23 março 2003

NÃO PERCAM PAULA SCHÜTZE

O texto a seguir eu encontrei no (imperdível, necessário e vitaminado) blog da Paula

Pelos comentários que ela recebeu no blog, notei que muita gente “captou”, mas muita gente não sacou, de fato, o que ela quis dizer com essa gracinha de texto.

A Paula tem 25 anos, como eu. No entanto, dificilmente a gente encontra na internet algum escrito que realmente soe como “era isso que eu queria dizer, mas nunca consegui!”. Isso é raríssimo.

A Paula escreve sobre relacionamentos muitíssimo melhor do que eu, e tem uma sensibilidade misturada ao humor fino que acaba comovendo, ao mesmo tempo em que dá um “tapa na cara” sutil – embora claríssimo!
É por isso que eu deixo vocês com ela hoje, e me calo em absoluto consentimento. Inclusive quanto aos brócolis!
Divirtam-se.

***

E isso passa na televisão

(Paula Schütze)

Ei. Alguém assistiu “Globo Repórter” hoje? É o tipo de programa que só se assiste quando o assunto é realmente interessante- a menos que você seja um ativista do Greenpeace e queira saber tudo sobre lontras, dromedários, animais marinhos e vida silvestre.

O assunto em questão? Loucuras de amor. Histórias cinematográficas demais, como a da paraibana que casou pelo celular com um cara de Foz do Iguaçu. Nada daquilo me pareceu familiar, embora eu desejasse lá no fundinho que alguém fizesse por mim uma loucura, mesmo que fosse mais plausível, palpável. Como as flores que eu costumava receber nos tempos de cursinho, CD´s personalizados na época da faculdade. Cartões. E-mails. Fotos. Hoje eu considero tudo isso loucura. Ninguém mais faz; achei que fosse comigo. Mas eu também parei de fazer coisas pras pessoas há algum tempo.

Tá todo mundo muito sozinho, todo mundo se lamentando, todo mundo trabalhando o dia todo, querendo chegar em casa e encontrar uma pequena surpresa. Ou ser acordado 5 minutos após pegar no sono por uma ligação breve, mas importante: “liguei pra te dar boa noite”. Assim, todas as noites seriam inevitavelmente boas.

É, tá todo mundo sozinho. Eu estou sozinha, tenho dúzias de amigas e amigos sozinhos. Tem gente anunciando no jornal, em blogs, no rádio que seja: não quero mais ficar sozinho. Mas, de fato, fico perplexa quando descubro, todo dia, que na verdade só queremos mesmo... continuar sozinhos.

Não existe mais paciência, petulância, insistência, conquista. É oito ou oitenta, você tem que me amar agora ou eu vou me cansar de você em dois tempos e dizer que a nossa história já não é mais a mesma. Tchau.

Eu quero um compromisso, como se amanhã fosse bater à porta da minha casa o cara perfeito, do tipo que “me compra brócolis”, me liga no final do dia, e - ainda por cima!!!- suporta minhas variações de humor. Admito, eu não tenho feito grandes esforços pra encontrar as pessoas certas, ou pra entender as erradas.

Ninguém tem feito. Ninguém faz nem ao menos sua própria parte. E isso poderia ser uma colocação das mais piegas, do tipo: vejam só, este mundo está perdido, estamos todos fadados à solidão. Morreremos- novamente- sozinhos numa cama quentinha, como a velhota do Titanic. Mas até aquela uva passa tinha uma história de amor pra contar.

Todos querem contar histórias de amor, arranjar alguém que sossegue essa coisa que fica ululando dentro do peito. Mas para o momento, sempre parece mais interessante viver uma vida louca, desregrada, pontuada por histórias de sexo, drogas e rock´n roll. Dizer que passou o final de semana embaixo das cobertas é final de carreira quando, na verdade, poderia ser só o começo.

Tudo porque alguém – quem? – resolveu convencionar que relacionamentos perfeitos acontecem entre pessoas perfeitas e nos levam, invariavelmente, a uma imensa e inestourável bolha de sabão que nos isola do mundo. Se você namorar alguém, vai ter que viver só pra isso, esquecer dos amigos, das festas e dos momentos em que gosta de ficar sozinho no quarto olhando pro teto.

Quem inventou isso, hein, quem?

