30 maio 2004

Celebridade


Assistir à novela Celebridade com meu irmão é pedir para ficar irritada. Primeiro, que ele não entende nada da história (porque raramente vê). Então, a cada musiquinha misteriosa acompanhada de uma careta indecifrável, ele vem com o famoso:

- O quê? O quê? O quê? (Cutucando meu braço no sofá).

Querendo que a gente conte o que aconteceu até aquela situação. Aí você até começa a explicar, na boa, acontece que o fulano flagrou a fulana fazendo...

- Quem é fulana??? (Com os olhos arregalados).

Pronto, ele não sabe quem é quem, e aí fica mesmo difícil. Outro dia, vendo a novela das 7h num sábado, lascou:

- Caraca!!! O que é que o Sassá Mutema tá fazendo nesse casarão?

Desisto.

***

Mas, dia desses, saiu-se com (mais) uma pérola. Além de se indignar profundamente com toda celebridade musical que aparece na novela (“jabá... jabazão...”- murmura), não perdoou a cantora Vanessa Da Matta, num showzinho no badalado Espaço Fama. Depois de observar alguns minutos da performance da moça, o olhar sério, mão no queixo, sabiamente concluiu:

- É... Cabelão desgrenhado, vozinha fina, olhar perdido no horizonte, cara de paisagem... Ela pensa que é a Gal Costa, né?

Tive que rir.

***

A propósito: o casalzinho Alexandre Borges e Júlia Lemmertz é muito fofo, tanto nas telas quanto fora delas. Mas, convenhamos: quem é que agüenta a Gal Costa cantando (pelo nariz) a fatídica: “momentos são iguais àqueles em que eu te amei...”?

Pior que isso, talvez os Titãs (jabá, jabazão! – murmura meu irmão) emplacando outro refrão-auto-ajuda: “Enquanto houver sol, ainda haverá”. Fala sério!

E eu sou do time que dá crédito às bandas que pisam na jaca, ora, quem não se engana volta e meia? Venham com um, venham com dois, mas não me venham com três refrões-auto-ajuda (produção em série), que aí já é maldade. Não abusem do meu otimismo sagitariano. Sorry. Demoro a falar mal, mas, quando falo...

***

Casal da hora: Palmira e Seu Salvador.

***

Beatriz é minha ÍDOLA. É podre de rica, grita o quanto pode, passa por doente e bobalhona, mas vive no mundo perfeito: um mundo onde ela e o príncipe Amorim terminam juntos (na cabeça dela, claro. Mas quem é que pensa com a cabeça dos outros, afinal?).

Além disso, não precisa aturar ronco, mau humor, futebol ou Discovery Channel. E ainda vai dar uns pegas no Márcio Garcia, que eu sei.
Salve, Beatriz!

29 maio 2004

O programa de TV que ensina a ser artista



É com alegria e satisfação que eu lembro a vocês: começa mais uma edição do meu, o seu, o nosso programa Fama, da Rede Globo!

Lá vamos nós, telespectadores fiéis, acompanhar o dia-a-dia de um grupo de malabaristas das cordas (digo: pregas, que é o termo correto) vocais. Interpretando sucessos de Gonzaguinha a Djavan, de Ivete Sangalo a Caetano, transformarão suas toscas performances em exibições classudas, repletas de técnicas e arranjos musicais, vocais e cênicos.

Tudo para mostrar que “vida de artista é suada”. Que, se você quiser “aprender a ser artista”, tem que estudar muito, saber onde colocar o agudo, o grave, o olhar e a mãozinha que não está segurando o microfone.

Depois de apreendido um mundo de informações que lhe enriquecerão como nunca antes, você finalmente virará um artista completo, e poderá encher a boca para dizer: eu sou um artista.

Então, um empresário se materializará na sua frente, de terno azul-marinho, e lhe fará uma proposta irrecusável: um contrato com uma gravadora multinacional, tudo pago para a gravação do seu disco (sim, eles estão nadando em grana, como todos nós), lançamento, mídia, 200 shows por ano, e uma banda impecável para acompanhá-lo.

Você jamais terá que lidar com contratante canalha, equipamentos de som precários, palcos mal projetados, assessoria de imprensa mal feita, bêbado subindo no palco pensando que o seu show é karaokê, cachês simplesmente não pagos (e toda ação que você terá de mover na justiça nesses casos), operador de som displicente, músicos que somem na hora da passagem de som, e a própria passagem de som (momento crucial do show, onde o abacaxi começa a ser descascado e só vai terminar na manhã seguinte, com sorte).

É claro que você também não precisará se incomodar em fazer malabarismos com o seu orçamento doméstico, se quiser sobreviver de música neste país, nem tampouco com os perigos que assolam cada vez mais as cidades, sobretudo à noite, justo quando você sai de casa para trabalhar. Por fim, você jamais terá de ficar chateado quando o pai da sua nova namorada, ao ouvir que você vive de música, perguntar:

- Sim, mas você trabalha no quê?

Ainda bem que você é um artista de verdade, e não terá de se aborrecer com esses pormenores.

Sim, porque isso você só teria aprendido a resolver se tivesse enfiado a cara na rua, meio sem jeito e sem trejeitos de artista, e tivesse ido tocar em bares, clubes e churrascarias, lidando com todo tipo de gente, tocando para todo tipo de público, estudando quando houvesse tempo, aborrecendo uns, agradando outros; se tivesse dedicado, enfim, sua vida (ou um pedaço dela) à difícil tarefa de viver de arte num país de oportunidades miúdas e valores equivocados.

Mas isso não é ser artista, uma vez que não aparece no Faustão.

28 maio 2004

O sorriso sedutor das pastas


Às 7h da manhã eu me encontrava no supermercado Zona Sul, enchendo um carrinho com os meus vícios básicos, foi quando me ocorreu: mas que diabo! As prateleiras estão cheias de coisas inúteis, e elas sorriem para você!

No balcão dos frios, por exemplo, uma infinidade de pastas: pasta disso, pasta daquilo outro. De salmão, de azeitona, de sei lá mais o quê. Caviar!

E eu lá sou mulher de pasta?

Mas é chique, pasta. Você sabe, em toda casa chique tem uma mulher chique que atende o seu celular minúsculo – porque mulheres chiques só falam no celular, mesmo dentro de casa -, e é o marido chique, que pergunta: amôôô (essa parte é tudo igual, não há chiqueza que resolva), vou chegar mais cedo, estou a fim de convidar o Sérgio e a esposa para assistirem àquele DVD com a gente, o que é que você acha?

E a esposa chique, moderna e descolada, responde que adorou a idéia, vai comprar umas pastinhas para combinar com as torradinhas que eles têm na despensa. Sim, porque gente chique vive com a despensa abarrotada de coisas que só servem para eventuais eventos. Que gente chique não dá festa: promove evento.

E lá vão os chiques para o evento do DVD com pastinha, regado a Prosecco, claro. Prosecco que, aliás, está bem ao lado das pastas no balcão dos frios. Ali, onde a gente confere o preço da mortadela e não leva porque achou caro. Bem ali.

Pois, aqui em casa, quaaaando tem festa, evento é o que vem antes: a correria que se dá rumo ao hipermercado com o melhor preço da cerveja, ainda que seja longe, ainda que seja tarde. E lá sempre se acha uma pizza, dessas de fabricação própria, com sorte você ainda encontra um pague-duas-leve-três, já pensou, que luxo?

O primeiro que acha a skol a 85 centavos bipa o outro, que bipa o outro, e acabou-se a gincana. Reúnem-se os comensais, a pizza vai ao forno e depois que esquenta não se sabe nem mais o sabor, porque é tudo igual: uma bolacha grande com queijo derretido e uma azeitona em cima. Evita-se, assim, o indesejável “não gosto disso”, “não gosto daquilo” (com certeza presente no complexo mundo das pastinhas).

