26 abril 2002

Acabei de ler a coluna do Mario Prata no Estadão de hoje; a conferir:

http://www.estado.estadao.com.br/colunistas/prata.html

Eu mato a cobra e mostro o link.

O assunto da coluna sempre me interessou muito: direito autoral na web. Você já deve ter recebido, por e-mail, dezenas de textos "assinados" por escritores famosos, e deve ter ficado se perguntando se realmente aquele texto era do autor citado. Eu, por exemplo, já recebi textos com a "assinatura" do Verissimo que continham um intrigante sotaque, sei lá, carioca. Não pode.

Eu sei que o assunto é sério, mas - que o Lobão e o Mario Prata não me ouçam -, convenhamos, há uma graça em tudo na vida. Confesso que me divirto, há tempos, brincando de adivinhar o autor do texto. (Podem me acusar, que pirataria no dos outros é refresco...)

A história do "sotaque" do Verissimo é pura verdade. Você já reparou no sotaque escrito? Já sacou a "voz" do autor?

Sabe como foi que nós - que éramos obrigados a ler Graciliano Ramos com 12 anos de idade, e pensávamos que leitura era uma atividade enfadonha e sem fundamento - nos demos conta da enorme besteira que estávamos pensando? Quando nos deixamos seduzir pela rede mundial de computadores, embasbacados com a mais moderna das tecnologias - que, ironicamente, foi nos colocar frente a frente com aquilo que já se praticava no pergaminho.

A escrita nos chamou para o tatame. Era escrever ou não se comunicar, e a coisa foi ficando preta para quem não tinha intimidade com as teclas.

As "vozes" da escrita, na minha vida, começaram a aparecer com a Internet. Não que eu tenha orgulho disso; deveria era tê-las ouvido muito antes. Mas foi o jeito.

Comecei ouvindo os sotaques escritos dos meus amigos e parentes próximos, depois passei a compará-los com os breves diálogos dos chats da vida; quando vi, já estava ouvindo crônicas e livros, estabelecendo graves e agudos para qualquer frase que me aparecesse à frente.

Comecei a escrever uns textos, e percebi, pasma, que também ouvia uma vozinha, lá no fundo, ditando as minhas próprias palavras. E, pior: a vozinha ia ficando mais agudinha quando o texto era doce e inocente, e mais grave e profunda quando o texto era filosofante, tenso, crítico ou pessimista.

Nenhuma das minhas vozes escritas corresponde à minha voz falada - a verdade é essa. Eu não sei que voz você acha que eu tenho, mas não se engane: meu tom deve ser bem outro.

Aí é que está a graça da coisa. O Verissimo fala (pouco!) num tom, e escreve (muito!) noutro. Mas é o sotaque escrito dele, e ninguém tem igual. Essa é a verdadeira assinatura do autor.

Portanto, a minha sugestão é que o senhor, delegado dos crimes pela Internet, vá mandar os seus técnicos darem um jeito de inventar um sensor - hoje em dia tudo é sensor, mesmo - que "capte", como num passe de mágica, a voz escrita do autor. Já não existe um que capta a voz falada? Então.

A delegacia não foi criada para isso? Ou o senhor fica o dia inteiro aí jogando paciência? Tenha a santa paciência!!!

25 abril 2002

Acabei de ler a coluna do Mario Prata no Estadão de hoje; a conferir:

http://www.estado.estadao.com.br/colunistas/prata.html

Eu mato a cobra e mostro o link.

O assunto da coluna sempre me interessou muito: direito autoral na web. Você já deve ter recebido, por e-mail, dezenas de textos "assinados" por escritores famosos, e deve ter ficado se perguntando se realmente aquele texto era do autor citado. Eu, por exemplo, já recebi textos com a "assinatura" do Verissimo que continham um intrigante sotaque, sei lá, carioca. Não pode.

Eu sei que o assunto é sério, mas - que o Lobão e o Mario Prata não me ouçam -, convenhamos, há uma graça em tudo na vida. Confesso que me divirto, há tempos, brincando de adivinhar o autor do texto. (Podem me acusar, que pirataria no dos outros é refresco...)

A história do "sotaque" do Verissimo é pura verdade. Você já reparou no sotaque escrito? Já sacou a "voz" do autor?

Sabe como foi que nós - que éramos obrigados a ler Graciliano Ramos com 12 anos de idade, e pensávamos que leitura era uma atividade enfadonha e sem fundamento - nos demos conta da enorme besteira que estávamos pensando? Quando nos deixamos seduzir pela rede mundial de computadores, embasbacados com a mais moderna das tecnologias - que, ironicamente, foi nos colocar frente a frente com aquilo que já se praticava no pergaminho.

A escrita nos chamou para o tatame. Era escrever ou não se comunicar, e a coisa foi ficando feia para quem não tinha intimidade com as teclas.

As "vozes" da escrita, na minha vida, começaram a aparecer com a Internet. Não que eu tenha orgulho disso; deveria era tê-las ouvido muito antes. Mas foi o jeito.

Comecei ouvindo os sotaques escritos dos meus amigos e parentes próximos, depois passei a compará-los com os breves diálogos dos chats da vida; quando vi, já estava ouvindo crônicas e livros, estabelecendo graves e agudos para qualquer frase que me aparecesse à frente.