Quem foi que disse que a mulher da sua vida nunca tem sono, nunca fica bêbada, quer fazer sexo no quarto encontro e- além de tudo- fala aberta e tranqüilamente sobre tudo o que sente?

Quem foi que disse que o homem da minha vida obrigatoriamente tem cabelos desgrenhados, gosto musical apurado, me faz rir e sabe cozinhar?

Eu acho que deve ser por isso, por essa insistência atrás de uma perfeição (que não existe), e, principalmente, pelo nosso hábito de sair julgando e condenando todo mundo que pisa na bola assim ou assado, que estamos, definitivamente, fadados a morrer numa cama quentinha, acometidos pelo mal do século: vazio. Sem história alguma pra contar.

trilha sonora: Goo Goo Dolls- Black balloons

22 março 2003

Buenas, macacada! Cá estou de volta, medicada, recuperada, equilibrada, equalizada, normalizada, mixada e masterizada. Perdoem meu vocabulário fonográfico; é que me sinto, uma vez recauchutada, mais próxima aos prazeres (musicais) da vida.

Por outro lado – o de cima? -, chove que Deus manda aqui na cidade maravilhosa. Falta muito pouco para que a pracinha aqui em frente se transforme num modesto parque aquático, coisa que me daria muito gosto, aliás, pois há tempo venho medindo o tamanho daqueles balanços com minha utilíssima capacidade de abstração espacial, e, não raro, chego à mesma enfadonha – porém honesta - conclusão de sempre: ou diminuo a bunda, ou alguém aumenta o balanço. Caso contrário, minha possibilidade de lazer se mantém zerada.

E não é justo, pois pago os impostos.

***

Por falar em bunda, vocês devem ter ouvido falar naquela que, de fato, inaugurou uma cena de “reality show” no manjado Big Brother Brasil. Não souberam?

Pois uma cantora cearense, farta dessas frustrações típicas de todo músico brasileiro (ensaiar e não apresentar, compor e não gravar, gravar e não lançar, fumar e não tragar, etc), achou um meio de “protesto”: durante a exibição do BBB, ao vivo, ela tirou o vestido e correu peladona em direção ao Pedro Bial. Minto, só de tapa-sexo – segundo nos informava O Globo no dia seguinte.

Uma coisa boa: finalmente, apareceu uma cena de realidade no show de realidade da Globo.

Uma coisa duvidosa: acho que essa moça deve estar vivendo noutro tempo. Tudo bem que queira protestar, mas, tirar a roupa? O que há de “punk” nisso, hoje em dia?? Revolucionário, sim, seria se ela fosse agarrar o Bial, sei lá, com uma batina até as canelas. Ou, melhor ainda: que fosse agarrar uma mulher!!

Para um ato rebelde, tirar a roupa me soa tão “nos conformes”... não vale.

***

Mudando de assunto, minha cunhada hoje fez uma lasanha de frango. Di-vi-na. Detalhe: no lugar do presunto que constava na receita original, usou peito de peru defumado. Só porque eu não como carne vermelha.

Calei a boca. Nunca mais falo da fantasia “de Zein” dela.
Hehe.

20 março 2003

NOTÍCIAS

Desculpem! Segunda-feira eu peguei uma chuvarada na rua, passei muito tempo com roupa e tênis molhados, entrando e saindo de lugares com ar condicionado, suando e passando frio... pronto! Uma gripe danada me derrubou, e não saí da cama até hoje de manhã.

Estou melhorando, já sem febre, mas ainda não tenho muita disposição para ficar aqui em frente a essas letrinhas... sorry! Volto em breve, assim que der.

Beijos e saudades.

13 março 2003

JOGUEI FORA

Esmaltes secos, brincos sem par, pomada para tendinite vencida, revistas velhas, Guia do Músico 2001 (sindicato), embalagens vazias, pedrinhas que guardei como lembrança de algo que já esqueci (truque falhou), chaves de cadeados que não tenho, recortes de jornal de cursos que nunca fiz e restaurantes que nunca freqüentei, anéis de gosto duvidoso, cacarecos de cabelo com defeito (os cacarecos, não o cabelo), versos mal feitos (meus, claro), listas de compras que já comprei, já usei e já gastei, guardanapos de avião com frases cujo significado expirou, notas fiscais amareladas, cartões de visita não visitados, grampos enferrujados, objetos decorativos inclassificáveis e muita, muita poeira.