Aqui você tem duas opções claras: o sólido e o líquido. Não é bem melhor?

Seria. Seria, não fosse a vasta quantidade de pastinhas sorridentes que pululam, através dos vidros embaçados, oferecendo-se em sabores inimagináveis à nossa fértil imaginação gulosa, típica da pessoa dura. Sem contar com aqueles moços enfiados em máscaras cirúrgicas, atrás do balcão, ameaçando com os olhinhos de fora: duzentos gramas? Trezentos gramas? Vai levar? Vai levar?

Tenho uma relação de amor e ódio com essas pastinhas, que não é brinquedo. Hoje, por exemplo. Quase comprei cem gramas de uma, tão rosada, tão cremosa... mas, pensei: vou comer com o quê? Teria de trazer torradas também.

Aí, já era demais. Daqui a pouco vou estar desfilando de terninho de risca-de-giz, com um escarpim em cada pé caloso. Chega.

27 maio 2004

Em tempo: está inaugurado o View Master , o blogfólio dos amigos Luís Saguar e Marcelus Gaio, dois feras em design. Ilustrações, fotografia e arte em espaço dinâmico, freqüentemente atualizado. Para quem gosta do lance, é um achado. Para quem não sabe se gosta, uma boa oportunidade de começar a gostar.

Visite!
A minha casa mal assombrada


Quem vai daqui para a praia, mais ou menos no meio do caminho, tem uma casa mal assombrada. Tem, porque tem, porque tem.

É um sobrado com janelas grandes, daquele tipo com madeira em cruz. A grama não é cortada, as paredes são descascadas, as plantas espirram pátio afora, tipo cabelo de orelha de velho, sem ordem nem medida.

Na calçada em frente há umas árvores e uns arbustos crescidos que formam uma espécie de túnel verde – no meio, só um caminho curto de pedra úmida contorna aquela esquina. Coisa de cinqüenta passos. Mas é para os corajosos.

Já vi muito marmanjo atravessando a rua para não encarar o túnel verde. A sorte é que, do outro lado, tem uma reserva ecológica, com plaquinha no portão e tudo. Dá para disfarçar fingindo interesse.

Eu, não. Desde o primeiro dia, optei pelo caminho obscuro, porque dá pra espiar melhor lá dentro. E espio mesmo. Quero saber quem é que vive lá; porque as janelas estão sempre semi-abertas, e há um cachorro preguiçoso do tipo mudo, mas que tudo observa. Alguma coisa se passa naquela casa mal assombrada.

Pois hoje eu atravessava tranqüilamente o túnel verde, entretida em pular poças d’água como fosse amarelinha, foi quando levei um susto: um casal de velhinhos, sentados na varanda! Igualmente mudos e observadores. Não moviam uma pálpebra.

Meu coração gelou, errei as contas e enfiei o pé na água. E uma questão me assombrou mais que tudo: será que eles estavam ali mesmo, eu digo, de carne e osso?

Pelo sim, pelo não, fui visitar a reserva.
Coisas de uma prenda desgarrada


Agora dei para acordar cedo – mas cedo mesmo, hoje levantei às 5:30! –, preparar meu café e vir ao micro pegar o finalzinho do programa Pátria Y Querência (apresentação: Glênio Fagundes) na Rádio Cultura FM – Porto Alegre, 107,7.

Vocês podem imaginar. Trata-se de uma programação exclusivamente gaudéria, com pérolas da música nativista – clássicos do Rio Grande; coisas da época em que não existia o rótulo “Tchê Music”, e as baterias e as guitarras elétricas não haviam ainda invadido a nossa doce e bela canção rural. Também toca coisa “muderna”, mas, como diz o Glênio (um gaudério impagável, personificação do tradicionalismo): não precisamos nos descaracterizar.

Reparem só nesses versos (abaixo), refrão da milonga que me embalou o raiar do dia hoje. E tenham uma ótima quinta-feira!

Da terra nasceram gritos
(Jayme Caetano Braun)

Meu canto é rio
meu canto é sol
meu canto é vento

Eu tenho verde
eu tenho pátria
eu tenho glória

Eu só não tenho
terra própria
porque a história

que eu escrevi
me deserdou
no testamento.

25 maio 2004

A gripe e a rotina emocional


Peguei uma gripe nojenta, estou enfurnada dentro de casa, meio febril, com um edredom até o pescoço, falando pelo nariz, comendo sem sentir gosto e ouvindo em mono. Agora me dê uma razão para permanecer com o humor intacto, vendo flores na vida, tecendo comentários otimistas sobre o futuro. Uma só, uminha.

Minhas amídalas estão do tamanho de bolas de pingue-pongue, ia me esquecendo de acrescentar. E a minha voz, quanta diferença.

O amigo que der com os cornos neste acidente virtual chamado blogue, desculpe, mas vai aturar crise de mulher que não é a sua – ou seja, pouca vantagem há nisso. Sim, porque aturar o mau humor da própria mulher é, além de útil à saúde conjugal, um gesto nobre. Aqui, de nobre, temos só a pretensão.

Já que está aqui, permita-me discorrer sobre algumas inutilidades da vida, assim me distraio da dor que assola minhas maçãs cranianas (gostou?).

Estou de saco bem cheio disso que chamam rotina. Precisando viajar, respirar outros ares, conhecer gente nova, tropeçar em estradas ainda não subidas, derrapar nas não descidas.

Pensando bem, talvez uma mulher precisando viajar não seja exatamente uma necessidade de deslocamento físico. Talvez, também, não seja uma alucinação resultante de cartelas e mais cartelas de aspirina e benegrip, como você pode estar pensando. Não. Pode ser só uma predisposição momentânea ao desconhecido - esse deus infinito e soberano que nos encanta a todas. Mesmo as mais tímidas, mesmo as menos “saidinhas”. Todas, no fundo, querem(os) um tíquete livre que dê direito às mais inimagináveis saídas.

Não estou reclamando do meu cotidiano, que, se não está uma festa ensolarada, tampouco tem sido cinzento ou enfadonho. Mas existe uma rotina intelectual – da qual nem todos os livros e jornais do mundo dão ou darão conta -, e existe ainda uma rotina emocional. Para esta, não bastará todo pro zac produzido no planeta.

É sobre esse tipo de rotina que estou falando aqui. Não acordar, levantar, dormir. Mas cogitar, pensar, sentir.

E aí? A quantas anda a sua rotina emocional?

23 maio 2004

Analógica em Divinópolis (MG)


A cunhada do Lori (nosso baterista) tem uma loja de equipamentos de som em Divinópolis. Para a demonstração dos produtos, resolveu começar a tocar o CD da Analógica a todo vapor. Eis que a clientela começou a perguntar sobre a origem do que ouvia, e o boca-a-boca levou a rapaziada a fazer, digamos, cópias livres do nosso CD.

Resumo: antes mesmo de lançar o disco, estamos sendo pirateados em Divinópolis.

É ou não é uma boa notícia?

Anote aí: vamos tocar em Divinópolis muito em breve, ou não me chamo Bíbi. Me aguardem.


3.0

Meu irmão apagou trinta velinhas ontem. Teve festa no Vila Genaro (um barzinho aqui no Recreio), com direito a bolo de chocolate decorado com a figura do Homem-Aranha, mesinha enfeitada com papel crepom, e o principal: nossos poucos e bons amigos.

Falamos de música e outros trabalhos, contamos piadas do Lula, essas coisas. Todos concordam que a vida anda difícil, mas ninguém deixou de rir.

Meu irmão, que continua um incorrigível cabeludo com jeito de 22 anos, apenas lamentava nunca mais poder dizer que tem “20 e poucos”.

É. Ela chega para todos nós.


