29 maio 2003

Rio, 18 graus


Dias “frios” no Rio de Janeiro. A cidade fica com um ar melancólico que eu, particularmente, aprecio mais do que aquela gosma quente que se forma sobre tudo e todos no verão, sol derretendo a moleira, senhorinhas gordas suando e disputando espaço à sombra das marquises, com suas sacolas cheias de frutas, desodorantes vencidos, a fala arrastada, o olhar perdido, os assuntos de sempre - que o filho, que a vizinha, que o marido...

No inverno, não. No inverno, o Rio é menos escaldante, menos seboso, menos atormentado. As senhoras vestem um agasalho e vão, no máximo, até a varanda tomar um chazinho com biscoitos. O marido fica achando que o agasalho é exagero, e ela nem revela, mas gosta mesmo é porque esconde um pneuzinho ou outro, aí o biscoitinho desce com menos culpa – algumas pensam “menas culpa”, e até dizem.

É tempo de muito vento na praia e ressacas no mar. Que coisa boa caminhar no calçadão sem o ininterrupto anúncio da goela do vendedor de biscoito Globo! E os engarrafamentos de fim de semana?

À noite, as boates recebem moças mais bem vestidas e maquiadas. A Lapa recebe os mesmos boêmios, que bebem a mesma caipirinha, que ouvem o mesmo chorinho, que batucam nas mesmas caixinhas de fósforo, mas é tão diferente: na volta para casa, o ar fresco da madrugada deixa tudo mais poético. Rola até um chapéu.

Os cariocas podem odiar esta época do ano, mas é quando a beleza estonteante do cartão postal está fazendo as unhas e colocando rolinhos no cabelo... Para que o sol volte a brilhar no próximo verão.

No inverno, o Rio de Janeiro continua lindo.