16 novembro 2002

Só um adendo à frase do véio Einstein, homenzinho muy inteligente que era, mas, com licença, eu também sou, e ainda tenho a vantagem de estar viva.
A frase correta seria: "a mente que se abre a uma nova idéia, esta sim terá um tamanho ORIGINAL."

Não acham? (risos bobos e infames)
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho
original.”

Albert Einstein


Vocês acreditam que eu nunca comi um acarajé na minha vida? E acreditam que eu nunca fui a Grumari (uma praia que fica aqui perto da minha casa, que dizem ser ótima, mas nunca me ocorreu de passar ali e conferir)?

Imaginem uma pessoa que nunca presenciou uma enchente: sou eu. Que nunca puxou assunto com um desconhecido, num banco da praça, só para falar uma gracinha e fazê-lo sorrir. Sou eu.

Eu nunca me prestei a acordar e pensar: pára tudo, que hoje vou fazer algo de novo, algo que nunca fiz. Eu nunca fiz isso.

Nunca na vida eu fui a um salão de beleza e pedi que me inventassem algo de diferente, para mudar de visual. Desde que me conheço por gente, meu cabelo cresce, e do mesmo jeito eu corto, e do mesmo jeito cresce de novo, e assim vou sendo a mesma pessoa, com a mesma cara que o espelho já sabe de cor - acho mesmo que nem preciso aparecer na frente dele para que ele me reflita, com todos os meus detalhes antigos e alguns novos que surgem, não pela minha interferência, mas pelo tempo.

Acreditam que eu nunca subi num palco de rabo-de-cavalo? Em onze anos de palco, todas as vezes que me apresentei eu estava lá, com o cabelo do mesmo jeito. O penteado da lei da gravidade. De novo, sem a minha interferência.

Parece até que eu espero que alguém vá me apresentando as novidades, assim, como num passe de mágica, e eu vá então me adaptando... sem perceber.

Sem perceber, faço 25 anos num domingo ao final de mais um novembro quente, e me dou conta de que tenho me privado do acarajé por esse tempo todo.

Sem perceber, deixei meu rabo-de-cavalo na mão do desconhecido da praça, ou na praia de Grumari, ou em outro qualquer lugar dos muitos em que nunca estive.

Deixei a minha ausência lá, porque estive ocupada demais, presente em minhas já conhecidas manias. Andei envolvida nas mesmas histórias, nas mesmas lamúrias e em algumas ilusões que calharam de acontecer na realidade. E eu me assustei, claro.

O novo vem com sotaque estrangeiro, e a gente fica como bobo, fazendo mímica, tentando compreendê-lo... sem saber que ele veio justamente para nos tornar poliglotas, e não para que o façamos aprender a nossa língua. (Que sentido haveria?)
Com vontade de dar uma invertida, trocar de tom, de pele, de fala ou de gesto. Achar uma moça que não sou eu, por aí, dando bandeira na rua, e aprender a sê-la, só para experimentar. Chutar um balde, sentar numa pedra.

Quem me conhece sabe que sou exagerada e me atravesso no tempo, de modo que declaro aberta a minha temporada de “crise dos 30”, antes mesmo de completar 25.

Durma-se, com um barulho desses.

Aceito sugestões de coisas que nunca fiz, prometo analisar com carinho as propostas. A propósito, quem é que vai me levar para comer o tal acarajé? (Se é que isso existe mesmo, porque eu nunca vi, desconfio de tudo que é novo, estou sempre com um pé atrás, e desafio quem não me dê razão.)

Mas essa parte da arrogância a gente deixa para a crise dos 50, tá bom??
Até lá, aturem-me assim mesmo.
Se quiserem!! Se quiserem!!!