Mau tempo

Parece que o frio chegou de vez no Rio de Janeiro, ou assim entendem os cariocas – entre resmungos, esfregando as mãos, contando cobertores.

Hoje deu no Globo que “o frio continua” na semana que vem, para desespero dos aqui nascidos. Duro é agüentar essa cariocada batendo dentes com amenos 17 graus.


Self-Sopa

Mas ainda tem coisa pior. É o restaurante à Mineira, tradicional aqui do Rio por suas típicas comidas deliciosas, oferecendo “Self-Sopa” a partir das 19h, durante a semana.

Vem cá. Self-Sopa???

Já comecei a reclamar quando vi o anúncio no jornal: por módicos R$14,50 o sujeito vai até um restaurante e tem direito a se entupir de... sopa? Valha-me Deus, que idéia de jerico. Já sei, vai bombar, o carioca está achando friozinho e vai fazer fila, esfregando as mãozinhas, para cair de boca no bufê de água.

Se ainda fosse de aguardente.

20 maio 2004

Sair da cama com essa chuvinha é um pecado... sair de casa, o inferno


Ontem eu tive uma crise de me-deixe-só, pelo amor de Deus, como eu precisava ficar um pouco sozinha. E era dia da minha faxineira. E o apartamento é pequeno. E ela agora deu de ligar o rádio numa estação evangélica, num volume insuportável, e cantar junto aquelas canções, digamos... instrutivas.

Como eu também tinha de fazer uns trabalhos musicais aqui no micro, o duelo foi feio. Só acabou quando ela se despediu:

- Tchau, fica com Deus.

A senhora se incomodaria de levá-lo para passear só meia horinha?
Quase que eu disse.

***

À noite, cometi pequenos exageros: mandei trazer um DVD do Sex And The City e uma comédia romântica bobinha – quem inventou o delivery de DVD merece o céu!

Como estava friozinho (médio, médio), fiquei de pouca roupa só para poder me enrolar num edredom, apagar a luz e me esquecer da vida diante daqueles clichês açucarados. Ok, há alguma irreverência na série Sex And The City, apesar do texto pisando na pieguice com vontade. Boas risadas, sim; e o Chris Noth (aquele ator que faz o Mr. Big) já vale o seriado inteiro.

Seguindo o “raciocínio” das comédias românticas, eu poderia dizer que Mr. Noth - minha alma gêmea, sem sombra de dúvida - foi nascer nos EUA e inventou de ser ator de uma série exibida no mundo todo só para se tornar visível para mim. É um sinal.
Fechado, hoho.

Me falta...


...o ar!


***

Fomos ensaiar num estúdio novo, aqui no Recreio. Tinha uma banda ensaiando antes da gente, que obviamente atrasou, então ficamos na técnica ouvindo o som. Eram uns meninos de 16 a 20 anos, faziam um som mezzo CPM 22/Detonautas, mezzo Rappa... algo por aí (não sei direito quem é quem nessas bandas novas).

Aí eu me dei conta: a partir deste sábado, minha banda será 66,6% balzaquiana.
Abafa.

***

Sonho esquisito: eu estava grávida e tive um menino negro, mas o pai da criança (que não lembro quem era) havia morrido antes mesmo de saber que teria um filho.

Logo após o parto, no hospital, havia uma prática ridícula, assim: de um lado, ficavam as mães. De outro, os pais das crianças. Os bebês ficavam no meio, e uma enfermeira ia chamando um a um:

- Bebê Fulano. Mãe?
(Uma moça gritava: eu!)
- Pai?
(Um cara se acusava: eu!)
Então a enfermeira entregava o filho, e os três saiam, felizes, porta afora.

Eu já estava aborrecida com toda aquela exposição, sobretudo porque o meu filho não tinha pai vivo, eu teria que explicar isso, todos ficariam com pena de mim etc. Até que a enfermeira levantou o meu filho:

- Paulo. Mãe?
- Eu... (levantei a mão, tímida).
- Pai?

- Eu...
Lá do outro lado, reconheci um ex-namorado (de verdade) que não via há anos, magrinho e branco – que, obviamente, não poderia ser o pai. Fiquei meio assim, mas não discuti. Saí de lá com meu filho Paulo e o falso pai branco.

Ao sair, cobrei:
- Tu ficou maluco???

E ele, tranqüilo:
- Fiquei sabendo da história, e tive vontade de vir. Se quiser, te ajudo a criar.

Assim, como quem se oferece para pagar uma conta sua no banco.
Agradeci, mas recusei.
Um pouco porque era sonho, outro pouco porque era eu.

17 maio 2004

Homens: seus astros, meus desastres

Impressões subjetivas e politicamente incorretas de uma sagitariana leiga em astrologia

por Bíbi Da Pieve


Áries: De 21 de março a 20 de abril

O ariano é dos únicos homens que realmente abalam as estruturas de uma mulher metida a forte, e, por isso, sempre é bom manter uma distância segura. Certa feita eu me apaixonei por um ariano, e procuro alguns tijolos meus a até hoje. Workaholic, persistente até não mais poder, cabeça dura, determinado. Pode ser egocêntrico e aí, se der corda, já era. Um pouco pretensioso, na medida que lhe confere charme e um certo ar de mistério; se ultrapassar esse limite, torna-se um chato arrogante com vocação para rolo compressor. Tô fora.

Touro: De 21 de abril a 20 de maio

Teimoso mais que a porta, o taurino pode ser aquele cara por quem você não dá nada, mas, se resolver dar, vai se surpreender. O desgraçado é sensual, envolvente e até romântico – sem ser pegajoso. Tem de ter um certo jogo de cintura, não demonstrar interesse logo de cara. Jogar mesmo (sem exageros!), ou corre o risco de o touro fugir com corda e tudo, antes mesmo do melhor da festa. O que seria um desperdício, acredite. Se ele der umas sumidas de vez em quando, não estranhe: faz parte do seu show. Agora, se o negócio for compromisso, melhor averiguar onde é que ele anda pastando. Boi amarrado... será?

Gêmeos: De 21 de maio a 20 de junho

Distraído, avoado, divertido, inteligente, volúvel (galinha). Alguns são tudo isso, outros só metade. Ótimo papo, isso é batata. Pode não saber falar sobre sentimentos (ou o que vem a ser isso), mas certamente vai lhe surpreender com soluções diversas para problemas que você jamais pensou ter – mas, no fim, descobre que estavam mesmo lhe afligindo. Geminianos são líderes (cuidado com o excesso de liderança; é bom deixar bem claro quem manda em quê, até onde etc) e são incrivelmente ecléticos (galinhas, de novo). O nativo deste signo tem muita personalidade. Até aí, tudo bem. O problema é quando tem muitas personalidades; aí é problema.

Câncer: De 21 de junho a 21 de julho

Caseiro, família, homem romântico. Muitas vezes meigo, algumas vezes tão carente que se torna difícil a convivência, sobretudo se você for do tipo que não topa ficar alisando. Um conselho: quando for magoar um canceriano, pense três vezes antes, medite, reze se for preciso. E desista. O sujeito é facilmente atingível, e depois você vai gastar dias, semanas ou meses para lhe fazer esquecer aquele mal. Não compensa. Se quiser lealdade, no entanto, vai encontrar. E não seja boba de desperdiçar um cara carinhoso, gentil, fiel, que sabe ser cavalheiro e bom ouvinte. Se você já se relacionou com um canceriano, com certeza não consegue mais repetir a velha frase ressentida: “homem é tudo igual”!

Leão: De 22 de julho a 22 de agosto

Tenho uma preferência escancarada pelos leoninos, já confesso de antemão. São homens interessantes, dedicados, sensíveis, doces e ensolarados. Porém, cuidado com os ensolarados demais: podem ser egocêntricos, narcisistas e até mesmo eternos problemáticos. Alguns têm tendência à autoflagelação; nesse caso, assumir uma culpa que não é sua pode ser armadilha fatal. Não queime a mufa. Dê atenção, mas não se descabele tentando resolver os pepinos que nem ele mesmo quer resolver. Que vá se virar. Por outro lado, um leonino de bem com a vida é o céu.