Amanhã vou para a gaveta de roupas íntimas. Mas prometo não entrar em detalhes.


SONHAR COM O CAVALO

Noite dessas eu sonhei que tinha um cavalo. Fiquei pensando.
Sonhar com o cavalo. (...)
Seria porque cansei de sonhar com o príncipe?


OLHA O PASSARINHO

Hoje eu vi um passarinho que era o passarinho mais lindo do mundo. E não era verde.
Era um bichinho pequeno, talvez pouco maior que um beija-flor - não que eu entenda de pássaros, mas imagino. Branco e preto, design perfeito, bico delicado, asinhas apressadas, vôo preciso, pouso certeiro. Uma poesia de ave, eu diria. Com métrica e tudo.

Eu vinha andando pela rua, entretida com cálculos mentais de vencimentos, juros e dívidas, quando aquela preciosidade cruzou meu caminho. E estacionou sua beleza incalculável numa folha comprida que se deitava pela calçada.

“Olha o passarinho” – pensei, mudando de assunto com meus botões financeiros. “Olha o passarinho”, repeti a eles.

Minha testa finalmente soltou um pouquinho a ruga do meio, mas nem durou muito. Logo aquele versinho alado alçou vôo rumo a outra endividada qualquer, decerto para lhe dar o mesmo recado que deu a mim.
Que a beleza existe para quem está disposto a dispensar, por uns segundos, os seus próprios botões e umbigos.

11 março 2003

NOVIDADE

Ontem eu ouvi na Rádio Globo: uma pesquisa americana revelou que crianças e jovens que costumam assistir a programas de tevê com cenas de violência explícita têm maiores chances de se tornarem adultos agressivos.
Não brinca!


AZEITONA DA EMPADINHA

Por falar em violência, a advogada do Fernandinho Beira-Mar quer bater um papo com o nosso Secretário de Segurança, Josias Quintal. Diz que o detento não está satisfeito com aquelas condições (?) em que se encontra, tampouco com o estado (geográfico) onde está encarcerado.
Ela ainda disse que o pobrezinho anda muito magrinho. Claro, não está acostumado à comida que servem a presos; aqui no Rio, ele mandava buscar no restaurante. Lá, não tem essas mordomias, ora, que absurdo.
Eu fico pensando no que mais deveria vir dentro daquela marmita... ou, por outra: imaginem o tamanho da azeitona da empadinha do Beira-Mar!


EM VÃO

Ontem, primeira segunda-feira após o carnaval, o RJ TV exibia uma reportagem sobre esse “início informal do ano”. O repórter foi às ruas entrevistar as pessoas, que, na maioria, mostravam-se indispostas ao reinício da labuta.
O mais engraçado foi um cidadão que revelou, diante da câmera, com cara de malandro carioca:
- Estou dando uma fugidinha do serviço, né, que ninguém é de ferro...

O repórter:
- Ah, é? Passeando, em pleno expediente?

E o fujão, olhando para os lados:
- Ssssshhhh... fala baixo!!!



LEBLON GLACIAL

Um termômetro marcava, ontem, na Delfim Moreira, 29 graus. Negativos.
Depois, a doida sou eu.


CUNHADA I

Ela chegou na academia, e o professor perguntou qual era o seu objetivo. Longe de bordões como “definir a musculatura” ou “criar gominhos na barriga”, sentenciou:

- Quero ficar com a bunda lááá na nuca.

Ontem ela ia saindo e eu dei uma olhadinha. De fato, subindo.


CUNHADA II

No carnaval, passou uma semana anunciando que ia de Jade.
Trancou-se no quarto para se produzir, pensei: isso vai demorar uma eternidade.
Deu nem cinco minutos, saiu. A Jade dela era modesta. Eu diria que, além das roupas íntimas, havia meia-dúzia de fiapinhos dourados.

Avisei que aquilo não era fantasia de Jade; era de Zein.
Zein nada.
Hihi.

10 março 2003

MUNDO PEQUENO

Fiquei boba.
Werner Schünemann, no Faustão, recebendo homenagens de antigos amigos, parentes, aquela coisa. De repente, aparece o Tio Lauri!
Tio Lauri era uma das figuras folclóricas do Colégio Sinodal, onde estudamos – meus tios, meu irmão, eu, e... Werner Schünemann!
O galã não era do meu tempo, claro. Mas o Tio Lauri pegou o tempo dele, tanto que estava lá, diante da câmera, tecendo comentários sobre a época em que o nosso Bento Gonçalves era aluno interno. Interno! Imaginou?
E eu só cheguei ao colégio vários anos depois.
Sempre atrasada...


