20 outubro 2002

EU, SEM BOLA

Boa tarde, moçada. O Rio de Janeiro está escaldante, e dizem que, no sul, chove que Deus manda. Aqui Deus manda nas eleições, e o chifrudo manda no tráfico. Mas isto não interessa no momento, vim falar de coisas boas, estou de muito bom humor, e o Mano já está chegando com o sorvete mesmo.

Passo na praia e morro de vontade de jogar BOLA - poderia ser vôlei ou futebol -, mas me falta a companhia. Vejam como uma sagitariana com mania de auto-suficiência pode quase tudo na vida, mas, o mais importante, não pode: jogar BOLA. Ando com esta fixação. Não estranhem se me virem, dia desses, a jogar BOLA na parede, empolgada e saltitante, ainda gritando “deixa que eu chuto!!!” e xingando a mãe do juiz.

As pessoas que eu conheço não jogam BOLA, e isto me deixa assim, a me sentir só, acorrentada a um futuro meio insosso, um futuro sem BOLA e sem apito. Imaginem uma pessoa que não pode jogar BOLA. Esta sou eu.

Outra, outra da solidão. Lembram-se do show do Pepeu, sim? Pois trouxe, do bar, vários papeizinhos – guardanapos, na verdade -, que me serviam de conforto enquanto o Pepeu não aparecia para cantar que também queria beijar. (A propósito, já descrevi aqui a BOCA do Pepeu? Só de pensar, já me esqueci dessa besteira de jogar BOLA. Há tanta coisa melhor por aí, ora, bolas!).

Transcrevo, aqui, fielmente alguns dos meus rabiscos daquela noite solitária:

Guardanapo UM:

Essa gente da arte é que paga o pato
é quem sofre o impacto
e, se pisa em falso, não se cansa:
segue reto, certa de que a vida
não carece de convicção.
Com a graça de Deus,
À fé não interessa razão.


Guardanapo DOIS:

Essa gente da arte é de pouco papo
é quem sente o atrito
e, se vê o perigo, não se assusta:
segue em frente, certa de que a vida
desconhece a previsão.
Com a graça da fé,
a Deus não interessa razão.

Guardanapo TRÊS:
Uma menina com a cara e o jeito da Melissinha na produção de um show... é BÁSICO. Se não houver, boa coisa não é.

Guardanapo QUATRO:

Escrever é como dialogar com as próprias entranhas, com a vantagem de que elas não têm direito de resposta. (Ou será que têm?).
O que está entre parênteses é de autoria das entranhas, evidente.

Guardanapo CINCO:

Todo artista tem uma dívida que não será sanada nesta vida.

Guardanapo SEIS:

O perigo do verso não é o conteúdo, mas os filhos que o conteúdo jogará no mundo, irresponsavelmente.

Guardanapo SETE:

Nada há de mais romântico, no mundo, que um baixista semi-careca, vestindo preto desbotado, a dedilhar melodias inusitadas, apaixonadamente, jamais desrespeitando a HARMONIA. (AMORnia?)
Olha as entranhas, olha as entranhas...


Era isso, por hoje. Vou ao sorvete, beijocas geladas a todos e a todas que me aturam virtualmente.