Virgem: De 23 de agosto a 22 de setembro

Meticuloso, perfeccionista, pragmático, romântico, dedicado à relação. Não tem dificuldade de lidar com a rotina, o que pode fazer a mulher mais aventureira se sentir um pouco perdida, com medo de cair na monotonia. Nunca tive relacionamento com virginiano, mas sei que são capazes de se apaixonar perdidamente, e tratam desse sentimento com a mesma intensidade com a qual tratam da vida: tudo é muito bem elaborado, bem executado, bem sentido e bem vivido. O virginiano que é artista (ou trabalha com produto intelectual) pode cair no exagero e perder um pouco o senso da realidade, somatizando tudo que lhe aparece à frente, virando um hipocondríaco incansável. Haja fôlego e muita sensatez para não enlouquecer junto.

Libra: De 23 de setembro a 22 de outubro

O libriano é aquele homem popular e charmoso, querido por todos (e todas!), que pode te deixar enciumada ou paranóica – quando você percebe que todo mundo vê nele o mesmo que você. Há que se ter um certo cuidado na hora de se envolver; se ocorrer uma paixão repentina, é bem capaz do cara querer casar, assim, do nada. O problema é que, assim como houve paixão por você, pode haver por outras e outras e outras... sim, o libriano pode ser meio diversificado ou dispersivo (galinha, resumindo). São meus bons amigos, e ótimos para uma amizade colorida de vez em quando. Sem cobranças. Mas, se exigirem um contrato de exclusividade - é bem provável! -, não se esqueça de colocar tudo às claras: exclusividade mútua, ou nada feito. Não vá você ficar servindo de contrapeso eterno à sua balança, enquanto ele se decide aqui, decide ali – sem, na verdade, decidir nada. O único libriano da minha vida, de tanto se decidir e desistir, acabou casando com a própria mãe. Acontece.

Escorpião: De 23 de outubro a 21 de novembro

Esse bicho exala uma sensualidade capaz de deixar cega de paixão a pobre desavisada que lhe cruzar o caminho. O escorpiano que ainda for bonito e inteligente, então, a recomendação é de que se atravesse a rua se não quiser ficar meio zonza. A sorte é que ele vai direto ao assunto, podendo ser considerado meio grosso, insensível ou um brutamontes das cavernas. Nunca me apaixonei por um. São bons amigos, cruéis e excessivamente francos quando necessário. Alguns preservam um mistério encantador; outros disfarçam com cinismo, ciúme e possessividade uma sensibilidade exacerbada que, se a nós atrai, a eles assusta. Por via das dúvidas, eu bato na madeira.

Sagitário: De 22 de novembro a 21 de dezembro

Meus colegas de zodíaco, deles eu posso falar com total liberdade (como nos convém): são amigos fiéis, espirituosos, divertidos, boas companhias para vários chopes – em geral, acabam amigos dos garçons e proprietários dos botecos, de tanto varrer salão. Alguns são filósofos incorrigíveis. Cuidado com aquela necessidade desenfreada de liberdade, que pode passar da reclusão à galinhagem em dois tempos. Em casos mais graves, o sujeito tem medo de se entregar ao sentimento, e foge do compomisso como diabo da cruz. Aparência de impenetrável, pernóstico, excêntrico ou até arrogante; seja como for a capa, pode estar certa de que o miolo do sagitariano é muito mais agradável e acessível, é só saber chegar lá. Falar nisso, costumam ser muy generosos na cama. Dizem, dizem.

Capricórnio: De 22 de dezembro a 20 de janeiro

Inteligente, racional, metódico, planejador, estudioso, bem sucedido, charmoso, tímido, surpreendente, irônico. Pode ser tudo ou um pouco disso. Pode ser um gênio ou um palhaço; se for os dois, melhor ainda. Nunca me apaixonei por um. São meus fieis amigos para virar a noite conversando, e são meus ídolos. Talvez eu mantenha a devida distância, para não quebrar a idolatria ou a cara. Dizem que vão ficando mais jovens conforme o tempo vai passando. Dica: se quiser encarar, agarre bem firme enquanto ele ainda é “velho”. Aí, tem grandes chances de permanecer fiel. Do contrário, esse negócio de “ir rejuvenescendo com o passar do tempo” é puro engodo, nem preciso dizer: galinhagem.

Aquário: De 21 de janeiro a 19 de fevereiro

Ligado ao passado remoto e ao futuro distante com a mesma intensidade, difícil é fazer o aquariano viver tranqüilamente o aqui e agora. Visionários, geniais, céticos, escorregadios; os aquarianos, quando se apaixonam, estão também apaixonados pelo próprio sentimento. Não que você seja um mero detalhe, mas certamente não é tudo na vida de um aquariano. Ele pode parecer frio e distante, e tem o dom de esperar a exata hora (quando a moral anda baixíssima) para lhe aparecer com uma surpresa comovente, fazendo você cair lindamente do cavalo. Eu digo lindamente com conhecimento de causa: cair do cavalo de um aquariano é uma experiência artística, dramática e – claro – hilária. De bunda no chão, você fica: foi um pássaro? Foi um avião??

Peixes: De 20 de fevereiro a 20 de março

Se você for meio bicho-grilo, gostar de assuntos esotéricos, de sonhar acordada o tempo todo e de muito, muito carinho e dedicação, então ache um pisciano e se mande com ele para o meio do mato, um amor e uma cabana. É o sonho da vida dele, e pode ser o seu também. Agora, se você for um pouco agitada, descolada, cética, workaholic... acredite, pode dar certo também. Conheço um casal lindo com esse perfil, são complementares e vivem harmoniosamente – entre trancos e barrancos, claro. A sua sorte é que ele pode achar até engraçadinho quando você tem um ataque histérico porque aquele par de sapatos saiu da promoção. A sorte dele é que, enquanto você pensa que ele é um bolha e grita ininterruptamente, ele vai tomando as deciões silenciosamente para que a vida de ambos corra com qualidade emocional e até uma certa ordem.

16 maio 2004

Retiro o registro de domingo-meia-boca!


Foi só eu reclamar do meu domingo sem graça e ele sorriu pra mim. Hoho.
Matei as saudades de uma galerinha do Sul que me faz uma faaaalta...

Sorrindo outra vez, assim tipo pinto no lixo.
Domingo


Manhã: caminhada na praia – dia cinzento, frio e vento.
Antes e depois: alongamento (anti-hérnia).
Difícil andar. Cabelos voando.
Uma moça de peruca e óculos escuros, talvez querendo disfarçar alguma coisa, acabou sendo a atração da ciclovia.
Anônima?

Almoço: salada de atum. Maravilhosa. Eu que fiz.

Tarde: internet, violão, pensamentos, rabiscos no velho caderno de cabeceira. Cappuccino. Sade na “vitrola”. Mais pensamentos.
Cozinha: louças, restos.
Quarto: Lya Luft (O Ponto Cego).

Noite: pão torrado, cappuccino.

Acabou-se o domingo.
Graças a Deus.

15 maio 2004

SOCORRO QUE ESSA PORRA NÃO TEM FIM!!!


Se você não selecionar as coisas que realmente fazem falta na sua vida, e esquecer todo o resto, está fadado à loucura. Como dizia meu irmão, na loja de móveis para escritório: “é muita cadeira”.

É muita cadeira, e a pessoa tem de escolher. Quais os jornais mais importantes? Dos jornais, quais os cadernos essenciais? Dos cadernos, as notícias. Das notícias, os fatos. Dos fatos, as impressões. Das impressões (dos outros), as suas!