GUSTAVO DOS MEUS SONHOS

Essa é boa. Sonhei que eu tinha um cavalo, o Gustavo. Juro.
Meu irmão sugeria que eu fosse de ônibus, mas eu insistia que Gustavo e eu daríamos conta de atravessar a ponte Rio – Niterói, numa boa.
E fui de Gustavo, mesmo. Mas, antes, passei num shopping para almoçar. No estacionamento, quis deixar Gustavo na mão de um manobrista, que me olhou torto:
- Mas o que é isso?
- Não é “isso”, é o Gustavo. Pode manobrar, que ele é “relax”.
- Eu não vou manobrar um cavalo!
- E por que não? Ele é um meio de transporte como outro qualquer!
- Ah, mas não é mesmo! Eu não sei dirigir isso! E não sou pago pra manobrar cavalo, minha filha!
- Então eu vou entrar com o Gustavo. E vou dizer que foi o manobrista que mandou.

Nisso, eu ia empurrando as rédeas na barriga do manobrista, e ele recuava. Gustavo, impaciente, acho que já sonhava com um milk shake do Bob’s, quando o moço finalmente se decidiu:

- Olha, o máximo que eu posso fazer é arrastar esse bicho daqui e amarrá-lo num poste.

Eu fiquei ofendida:

- O Gustavo não se arrasta, que o Gustavo não é minhoca, é um cavalo. O Gustavo anda. E me dá o Gustavo aqui, que eu já perdi a fome com essa sua má vontade.

E fomos para Niterói. Gustavo e eu.


NOVELA DAS OITO

1. Está tudo muito bem, mas... o Expedito não vai abrir a boca??

2. Li no Globo que aquele colégio é um clube que fica aqui no Recreio. Que luxo.

3. Está bem, o padre é charmoso, mas não acho lá isso tudo.

4. Sabe o Fred, que vai ser aluno e ter um caso com a Helena Ranaldi? Pô, hein? Tudo bem, a professora se interessar pelo aluno muito mais moço... mas, com aquela carinha de bebê Johnson? Valha-me Deus, que coisa mais pedófila!

5. José Mayer só tem interpretado homens mal humorados. Se ele for assim de verdade, serei obrigada a dispensá-lo. Não queria, mas...

6. Rodrigo Santoro é mesmo um escândalo. Mas ainda não é o Capitão Rodrigo.


ORLA QUE COISA MAIS LINDA, MAIS CHEIA DE GRAÇA

Vou deixar de conversinhas, que já são 7h, está na hora de eu me arrumar para dar uma banda de busão até o Catete. Quem não tem Gustavo...

Vamos contornando a orla – Barra, São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo. Daqui até lá, vou agradecendo a Deus pela companhia e por morar dentro de um cartão postal.

Beijos, mãe. Estou bem.

08 março 2003

O QUE HÁ NO MEIO?


Nunca vou me esquecer da minha avó dizendo que não ficava bem, para uma mocinha, sentar-se de pernas abertas. Mesmo que eu estivesse usando calça ou bermuda, como quase sempre, ainda assim era “feio” me espalhar na poltrona daquele jeito; uma perna lá, outra cá.

Mas, por quê? Porque é feio, e pronto.

Para uma criança de seis anos, feio significa – literalmente – feio. Então eu comecei a procurar, afinal, o que havia de tão feio ali no meio. O problema estava ali, entre as pernas, era evidente. Entre as pernas das moças.

O meio era o buraco do xixi, coisa que todo mundo tinha, exceto os meninos. Sim, porque o buraco dos meninos era muito outro, percebia-se.

Coisa que me fez pensar foi, justamente, por que motivo os meninos podiam se sentar do modo como bem entendessem, se o “meio” deles era muito maior que o nosso. Não deveria ser o contrário, então?

Não. O nosso meio era mais feio, estava decidido. E se endireite nesse sofá.

Fomos crescendo, assim, escondendo os meios. Contudo, os meios deles estiveram sempre muito à vista, sem problemas. Andavam, livres, balançando os meios. Coçando!

