19 setembro 2002


Sofro também de falta de jeito. Queria ter o tato, o papo certo, o andar, o mover, o mostrar preciso.

Mostro pouco, e ainda assim sai meio torto.
Morro, mas não peço socorro.

É minha falta de jeito, defeito que adia meu sucesso, tanto o das notas, quanto o das bocas que beijo – cá do meu semijeito, sempre com receio do novo que surge do perfume do amor-perfeito.

Eu sofro de mim mesma; corro contra o tempo, esbarro na impossibilidade da arte, na audácia do texto, na lerdeza do “penso”. O “sinto” vem sempre antes, apressado e sem talento, trazendo o sofrimento e me lembrando da falta de jeito, essa que eu trago entre muita rima e pouco ato - é muito papo, é muito papo.

É minha falta de jeito, de me perder nas linhas, de pontuação precipitada e definição equivocada. Gramaticalmente até funciono; o que reclamo é além-texto, entende, é quando esbarro lá no infinito e alguém me acorda, no grito, pedindo um cigarro ou bebida.

Dizem que é a vida.

Sofro, garanto, mas também não é pra tanto. O que me anima é aquilo que respinga, o inesperado.

Volta e meia, dou uma mirada, mesmo de revesgueio, e – pasme! – acertei bem em cheio!