Dediquei um franco pedaço da minha tarde de sábado à internet. Nada de mais. Visitar uns blogues, conferir as novidades nas revistas especializadas, o jornal de São Leopoldo para saber das fofocas e do frio, uma passada no Orkut para, finalmente, tentar entender a que se destina... acabei sabendo de novos autores, bandas independentes, as impressões de um desconhecido carioca que vive em Nova York, programas de rádio, poesia na rede, fulano que está lançando um livro em São Paulo, fulana que fundou uma ong no Rio etc etc etc... fora a gordura emocional que envolve tudo isso, claro!

Ao terminar essa viagem quase involuntária pelo adorável mundo das coisas que não me pertencem, tombei, exausta: um cappuccino, por amor de Deus, que essa porra não tem fim!

A internet causa duas impressões patéticas na gente. Primeira: o mundo todo está acontecendo aqui e agora bem diante dos meus olhos (euforia). Segunda: consigo ter tempo de me inteirar de apenas 0,000000000001% do que está acontecendo, ou seja - sou um(a) bosta alienado(a) (depressão).

Assim é que, parece mentira, o discurso dos mestres orientais se encaixa tão perfeitamente à maluquice frenética da vida “muderna”, que até me deixa pasma: a busca do essencial, tá ligado?

De minha parte, quando percebi que o Tico e o Teco estavam fazendo hora-extra e ameaçavam entrar em greve, a primeira coisa que pensei foi: EU QUERO A MINHA MÃÃÃÃEEEEEE!!!

E liguei, mas ela não estava em casa.

Para você ver como até o essencial, às vezes, nos escapa. Que dirá o resto.
Hoje tinha um cara correndo na praia, mas com o maior jeitão de intelectual. Óculos, bermuda e tênis. Meu olho acompanhou as panturrilhas, juro, involuntariamente. Por que será que eu gosto de homens que se contradizem no jeito?

Um intelectual correndo. Seria menos charmoso se não corresse, ou se não fosse intelectual. Podia imaginá-lo, meia hora depois, teclando qualquer coisa num laptop surrado. Usando a cabeça e desusando as panturrilhas.

Para dizer a verdade, nem me lembro se usava mesmo óculos, ou fui eu que adicionei o acessório para compor o personagem. Quem é que corre de óculos, né? Mas, que era intelectual, isso era.

Reconheço panturrilha de intelectual a quilômetros.

14 maio 2004

22 mil e poucos, porém fiéis

Passamos dos vinte e dois motivos para visitar este blog! Obrigada a vocês: meus quatro ou cinco, porém fiéis.

***

A cadeira auto-explicativa


Meu irmão me comprou uma cadeira nova, anti-hérnia-de-disco. Vermelha, pra combinar com o blog. Não é um belo presente de 22 mil visitas?

Primeiro, ele iria sozinho à loja. Especializada em móveis para escritório, aqui no Recreio mesmo. Chegou lá, me ligou do celular:

- Bíbi, não vai dar...
- O que foi? Não tem cadeira?
- Tem. Muita cadeira.
- Então compra uma!
- Não dá, Bíbi, tu não tá entendendo... (agora falando baixinho, como se disfarçasse para alguém) é muita cadeira. Não sei escolher, é muita cadeira. Muita cadeira! Deus do céu, é muita cadeira!

Ali eu percebi que já estava lhe faltando o ar, começaria a se coçar e breve estaria cheio de manchas vermelhas: síndrome do geminiano, quando tem de se decidir por algo.

- Tá, tá, fica calmo. Respira fundo...
- É muita cadeira.
- Inspira...
- Muita cadeira.
- Expira...
- Muita cadeira.

Veio me buscar em casa. Era muita cadeira. Chegamos lá, e era muita cadeira mesmo.

- Eu não falei?
- Realmente. Mas vamos conseguir.

Eu ia sentando, ele ia torcendo os parafusos, regulando assentos e encostos: tá bom assim? Tá confortável? Tá bom para a hérnia? E agora? Melhorou?

Escolha feita, cadeira comprada, chegamos em casa. Ele pôs a caixa no meio da sala, eu abri e me deparei com uma porção de ferros e parafusos no lugar da minha querida cadeira vermelha. Foi hora da minha crise:

- Cruzes!!! Cadê a minha cadeira?
- Calma, taí. Só que desmontada.
- Ah... que lástima.
- Calma, vamos montar.
- Como? A partir desse folheto aqui? Aqui só tem um desenho em preto e branco, não tem instruções... não vai dar.
- É auto-explicativo, Bíbi! Não tá vendo?

Decididamente, eu não via uma cadeira naqueles rabiscos. Mas ele jura que via. Tanto via, que montou aquela tralha em dois tempos, transformando uns pedaços de pau e ferro numa linda cadeira vermelha anti-hérnia-de-disco.

E cá estou, confortavelmente aboletada sobre a minha cadeira auto-explicativa, comemorando as 22 mil visitas.
A hérnia agradece.

13 maio 2004

O passado virtual (enquanto ninguém se belisca)


Você já dedicou um tempinho a ele. Ou esbarrou, distraidamente, enquanto fazia alguma busca em seus arquivos. Ou, ainda, acordou decidido a investigá-lo – para saber de quem foi o erro, onde nasceu aquela amizade, quem foi que terminou o namoro que nunca começou.

Não disfarce, você já entendeu: estou falando do seu passado virtual.

Todos nós, usuários da internet, temos um passado que nos condena. No mínimo, nos condena a remetentes e receptores de inocentes cartas digitais. No máximo, sabe-se lá. Afinal, que atire a primeira pedra quem nunca cometeu uma sandice cibernética.

Eu sei que você já se sentiu absolutamente ridículo em frente ao monitor, ao menos uma vez na vida. Sei que já sentiu as mais diversas emoções diante dele. Teve vontade de beijá-lo e atirá-lo pela janela, esmagou o mouse com toda força, pensou em morder-lhe o rabo, afundou meia-dúzia de teclas (imaginando transmitir mais “peso” às palavras)... quantas alternativas você marcaria como verdadeiras? Eu, todas.

Assumo que faço uso da internet há quase dez anos, e já fiz muita asneira nos balanços desta rede. Mandei e-mail para o remetente errado com conteúdo totalmente pessoal, respondi para todos do grupo (em vez de acionar o “private”) e paguei o maior mico, fingi ter errado de endereço e pedi desculpas (quando, na verdade, queria mesmo que o conteúdo chegasse àquela pessoa), redigi palavras doces (com a raiva escorrendo pela boca), fui rude (com o coração na mão e cheia de culpa), perdi as estribeiras virtuais e mandei ver (arrependimento instantâneo após o irreversível “send”), enfim, fiz poucas e boas no mundo virtual – e, o que é pior: sofri as conseqüências mais reais possíveis.

A internet tem dessas coisas: é tudo uma grande farsa, enquanto ninguém se belisca. Quando você sente na pele o cutuco de uma gafe, ou a porrada de uma meleca inconfessável que lhe escapuliu “send” afora, aí a coisa muda de figura. É quando a palavra “save” já não vale mais nada, e não adianta apelar para os seus santos, porque está feita a merda.

Assim é que se define o passado: um pedaço de vida que aconteceu e calhou de escapar justo na hora em que você queria dar uma retocadinha, uma revisadinha, uma editadinha... e já não pode mais. Eu sei que é duro. Mais ou menos como quando falta luz e você ainda não salvou nada.

Assim também é o seu passado virtual. Aquele, que começou inofensivo, quando ninguém se beliscava. E passou, sorrateiro, para o lado real.

Sem direito a “Ctrl + Z”.