E foi de tanto escondermos os meios, imagino, que resolvemos revolucionar de vez aquela política injusta: fomos para a televisão e balançamos também nossos meios, nossos seios, nossos tudo. E ninguém reclamou, ninguém achou nada de feio. Muito estranho.

Minha avó não está mais aqui para conferir, mas as mulheres da minha idade, e até mais novas, e até muito mais velhas, estão por aí, digamos, um pouco desacomodadas na poltrona. E ganham bem para isso!

Muito bem, estamos quites. Homens e mulheres têm o mesmo direito de expor seus próprios meios, está ótimo, maravilha. O problema não é mais esse.

A confusão, agora, alastrou-se para as extremidades - pobres mazelas da constituição humana, hoje tão esquecidas e discriminadas. A supervalorização dos meios, sobretudo os femininos, desencadeou uma baixa nos valores menos balançáveis. Em outras palavras, a vida anda difícil para aquelas que não têm meios tão perfeitos, ou, por outra, que não desejam se sentar lá muito relaxadas nas poltronas.

É direito de cada uma, convenhamos, dar o destino que melhor lhe convier a seus atributos, estejam eles localizados onde estiverem. E ninguém tem nada a ver com isso. Mas, seria ótimo se houvesse um certo equilíbrio na distribuição das peças.

Nossos meios estão mui bem representados, fazendo-nos dar de cara, queiramos ou não, com vários latifúndios glúteos espalhados pelas ruas, dia e noite. Muito me orgulha que as mulheres tenham, enfim, conseguido liberá-los. As extremidades, contudo, carecem de representação. Acho que embolamos o meio de campo.

Por exemplo: outro dia, um repórter entrevistava uma moça de meios bem dotados e perfeitos, quando disparou a pergunta:

- E agora, você vai fazer o quê? Pretende lançar um CD?

Eis o equívoco. Alguém deveria dizer àquele jornalista que, não, os meios não compõem, tampouco cantam. Aquela belíssima moça jamais esboçara idéia alguma de se tornar uma artista da música – até porque, diferente do que muitos imaginam, ninguém se torna artista do dia para a noite. Por mais que tenha “meios” para isso.

Enquanto ninguém vier a público esclarecer que as extremidades femininas continuam atuantes e trabalhadoras como nunca - apesar dos meios, muitas vezes, fingirem-se de extremos para ganhar em dobro -, a distorção dos valores persistirá. E teremos superexposição dos meios, enquanto os extremos seguirão marginalizados.

A situação é grave, mas reversível. Acredito que melhores tempos estejam a caminho.

Assim, não precisaremos chegar ao cúmulo de pedir que nossas netas sentem-se com as pernas cruzadas sobre a cabeça, a fim de esconder o intelecto – afinal, não fica bem para uma mocinha...



P.s.: Parabéns pelo dia da mulher.

06 março 2003

COISINHAS CAPILARES


Eu preciso de um boné para proteger os cabelos do sol. Mas nunca compro um boné, afinal, boné a gente sempre ganha por aí.
E cadê que eu ganho um boné?

Outra coisa urgente é escolher, afinal, qual vai ser a próxima cor das minhas madeixas. Mesmo sabendo que aquele xampu tonalizante dura só uns quinze dias, não consigo me decidir por nenhuma cor. Ando com mania de não definir as coisas por medo de elas se tornarem definitivas demais.

Tudo bem que nunca fui lá muito boa do juízo.
Mas, mesmo sabendo que sai COM ÁGUA? Está demais.

Tenho um “preto ébano” aqui em casa, que eu comprei na farmácia, mas nunca tive coragem de usar. Minha mãe me põe medo: “não vai ficar preto demais, hein?”, depois disfarça: “ah, tudo bem, experimenta... sai em quinze dias, mesmo!”.

Desde que ela me veio com essa, por telefone, antes ainda do Natal passado, fiquei com a pulga do ébano atrás da orelha. E não tingi.

Está bem, confesso que o meu maior problema nem é com o cabelo em si; é com a porta do banheiro. Jogo a cabeça para frente, para espalhar a tinta na parte de trás do cabelo. Depois, jogo a cabeleira para trás.

A porta do meu banheiro, antes branca, está cheia de riscos coloridos – que vão do “vermelho intenso” ao “terra”.

Meu irmão entra e pergunta:
- O que é isso na porta do banheiro??

