14 dezembro 2001

Acordei com o cara martelando ali em cima. Obras no apartamento. E o sujeito é tão rímtico com a tortura, que eu sonhava com um metrônomo gigante me obrigando a tocar baixo no andamento da canção. Ai, que neura, não posso lembrar.

(Será que esse sonho tem a ver com Saturno - o planeta do tempo -, ou só com o martelo mesmo? Jung explica.)

A esta hora da tarde, o rapaz já está meio descompassado. Deve ter almoçado, vai que tomou até um chopinho, taí, perdeu o tempo. Músico que toma umas e outras, não raro, atravessa tudo.

Tínhamos um baterista, nos tempos jurássicos da banda, que ia atrás das palmas do público. Estivesse o público animado, andava a bateria atrás, a mil por hora, e deixava a banda toda suando para acompanhar. Música de quatro minutos, por exemplo, terminava em dois. E o repertório era curto, de modo que começávamos a repetir tudo, certa feita, quando a coisa apertava.

Vê como são as coisas; sempre se aprende. Foi com ele que aprendi a segurar o ar lá dentro, muito ar, muito tempo. Técnica vocal, que nada. Arrume um baterista desse tipo meio afoito e influenciável, que você aprende rapidinho (literalmente) a cantar uma música inteira respirando só duas vezes: no início e no fim.

E não precisa se preocupar com troca de figurino, porque começa-se a cantar de uma cor (a natural), e termina-se (invariavelmente) azul. Ou roxo, no caso das canções mais extensas.

Acho que o vizinho daquele baterista não fazia obras no apartamento.