11 maio 2004

Arrumei minha antena


Não a minha, claro. A da TV. Dei uma de “meu-irmão-quando-tinha-mais-tempo”, e fui de canivete: desmontei a coisa, desencapei parte de um fio que me parecia meio acabadinho, fiz nascer um robusto pedaço dele, que enrosquei numa espécie de parafuso com a finalidade de conduzir qualquer coisa a não sei onde, depois ainda finalizei com fita isolante (por quê?, não me perguntem!), tudo muito intuitivamente, mas com delicadeza e propriedade que só vendo. Virei a antena de cabeça para cima outra vez, dei-lhe três amigáveis tapinhas nas costas, acendi uma vela e um incenso, improvisei alguma reza, e, finalmente, tive uma conversa muito séria com ela.

Não sei se foi a cirurgia ou a conversa, mas o fato é que a antena voltou a ter, se não o corpinho de antes, ao menos o prazer que me proporcionava.


Falar nisso...

No DVD da quinta temporada de Sex And The City que peguei outro dia, o impagável diálogo descrito (mais ou menos) a seguir, entre Samantha e um vendedor:

- Boa tarde. Eu vim devolver o meu vibrador, está com defeito. (Ela, com um sorriso no rosto, e o negócio na mão).
- Desculpe, senhora. Deve haver um engano. Aqui não vendemos vibradores.

Estava claro que o local não era um sex shop, mas uma loja de eletrodomésticos. Mas ela insistia:

- É claro que vendem vibradores! Eu comprei o meu aqui outro dia, tenho certeza. E vim devolvê-lo. Está com defeito.
- Desculpe, senhora. Tenho certeza, aqui não vendemos nenhum tipo de vibrador.
- Ah, não? Então, o que é isso aqui?
- É um massageador de pescoço, senhora.

Ela, desapontada:
- As pessoas usam isso aqui para massagear o pescoço?
- Isso é um massageador de pescoço, senhora.

Ela, já irritada:
- Está bem. Está bem. Vim devolver o meu massageador de pescoço. Está com defeito.
- E qual o defeito, senhora?
ELE NÃO ME FAZ GOZAR.

10 maio 2004

Estou com a estranha impressão de que ninguém anda me lendo, estou com dificuldades na configuração do meu aparelho celular novo, estou meio triste por não saber cozinhar direito, estou precisando de uma cadeira nova, estou chocada com essa história de tanques de guerra nas vias cariocas, estou puta com as pessoas que ficam telefonando compulsivamente e desligam na cara da minha secretária eletrônica em vez de deixar recado, estou com saudades de viajar, estou precisando de cordas novas para o meu baixo, estou sem paciência de fazer as unhas, estou...

... na TPM.

E, como eu já dizia, odeio TPM.

09 maio 2004

Praia do Recreio




***

O jogo da velha


“Estou me achando um pouco medíocre. Você também acorda assim, às vezes?
Medíocre de cabelo e pele, medíocre de texto, medíocre de arrastar chinelos e lavar a louça de ontem à noite. Pensando nas compras da semana, no sabão em pó que acabou, no absurdo chamado Maluf, nas mudanças da Lei Rouanet. E me dói o lombo. Tudo isso, assim, superficialmente, claro. Passando um paninho na mesa, sabe como é? Medíocre.”


Tenho vontade de pegar minha autocrítica - sempre tão pontual e implacável - e pendurá-la um pouquinho na varanda para pegar um vento. Sim, porque uma coisa é ter senso crítico consigo próprio. Outra, bem diferente, é carregar uma velha ranzinza no ombro esquerdo, a resmungar ininterruptamente, cutucando o ouvido da gente com uma bengala como quem quer chamar atenção. Velha mais chata.

Depois de deixar a velha na varanda, corro lá e trago de volta, porque não vivo sem ela mesmo. Converso com a velha, dou-lhe atenção, chego até a mimá-la um pouco. E me dói o lombo outra vez. E desconfio que seja o peso da velha.

Ouvir da velha que sou medíocre, isso é de lei. Eu tenho um texto que data de 1987, eu tinha uns dez anos, e dizia assim: “eu queria ser delicada como essa bailarina (de um porta-jóias musical que acabara de ganhar da minha avó). A bailarina não fala palavrão e não bate nos outros.” E segue, por uma página de caderno grande, a velha me soprando indelicadezas por eu ser tão indelicada.

No dia anterior, eu tinha esfolado um coleguinha de turma que vinha me importunando havia meses, acusando-me de babaquices infundadas. Investi uma vez só, de mão fechada, e o pobrezinho se foi ao chão, de forma que até me assustei - não seria pra tanto.

Mas já estava feita a merda (não perdi o hábito do palavrão), e só me restou, além da repreensão dos professores e dos poucos amigos daquele canalha em miniatura, a crítica feroz da minha velha de estimação. Que eu não era delicada como a bailarina, veja só.
Ralhava a velha, e ainda ralha, quando acha que fui longe demais em alguma coisa. Mas, ainda mais, ralha quando pensa que fui de menos. E me cutuca o ouvido com a bengala: corre, infeliz! Corre, que a vida é uma só!

E saio, bem pateta, tropeçando e querendo me aprofundar nalguma bobagem que me daria o título de “eu aproveitei 100%”. Para, finalmente, a velha me criticar outra vez: caiu? Bem feito! Não olha por onde anda?

Agora eu pergunto: como é que a pessoa pode andar, olhar por onde anda, ouvir a própria razão, sentir a própria emoção, carregar uma velha gagá no ombro esquerdo e ainda ser feliz nas horas vagas?

Sai pra lá, eu não sou essa velha. Por isso coloquei o primeiro parágrafo entre aspas: credito à velha. E estou saindo agora mesmo para lhe comprar uma cadeira de balanço.

Se ela não sai, pelo menos que se distraia. Vá fazer um tricô, sei lá.

07 maio 2004

Eu gosto da TPM


É como se alguém pegasse o amplificador do mundo e torcesse todos os botões para a direita: graves, agudos, médios, volumes em geral. Tudo no máximo. Se chove um pouquinho, é dilúvio. Se alguém chega sozinho, é uma multidão invasora armada de facas. Se me fazem um agrado; ou é muito - e eu não mereço -, ou é pouco - e tenho vontade de xingar-lhe a mãe.

Sei que estou na TPM quando um comercial de margarina me faz lacrimejar, e, trinta segundos depois, estou profundamente revoltada com a propaganda e o marketing, os compositores de jingle, os redatores de publicidade, os diretores e toda essa corja mercenária que nos impele a cometer rombos no orçamento doméstico em nome do prometido colesterol zero. Abutres!

Trinta segundos depois, estou lacrimejando de culpa.

Nesse período que nos visita a todas, mensal e pontualmente como uma velha tia-avó ácida, estamos sem medidas. Perdemos os meios-termos, as meias-palavras e os meios-de-campo. Estamos, ou no ataque, ou na defesa (isso quando não nos pegamos com as unhas e os dentes cravados na bola, a rolar no gramado, indiferentes ao jogo).

O adversário da peleja é o de menos. Se Deus nos deu a graça de nascermos femininas, foi justamente para que não perdêssemos tempo com esses pormenores: atira-se no primeiro que se mover, e pronto.

Perder as estribeiras, a compostura, o sono e a paciência. Tudo isso parece ser um estrondo comportamental capaz de nos reduzir – e aos que nos cercam – a pó. Mas, e se, em vez de nos entupirmos de antidepressivos ou enfiarmos a cabeça debaixo do travesseiro enquanto a “coisa” não passa, resolvêssemos converter essa energia vulcânica em “poder de fogo”?

Há uns cinqüenta anos, no tempo em que a nossa tia-avó ácida era apenas uma debutante angelical, talvez não pegasse bem a falta de medidas numa dama da sociedade. As únicas que perdiam as medidas eram tachadas de... uma palavra bem pior que “desmedidas”, enfim.