Como eu sempre coloco a culpa – de tudo que acontece de ruim nesta casa - naqueles toquinhos de barba que ele cisma em polvilhar pela pia branca, respondo:
- Isso aí é da tua barba, oras!!!

- Tá maluca? Como é que a minha barba iria fazer esta meleca na porta do banheiro?

- Ah, isso eu não sei... Mas, se ela faz o que faz com a pia, criatividade é que não lhe falta.

Ele chegou a franzir a testa, mas acho que não colou...

05 março 2003

Bom dia, gente, são 7h da manhã de quarta-feira de cinzas. Como podem perceber, não caí na gandaia neste carnaval – do contrário, acordaria só no meio da tarde, e não a esta hora de dona-de-casa que vai lavar as calçadas enquanto o sol ainda não está forte.

Não, também não vou lavar as calçadas, até porque não as tenho.

Desculpem-me, mas hoje estou com uma preguiça homérica; não vou “cronicar” – sem sob encomenda, nem sob inspiração. Sorry.

Vou fazer um momento “Meu Querido Diário”.

Pois bem. Estou decidindo se vou à padaria comprar um pãozinho francês, que acordei com desejo. Cappuccino com pão francês e margarina é tudo, ainda mais numa quarta de cinzas sem ressaca.

Vai fazer mais um dia lindo e quente aqui no Rio de Janeiro. Através da janelona (porta?) de vidro que dá para a minha varanda, vejo daqui um rapaz, com a sua pastinha, todo de preto. Vai sofrer, coitado. Uma menina passa caminhando com seu boxer pela pracinha aqui em frente. Um galo canta. Essas coisas.

Aliás, o apartamento seria bem menor sem essa janelona de vidro.

Estive pensando em ir ao cinema nesse feriado que passou, mas eu passei o feriado pensando, de modo que não houve tempo para ir ao cinema. Estive pensando, também, em pensar menos.

Mas aí eu iria gastar muito com cinema, e não estou em condições.

O último filme a que assisti foi Cidade de Deus, e não gostei. Desculpem-me se ofendo. Sei que todo mundo gostou desse filme, mas eu achei péssimo. Muito tiro e sofrimento para pouco argumento e significado. Sim, chega a dar para rir de vez em quando. O que considerei um desaforo à parte.

Não vejo muito mérito nesses filmes que têm a pretensão de “mostrar a cruel realidade”. Por mais que eu tenha boa vontade, ainda me cheira a mercantilismo de urubu. Fazer arte da miséria alheia, e ganhar prêmios.

Outra coisa: o sofrimento REAL daquela criança que, obviamente, acreditava mesmo estar sendo ameaçada de levar bala, o choro, o desespero, o pânico nos olhos dela... tudo isso não me lembra, nem de longe, o significado que atribuo à palavra ARTE. Mas, cada um...

Sim, mas isso nada tem a ver com o Meu Querido Diário!

Voltando ao tópico. O garrafão de água (20 litros) acabou, precisamos comprar mais.

Outra coisa que acabou foi a minha paciência com esse diário aguado.
Fui!

03 março 2003

Da série Textos sob Encomenda...

Tema 1 – “Como não ficar minhocando”
Determinado por – Denise
Autora – Bíbi Da Pieve


MINHOQUICE TEM CURA

Minhocar consiste em pensar excessivamente sobre um problema qualquer, criando hipóteses, elaborando soluções, prevendo desfechos, fantasiando catástrofes - sem, efetivamente, chegar a lugar algum.

Isto posto, pode-se concluir que, afinal, todos nós minhocamos. É verdade. Contudo, a diferença entre o minhoqueiro esporádico e o minhoqueiro crônico é claríssima: o primeiro reflete sobre problemas. O segundo CRIA problemas a partir de qualquer coisa que lhe apareça à mente. Vamos nos ater ao primeiro grupo, portanto.

Se você tem uma boa criatividade, gosta de exercitá-la, não se incomoda em perder meia horinha aqui e ali somente imaginando coisas, é chegado a um draminha... calma, você ainda pode ser uma pessoa normal. A minhoquice só é detectada quando a pessoa passa a reger sua vida (ou parte dela) a partir de conceitos oriundos de uma lógica completamente “torta”, equivocada.

Em outras palavras, a minhoquice desregula a bússola, e o sujeito acaba tonto, absorto num mar de conclusões que nem sabe mais de onde tirou. Perigo.

