limitada".

Cronologia é querer contar com quantas chegadas do Papai Noel se faz uma canoa, ops!, uma vida. Tempo é o marzão imenso, infinito. Não existe um número certo de Papai Noel; aliás, a contagem do bom velhinho só faz dar peso à canoa, e é assim que muita gente acaba afundando.

Imagine um Papai Noel, louco de faceiro, surfando em cima de uma prancha enorme, numa onda do Hawaii. Observar o tempo sem se prender à cronologia. Perceber o amadurecimento do mamão, e utilizar isso a favor: vou comer exatamente quando estiver mais doce.

Sem fazer força nenhuma, dá para sacar a hora mais doce de tudo na vida.

O CIO DA TERRA - Milton Nascimento e Chico Buarque
Debulhar o trigo
Recolher cada bago de trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, propícia estação
De fecundar o chão.

05 dezembro 2001

O Luis Saguar sugeriu Torugo.
Torugo, Luis?
E não é que é um interessante nome de cágado budista com dupla personalidade? Gostei da sugestão!
Alguém dá mais?

04 dezembro 2001

Vamos dar nomes aos cágados.

Ganhei um cágado de pelúcia - presente de aniversário -, e o bicho ainda não tem nome. Mas o pior é que a Melissa, que me deu o cágado, diz que quem tem nadadeira e olho puxado é tartaruga, muito tartaruga - e não cágado.

Tentei convencer o animalzinho, mas está difícil. Ele diz que é um cágado, ele acha que é um cágado, e pronto, e ainda argumenta que o olho puxado é questão de origens orientais. Cágado budista, ainda por cima.

Alguém tem sugestão de nome para o meu cágado? Se tiver, por favor me mande por e-mail - bdapieve@centroin.com.br

Não posso continuar dormindo com um cágado anônimo.

02 dezembro 2001

Com todo respeito à cutícula


Bíbi Da Pieve


Sabe a cutícula? Eu fico pensando.

Depois dizem que eu penso demais, mas a cutícula da gente é coisa de se
pensar, não é? O nome já diz: cu-tí-cu-la. Veja bem!

Toda proparoxítona tem um quezinho de não-me-toque: prótese. Apêndice.
Mesóclise. Átila (nome próprio, então, chega a ser metido a besta, mesmo).

Úrsula Ávila. Já imaginou o tamanho da perua? E a cutícula dela, então?

Eu acho uma falta de respeito, fora de brincadeira, a pessoa querer mexer
na cutícula alheia. Cutícula é coisa muito pessoal. Não bastasse, ainda
inventaram uma ferramenta de nome insultante: alicate de cutícula. Absurdo.

Alicate, no meu tempo, era para cortar arame, fazer cerca. Vê lá se a mão
do rapaz que lidava com o alicate iria ter tempo de criar intimidades com
cutículas e demais proparoxítonas pedantes?

A cutícula é algo só da gente; não tem de haver uma segunda opinião. As
pessoas estão se perdendo um pouco nos termos, e até nas vias de fato. Não
se pode nem querer privacidade entre a própria unha e a carne, que o
sujeito já é considerado grosso, anti-social.

Onde raios está escrito que eu devo permitir que me cutuquem a cutícula
com um alicate que eu nunca vi mais gordo? Para seu governo, o último
alicate que me invadiu os dedos arrancou sangue, e não estou de brincadeira.

Assim é que a situação vai degringolando. O povo vai permitindo. Depois do
alicate de cutícula, aparece um martelo de sobrancelha, como quem não quer
nada. Quando vê, pregam a sua língua no céu da boca, e não adianta nem
abrir o berreiro - que é tétano na certa.

No afã de evitar uma corrosão generalizada é que eu imploro: cuidem muito
bem das suas cutículas, e tirem o olho da proparoxítona do vizinho.

Úrsula Ávila, por exemplo, se não fosse para ser tão pomposa, teria
nascido Berê, Cacá, ou outra oxítona qualquer. Cutícula, da mesma forma -
se não fosse coisa séria, teria vindo ao mundo com outro nome. Talvez cocô.

No mais, cada qual que se entenda com suas próprias tônicas, acentuando o
que achar que deve, e se identificando com a sílaba que lhe sorrir mais
simpática.

De minha parte - com todo respeito às cutículas dos dedos e às Úrsulas da
vida -, sou muito mais o bom e acessível cocô da Berê.

Eu estava me referindo a www.renatoborghetti.com.br
Ainda não estou me entendendo suficientemente com esta máquina...
É uma sacanagem, mas vá lá:
Tudo muito bonito, mas é a terceira vez que eu me levanto da cadeira num pulo, empolgada, e não consigo sequer concluir o giro da prenda. Fala sério, a introdução da página é bem intencionada, mas passa muito rápido, pô!!!
Quem é o webmaster do gadelhudo?
...
Mas visitem, visitem.
Este é um Blog de varaliedades não vestíveis.
Varaliedades são variedades penduráveis no varal (vide figura acima).
O que difere varaliedade de roupa molhada é que a roupa, quando seca, é vestível.
Varaliedade, não. Quando seca, é feito folha de árvore: cai.
Penduro aqui todas as varaliedades que julgo blogáveis, dizíveis, tragáveis (ou nem tanto assim).
Uma vez que cai no chão, tudo é confundido com esterco mesmo - o que muito me agrada, porque é sinal de renovação. Na natureza, tudo se transforma.
Minhas varaliedades não vestíveis são, como toda cousa deste mundo, totalmente merdáveis.
E viva as leis da natureza, meu rei.

01 dezembro 2001

Valeu, Me!!!!!
Agora só falta me ensinar a colocar figura (foto) aqui... tou tentando há tempos, mas não consigo. Sabes?
Gente, vam'colaborar.
Aceito dicas de sites, com flash e musiquinha. Agora estou podendo.
Está um dia cinzento e delicioso no Rio de Janeiro. Chega de derreter os gaúchos, né, Pai do céu?
(Té parece)
Não estou para muita conversa, minha irritabilidade está batendo lá no teto, e não é nem TPM.
Gente, vam'colaborar - já disse.
Ontem ouvi aquele disco do Renato Russo cantando em italiano, que transforma irritação em choradeira, e depois entrei no carro, a luz da (falta de) gasolina acendeu, a choradeira se transformou em preocupação, saí na rua, a preocupação se tranformou em medo, parei no sinal, o medo virou pânico, gritei, o coiso ficou verde, acelerei, o grito sentiu o vento batendo na minha testa e se transformou em música. Inevitável.
Cantei até chegar em casa. Em italiano - equilíbrio distante. Idioma desconhecido. Mico. Mas o carro é meu, a goela é minha, tá olhando o quê?
Se eu botei gasolina?
Me dá o dinheiro, que eu ponho.
Tá olhando o quê, ainda, cara-pálida?
Esperando eu concluir o texto?
Tó, conclusão:
eu acho que a irritação é mera questão de falta de combustível, a bem da verdade. E o Renato Russo é um furo no tanque - só faz pingar mais ainda.
Desperdício?
Desperdício é andar por aí sempre com o tanque cheio. Cadê graça? E cadê ar???
Muito preenchimento sufoca. Tem de haver uns buracos. Lágrima e gasolina, é tudo combustível. Tem de vazar.
Precisando de uma traça, Renato Russo é o que há.
Fui.