Hoje, entretanto, uma mulher desmedida pode viver tranqüilamente. Pode sair na rua usando jeans e corpete de renda, não pode? Pode xingar a mãe de quem quiser, pode pedir vodca pura no balcão de um boteco, pode entornar quantas doses quiser e ainda assediar o garçom. Pode ou não pode?

Portanto, podemos também gostar da – tão mal falada – TPM. Ora, bolotas! Faz parte de nós!

Eu gosto da TPM, se você quer saber. Gosto de não ser tão linear. Gosto de me curvar ao sabor dos ciclos, alternando hormônios, sensibilidade, ponto de vista, paixão e ódio. Gosto de cometer loucuras, ou cogitar cometê-las – só para brincar de ser eu mesma, porém amplificada.

Como eu seria se fosse “100% TPM”? (Dá uma boa estampa de camiseta, vão roubar minha idéia, se é que não fui eu a ladra). Seria insuportável; mas será que já não sou? Seria intensa? Seria ousada? Seria sexy? Seria agressiva?

Talvez esta seja mais uma das vantagens de ser mulher: uma vez por mês, você tem uma amostra grátis do que seria você-mesma-em-versão-turbinada. Mesmo que algumas coisas ultrapassem os limites do bom senso (e por que não?), mesmo que você pise na jaca, chute o balde etc.

Tomando o devido cuidado para não transformar esse período num inferno para os pobres coadjuvantes do seu ciclo menstrual, acredite, esta pode ser uma experiência das mais criativas: rabisque suas impressões sobre o que quer que seja, e depois volte a ler dali a quinze dias.

E me diga se não somos um divertido “chope com as amigas” dentro de nós mesmas.

06 maio 2004

Das coisas estranhas que cultivo, construo ou cultuo


- Uma garrafa (vazia) de saquê que virou castiçal

Decoradores devem repudiar tal improviso, mas eu nem ligo: no gargalo, enfio uma vela e deixo queimá-la até o final. Com sorte, escorre um fiozinho de cera e enriquece a peça, artisticamente falando.

Sonho com o dia em que meu castiçal estará quase que completamente desenhado, em alto relevo, pelas linhas tortas dos meus falecidos pedidos, minhas meditações e transes, meus desejos descabidos – realizados ou não -, além de, é claro, o útil socorro nas noites de apagão.

Quando não der mais para encontrar sentido nas linhas – aí, sim, a peça fará todo sentido do mundo.


- Filomena, a ressuscitada

Quando era pequena, tinha uma enorme boneca de pano que arrastava por todo lado: a Filomena, que viria a falecer anos mais tarde, numa dessas faxinas da vida.

Pois, há pouco tempo, li em algum livro de psicologia que era interessante investir certo tempo na construção de alguma coisa de valor afetivo; mas que fosse palpável, e confeccionada só pelas nossas mãos. Que faria um bem danado à auto-estima.

Foi quando, sem pestanejar, ressuscitei a Filomena.

Está certo que ela hoje padece pela minha visível falta de habilidades manuais, posto que é pouco maior que uma caneta, tem cabelos de barbante, sorriso de um traço só (de esmalte rosa) e mais parece um bonequinho de vodu. Não importa. É a minha Filomena de sempre, companheira irretocável nas horas mais sinistras, de corpo e alma em riste, paciente e ótima ouvinte. É o que basta.


- A esteira esquizofrênica

Essa esteira elétrica eu mantenho em casa por pura compaixão, uma vez que, claramente, já deveria ter sido encaminhada a um manicômio de geringonças. O resumo do surto é simples: ela pensa que é um cabide. Vive, age e se porta como tal.

Como herdei o objeto de meu pai – que também não é lá muito adepto dos esportes -, desconfio seriamente de que a educação tenha contribuído para o agravamento do quadro. Uma camisa pendurada aqui, uma toalha molhada ali, e está feito o imbróglio: a bichinha jamais voltará a si.

E não serei eu maluca de querer contrariá-la.


Vou pensar ainda em outras coisas, e adicioná-las à lista.
Acreditem, são muitas.

05 maio 2004

Te falei da TV?

Vocês não vão crer: a antena interna da nossa TV se escangalhou de vez, e agora só pega a Band. Parece até castigo. Não que houvesse muita opção na TV aberta antes disso, mas, convenhamos, assistir ao Gilberto Barros chega a ser um prenúncio de pesadelo, na certa.

Valei-me, Gilberto Braga! Como vou viver sem acompanhar os próximos capítulos de “Gritos Histéricos de Beatriz Vasconcelos”? Será que eu vou morrer sem saber quem matou Lineu??

Como poderei dormir sem a luz dos holofotes azuis que Renato Mendes exibe, na maior, como se fosse apenas um par de olhos? Como poderei me aconchegar virtualmente naquele latifúndio labial que pronuncia as maiores maldades, não conseguindo, no entanto, deixar de ser docemente encantador?

Estou perdida e mal paga, tendo que ir para a cama com Gilberto Barros e perdendo as últimas do Espaço Fama. Nem sei o que é pior. (E também não estou perguntando).

O pior é não dispor de nenhuma vizinha camarada, para assistir à boa e velha televizinha – aparelho tão antigo quanto a televisão, vocês sabem. Meus vizinhos...



Te falei do vizinho?


Outro dia, no apartamento em frente, teve uma rave. Rave, sim: música eletrônica NO ÚLTIMO VOLUME , um entra e sai de gente, portas batendo, gritos empolgados de “uh-huuuu!!!”, latas e mais latas de cerveja, e uma fumacinha mais que suspeita.

Do lado de cá, dor de cabeça e sede de vingança.

Estávamos preparados para solicitar intervenção da polícia, já com o dedo no telefone, quando, às 22h em ponto, cessou-se o fuzuê. Nada havia a ser reclamado, afinal, começaram a bagunça às 2h e terminaram pontualmente às 22h, respeitando o horário de silêncio. Uma pena.

No dia seguinte, fizemos a “nossa rave”, ou seja: um fandango beeeem gaúcho, também NO ÚLTIMO VOLUME, regado a Gaúcho da Fronteira, Teixeirinha, Tchê Barbaridade, Tchê Guri, Tchê Bagual e... outros tchês que estivessem disponíveis.

Quem ouvia, pensava estar rolando o maior bate-coxa aqui dentro. Os gaúchos gastando o solado da bota, as prendas rodando vestidos e tranças, chimarrão e churrasco. Que nada.

Fechamos tudo e fomos para o lado de fora, na varanda, olhar a praça. Bem sossegados.

Bem coisa de gaúcho.



Te falei do Pilates?


Estou fazendo Pilates. Estou enamorada! O Pilates é uma maravilha.

Sobretudo para quem quer alongar e fortalecer a musculatura, mas não agüenta aqueles ambientes de academia - com cheiro de ferro e suor, música alta, aula disso num lado, aula daquilo noutro, carteirinha, fichinha com séries pré-concebidas muito suspeitas, cheias de íceps, íceps, íceps que não acabam mais. Sem falar no papo-aranha e na solidão que te deixa, invariavelmente, com cara de boba, a se perguntar: mas que diabos eu estou fazendo aqui?

Bem, o Pilates é diferente. As aulas são dadas por fisioterapeutas, e acontecem num estúdio próprio para a atividade. Bem silencioso. Bem aconchegante. Um Santana no rádio (música ambiente), no máximo.

A regra é ter, no máximo, um fisioterapeuta para cada três alunos. Isso torna as aulas menos solitárias; dá a impressão de ter um personal trainer só para você. Os exercícios são feitos em aparelhos próprios, que geralmente usam molas como regulador da tensão (nível de dificuldade) nas atividades. Faz-se tudo muito devagar – o que, naturalmente, é um pouco mais difícil. Experimente fazer abdominais beeeeem de-va-ga-ri-nho e sem dar o famoso impulso no início do movimento, e entenderá do que estou falando.