O pior minhoqueiro é aquele que acha que sabe o que os outros estão pensando. Infelizmente, o tipo é mais comum do que se imagina.

Ele é tão bom em diálogos interiores, que você está dispensado de contribuir na conversa. Silenciosamente, a partir de um simples suspiro seu, ele pode concluir que você não está satisfeita com o casamento, que ele se esforça para ser um bom marido, mas não adianta, você não dá valor, imagina, ele até te trouxe para tomar chope em plena terça-feira, está certo, o chope está meio quente, mas que culpa ele tem, se ele xinga o garçom você reclama igual, nada está bom, assim não dá, acho que chegamos a uma situação limite, alguém aqui vai ter que tomar uma decisão... Depois de minhocar tudo isso, ele verbaliza só a última frase:

- Está tudo acabado entre nós!!! – e joga a aliança dentro do chope morno.

Contrariar um minhoqueiro assim é até possível, mas dá um trabalho do cão. Até convencê-lo de que você suspirou porque viu que a farmácia estava fechando justo quando você lembrou que precisava de absorvente... Há quem afirme ser mais rápido e fácil arrumar outro marido.

Portanto, se você é um minhoqueiro de cabeça cheia, o melhor a fazer é buscar tratamento. Sim, a minhoquice tem cura, e aqui veremos algumas dicas para resolver esse problema.

O primeiro passo é ocupar seus ricos miolos com algo que não permita que seu pensamento “ande em círculos”. Pratique o linear, o racional. Ora, vá jogar xadrez!

Segundo passo: confesse cada minhoquice sua a um parente ou amigo íntimo, e ACREDITE quando ele disser que determinada conclusão não tem o menor cabimento. Um mero observador costuma detectar com sucesso quando há minhoquice naquele angu.

Terceiro passo: deixe AGORA de desenvolver qualquer pensamento com base no que você “intui” que outra pessoa esteja pensando. Cheque a hipótese; perguntar não ofende, e evita divórcios desnecessários.

Quarto passo: esqueça o “se”. Se eu fizesse, se eu comprasse, se eu deixasse... pensando, morreu um burro. Enfie na sua cachola que há um universo infinito de possibilidades; é mais fácil você derreter a sua cabeça do que esgotar todas as hipóteses da vida, ainda que em teoria.

Quinto passo: não traga situações do futuro para o seu presente. Antecipá-lo é, literalmente, envelhecer antes do tempo. E dá rugas.

Sexto e último passo: finalmente, quando aquela amiga lhe vier convidar para uma apetitosa sessão de minhoquice a duas, decline educadamente. Diga-lhe que não transa mais esse tipo de coisa, que passou a fase da farra cerebral. Agora você anda de cabeça limpa, e vive um dia de cada vez.

Ela vai estranhar, insistir, e talvez até chamá-la de careta. Não ceda. Seja forte. Diga não à minhoquice, compre essa idéia.

Se preciso, faça uma camiseta: “MINHOQUICE: TÔ FORA!”

E use sempre camisinha, para evitar a minhoquice do dia seguinte...

01 março 2003

VOCÊS NÃO ESTÃO DANDO CONTA DE MIM

Estou a mil! Ando escrevendo mais rápido que a capacidade que vocês têm de me ler, hohoho... como diria minha mãe, “te mete!”.
Manhã de sábado de carnaval ensolarada no Rio de Janeiro, eu bebo cappuccino dietético quente para ajudar no clima. É verão nos meus gorgomilos. (Gostaram de “gorgomilos”?).

Não sei o que fazer de almoço, por isso acho que vou comer peixe na churrascaria. Lá tem peixe, sim. Ou comerei dois ovos mexidos, mesmo. Mãe, favor fingir que não leu isso, ok?

Uma coisa confortável de se morar longe dos pais é poder comer ovos mexidos ou um pacote de Cebolitos no almoço, sem ter que ouvir o nome completo uma oitava acima do que seria suportável aos ouvidos.

Meu pai, por exemplo, foi capaz de passar três anos me atormentando a vida porque eu não comia carne – leu em algum caderno de saúde do jornal dominical que me faltaria vitamina B12, e não parava de insistir em que, cedo ou tarde, eu estaria anêmica.

Cansada de tanta ameaça, fui ao médico e pedi: “Quero fazer todos os exames possíveis e imagináveis para saber se estou anêmica, ou melhor, para mostrar a meu pai que não estou. É que não como carne”.

Enfrentei a picada, e passei no vestibular do sangue. Voltei ao médico, que examinou os resultados e ainda me disse: “parabéns, você tem uma dieta invejável, e está tudo bem por aqui. Um dia eu chego lá!”.

Mostrei os exames ao meu pai, e contei do médico. Ele retrucou – “esse médico não presta. Deve faltar B12 em algum canto aí, ele é que não procurou direito”.

Está certo. Se um pai diz que está faltando B12, é porque está faltando B12.

Voltei para casa, certa de que jamais convenceria aquele jovem senhor ariano de que minha saúde andava bem, apesar de eu não comer carne.

Menos de um ano depois, meu papai descobriu-se diabético, e adotou hábitos alimentares mais saudáveis – segundo ele mesmo anuncia, orgulhoso.

- Parei de comer carne vermelha -, ele me afirma, na maior cara-de-pau.

- O QUÊ??? Mas e a B12???

- Ora, a B12 está presente também noutros alimentos, não só na carne!

E começou a me “explicar”, detalhadamente, como eu deveria fazer para não ficar anêmica sem comer carne vermelha.

É pena que ele ainda não tenha descoberto os benefícios do Cebolitos.
COMO tem sido confortável sair pela cidade, agora que nossa governadora cor-de-rosinha tratou de despachar o único bandido do Rio de Janeiro para o interior de São Paulo. Sabe, sinto-me tão segura!

Na MADRUGADA de hoje, por exemplo, vários homens metralharam um ônibus da 1001 que se dirigia à cidade de São Paulo. Eu mesma já tomei esse ônibus algumas vezes; a viagem sempre foi muito confortável, com lanchinho e tudo. Só não havia balas.
Será que, hoje em dia, a passagem está mais cara por conta do chumbo?

Neste CARNAVAL, vou ficar por aqui mesmo, alimentando minh’alma com algum livro velho e tomando porres de leite gelado com Nescafé (sim, eu gosto disso, e daí?).

Quando muito, darei uma voltinha na praia, para não dizer que não falei das ondas. E só.

Não irei ao sambódromo, não saracotearei ao som dos tamborins n’algum bloco carnavalesco, desses que arrastam multidões suadas e embriagadas pelas avenidas da cidade, nem tampouco me renderei à modesta marchinha que, por certo, reinará absoluta nos quiosques do Recreio dos Bandeirantes. Não.

Provavelmente, o máximo da minha folia será uma corridinha no calçadão - providência muito bem cabida em dias de fuga, no caso, fuga das próprias marchinhas, dos quiosques e de banhistas exaltados e desafinados gritando mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero, sabe-se lá com quais intenções.

A meteorologia promete tempo bom, e eu prometo não atrapalhar a festa de ninguém, desde que não venham mexer comigo, que não estou boa. Tenho pensado em voltar a praticar artes marciais, atividade esta que me acompanhou pela infância e adolescência, e da qual tenho sinceras saudades há muito.

Não que a minha adolescência seja uma coisa assim tão remota, bem entendido fique.

Caso é que, munida de meus impulsos marcianos, digo, marciais, ainda mais em tempos de violência urbana tão intensa, confesso que ando mesmo investindo contra meu próprio travesseiro, no intuito de me preparar para eventual combate, nunca se sabe. Penduro o penoso pelo pescoço, digo, por uma ponta, ato ao mais alto local das grades de minha janela, de modo que o inimigo fica ameaçadoramente parado diante de mim, encostado na parede, mais ou menos à altura da minha cabeça.

A partir daí, começo a esmurrar o canalha, digo, o meu travesseiro, e não paro enquanto o infeliz não pedir água. Está certo, ele não pede água. Mas é como se fosse.

Meu treino não tem sido muito intenso, posto que recém estou no início. Coisa de duas horinhas, e me dou por satisfeita. Tende a melhorar.

Portanto, estou avisando. Meu plano é não boicotar a folia de ninguém. Vou dar uma corridinha na praia. Na minha.

Contudo, o primeiro safado que vier com “QUE SAÚÚÚDE!” vai ficar sem a sua.


p.s.: Denise, decida logo o tema, que assim eu tenho o que fazer no carnaval!