Tem o lance da respiração, que requer uma certa concentração e te faz estar mais “presente” no momento. E, o mais legal: em muitos movimentos, você alonga praticamente ao mesmo tempo em que faz o esforço muscular. Achei isso fantástico, pois na musculação é o contrário: você “bomba” o músculo por repetidas vezes, e só no final da aula dá uma esticadela para aliviá-lo. No Pilates, alongar é tão importante quanto o esforço.

Devo dizer que, para quem pretende ficar com o corpo malhado em questão de poucas semanas, não deve ser a atividade apropriada. Nesse caso, acho melhor ir puxar ferro mesmo.

Para quem, como eu, sofreu com dores horrendas causadas por uma inoportuna hérnia de disco na lombar, tem problemas de postura, ou fica muito tempo sentado no escritório, ou apenas quer uma atividade física que dê muito prazer e alivie o estresse; a esses eu indico o Pilates veementemente.

Só que é bom estar informado: como já virou modinha, há pencas de picaretas se dizendo instrutores de Pilates por aí. Tem que ver o diploma de fisioterapeuta, saber da experiência, da história do local etc.
Elisabete não interage


Peguei um busum maneiro hoje. Isso para entrar na linguagem dos cariocas, ou de parte deles. O busum era igual a todos os outros, mas o motorista era a particularidade daquele coletivo.

- Motorista! Você me deixa no início da praia do Leblon? – Perguntava uma dama, esticada sobre a roleta que já tinha passado.

O motorista fez sinal com o polegar em riste. Positivo, madame.

E logo perguntou a quem quisesse ouvir:

- Qual é a praia do Leblon, afinal??

Achei que ele estivesse de brincadeira. Estávamos na Av. Niemeyer, e qualquer gaúcha como eu sabe que o Leblon é a primeira praia depois dela. A cobradora (Elisabete, descobri depois) resolveu ajudar:

- É a próxima que você vai ver.

- Aaah, positivo.


Alguns metros depois:

- Elisabete, tá vendo aquele cara ali na praia, com a camisa cor-sim-cor-não? Repara, Elisabete. Tá discutindo com a própria sombra, coitado. Eu conheço ele. É lá de Cascardura, Elisabete. Doido, doido.

(Elisabete nem ouvia, tamanho era o barulho do motor do ônibus. Mas ele continuava o discurso, como fosse um palestrante sem se importar com o feedback).

- Dia desses, Elisabete, estava o doido discutindo com a sombra, foi quando um “poliça” cismou que era com ele. Os poliça, você sabe, quase nunca aparecem. Quando aparece, Elisabete, pode escrever que é pra dar uns tiros pra cima e levar meia-dúzia de pobre-coitado, ou dar uma sova. E foi o que ocorreu nesse dia, foi quando deram uma sova, mas uma sova nesse maluco, que eu não sei como ele ainda tá vivo, o pobre.

E mudava de assunto, subitamente:

- Tá dando pra ver a lua daí, Elisabete? Ainda não tá cheia. Amanhã fica cheia. Amanhã vou cortar o cabelo.

Elisabete arrumava o casaco, contava os trocados, controlava a roleta. Tinha um cabelo crespo sem volume, empapado de gel, e um sorriso difícil.

Talvez, se Elisabete interagisse mais...

02 maio 2004

DVD

Testemunhas contra a máfia
Com Mira Sorvino, Mariah Carey e Melora Walters
Drama. EUA, fevereiro/2004

Eu gostei! Filme que une o lado violento/criminoso dos filmes de máfia com o emocional/sensível dos filmes de amizade entre mulheres. Com pitadas de suspense e alguns bons momentos cômicos, a história é envolvente e se desenrola de modo a prender a atenção.

Comentário fútil: impressionante como Mariah Carey, que todos sabemos ser linda de corpo, parece até gordinha no filme – culpa de uma involuntária comparação com suas colegas-atrizes-esqueléticas de Hollywood, e também do efeito inegável das câmeras sobre a nossa tão batalhada silhueta. Meninas, fujam das câmeras!!


Caminho das Nuvens
Com Cláudia Abreu e Wagner Moura
Drama. Brasil, 2003.

Gosto muito dos atores principais, e a atuação deles foi o único grande barato do filme. De resto, infelizmente, é mais um filme nacional “de estrada” (a exemplo de Central do Brasil, mas bem pior) que você pode assistir lendo uma revista, tomando café e verificando se chegou e-mail a cada cinco minutos. É a história de uma família que sai do sertão da Paraíba rumo ao Rio de Janeiro de bicicleta: o pai (Wagner Moura) encafifou que quer achar um emprego de “mil real” na cidade maravilhosa. O resultado é lento e aborrecido, apesar de sensível. Aliás, em termos: por sensibilidade, entenda uma mãe sofrendo por ver os filhos passarem necessidade, e a ambição comovente e utópica de um pai que quer dar sustento a uma família numerosa. Só.

Comentário fútil: Bom, pelo menos a gente vê a malvada Laura, enfiada num vestidinho surrado e com sandálias rasteiras, totalmente desglamourizada e sofrendo o diabo... hohoho, Maria Clara devia estar na primeira fila!


LIVRO

Caiu na minha mão um livro (emprestado do emprestado do emprestado) sobre economia doméstica: “Sobrou Dinheiro! – Lições de Economia Doméstica”, do economista Luís Carlos Ewald.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas, lá pelas tantas, salta esta pérola: “(...) Para os homens também vale fazer a barba em casa e basta estender o prazo entre os cortes de cabelo, obedecendo inclusive ao ciclo da lua. Corte entre a lua minguante e a lua nova faz com que o cabelo leve mais tempo para crescer...”

Preciso dizer algo, ou você está pensando o que eu estou pensando?


Nosso governo estadual, um exemplo em cultura: cabo eleitoral a um real (rimou!).


Nem vou dizer nada. Basta ler, abaixo, um trecho do artigo do Xexéo no Globo:

“Não é que seja uma má idéia. É até boa, o que é surpreendente vindo do governo de dona Rosângela Matheus. A partir de segunda-feira, o Teatro João Caetano volta a abrigar apresentações de música popular brasileira a ingressos populares em horário compatível com o fim do expediente de quem trabalha no Centro da cidade. É a tentativa de trazer de volta os bons tempos do Projeto Seis e Meia. Só que agora o horário é 18h e o projeto chama-se Fim de Tarde. Outra característica nova: o ingresso popular é exatamente R$ 1, como de hábito nos projetos populistas de dona Rosângela.

Primeiro problema: por que seis da tarde? O Seis e Meia não era às seis e meia por acaso. O trabalhador tinha meia hora para sair do emprego e chegar ao teatro. Para chegar ao teatro às 18h, ou o público vai ter que pedir ao patrão para sair mais cedo ou o João Caetano vai ficar cheio de desocupados.

(...) Mas quem dona Rosângela contratou justamente para abrir o projeto nesta segunda-feira: Elymar Santos, é claro.

Pegou mal. O maior cabo eleitoral da governadora é a primeira atração do projeto com mais visibilidade da até agora invisível Secretaria de Cultura de dona Rosângela. Tem alguma coisa fora de ordem aí. Dona Rosângela e Elymar deveriam vir a público dizer qual é o cachê que o cantor está recebendo para fazer a minitemporada (cada show fica em cartaz por uma semana). Ou será que, seguindo o estilo de sua política predileta, Elymar também está cobrando só R$ 1 de cachê?"


E Elymar respondeu ao artigo, na semana seguinte, revelando que recebeu um cachê de R$ 19 mil pelos shows da semana. E acrescentou que era pouco – pagar banda, equipe etc...

É, deve ter sido pouco para um Elymar, ícone da cultura brasileira, mesmo. É isso aí.