Comecei a escrever uns textos, e percebi, pasma, que também ouvia uma vozinha, lá no fundo, ditando as minhas próprias palavras. E, pior: a vozinha ia ficando mais agudinha quando o texto era doce e inocente, e mais grave e profunda quando o texto era filosofante, tenso, crítico ou pessimista.

Nenhuma das minhas vozes escritas corresponde à minha voz falada - a verdade é essa. Eu não sei que voz você acha que eu tenho, mas não se engane: meu tom deve ser bem outro.

Aí é que está a graça da coisa. O Verissimo fala (pouco!) num tom, e escreve (muito!) noutro. Mas é o sotaque escrito dele, e ninguém tem igual. Essa é a verdadeira assinatura do autor.

Portanto, a minha sugestão é que o senhor, Sr. Delegado dos crimes pela Internet, vá mandar os seus técnicos darem um jeito de inventar um sensor - hoje em dia tudo é sensor, mesmo - que "capte", como num passe de mágica, a voz escrita do autor. Já não existe um que capta a voz falada? Então.

A delegacia não foi criada para isso? Ou o senhor fica o dia inteiro aí jogando paciência? Tenha a santa paciência!!!



12 abril 2002

Mudei de idéia. Vou deixar mais esse texto, antes de viajar. Beijos!
*******


Quanto vale uma escova grátis?



Bíbi Da Pieve



Imagine que o seu casamento esteja meio sem graça. Precisando de um
tempero - que você cisma em chamar de "investimento".

O Adelmo anda distante, e, quando resolve chegar mais perto, você não quer
saber.

As afinidades evaporaram depois do primeiro ano de convivência. Faz três anos
que vocês se enfiaram nesse quarto-e-sala com paredes descascando. Tudo ia muito
bem, ele até fazia as suas unhas de vez em quando. Mas, hoje em dia, o clima é de
cortar com a faca: mal se olham.

Antes que as paredes desabem de vez - você pensa -, é melhor eu investir no
meu relacionamento.

Pronto. Parece que o mundo inteiro adivinhou suas necessidades: internet,
televisão, revistas, livros e sex-shops oferecem rápidas e práticas soluções para o seu
problema.

Será que isso é um sinal? - você questiona -, ou toda essa indústria já exisitia
antes do Adelmo, e já torcia para que eu o encontrasse um dia, casasse com ele, e,
depois de três anos, decidisse investir num relacionamento mal das pernas?

Não importa. O Adelmo vale o investimento; você saca meia-dúzia de manuais
sobre casamento, uma camisola de rendinha, faz o pé e a mão no salão mais caro, e
ainda sai achando que está no lucro - ganhou uma escova grátis.

Devorados os livros, decoradas as dicas práticas, entendidos os fundamentos
psicológicos das diferenças entre os sexos, alisado o cabelo e lixado o pezinho - você
está pronta para mudar de vida. Afinal, o Adelmo é o príncipe que todas as suas amigas
pediram a Deus (lindo, alto, louro, vinte e tantos), e você prometeu a si mesma um
happy end digno de Hollywood.

Mas faltou um detalhe: um bom vinho, para brindar à lua-de-mel do
investimento.

Atrasada, você passa na delicatessen mais próxima ao quarto-e-sala
descascado, desce do ônibus num pulo, quebra o salto, e cai de joelhos na sarjeta.
Chove muito. O cabelo empaçoca e espiga.

É quando aparece, do nada, o gaúcho Kleiton - que você não vê há uns quinze
anos -, e lhe dá a mão. Você levanta, gagueja; não sabe se ri, chora, abraça, beija ou
engole o salto quebrado.

E você também não sabe há quanto tempo não sente isso, mas desconfia que
faça uns quinze anos - desde que o Kleiton, seu amor platônico de adolescência,
resolvera ir tocar percussão no Canadá.

Agora ele deve estar com quase cinqüenta; é baixinho, careca, meio
barrigudinho, mas continua com o mesmo olhar: desconcertantemente percussivo.
Durma-se.

Mas como, se você não deixou passar uma linha? Se você decorou todas as
dicas, comprou os melhores perfumes, usou os melhores esmaltes - como é que pode,
agora, um batuqueiro sulista vir atrapalhar o seu investimento no Adelmo?

Acontece, minha cara. Esse tipo de Kleiton não escolhe suas vítimas. E a
maioria dos manuais de "felicidade" não vêm com a letra "k" no índice.

Nada contra os Adelmos, os livros de auto-ajuda e as pedicures. É que -
particularmente - tenho uma quedinha pelos saltos quebrados, pelos encontros
inusitados, e pelas tempestades - que são intensas justamente por serem naturalmente
crespas, sem investimento algum.

E sem escova grátis.

Deu pra ti
baixo-astral
vou pra Porto Alegre
tchau!
*******

Caros navegantes: estou com os dedos cheirando a bergamota (também chamada de "tangerina" e outros nomes). Acabei de tomar o café da manhã - duas bergamotas lindas, faltando um dia para pousar na Porto Alegre linda que não vejo há quase um ano.
Vou ficar lá por uns tempos. Portanto, não estranhem se eu me ausentar por uns dias; ainda não sei quando terei acesso à rede, pois o micro da minha mãe não anda muito coerente das ciber-idéias.

Dou notícias do Rio Grande do Sul (céu, sol, sul, terra e cor) assim que puder, prometo.

Ah, sim: se estive ausente nos últimos dias, foi porque uma infecção das brabas veio parar justo na minha garganta - o pedacinho de que eu mais gosto no meu corpitcho... oh!, que meigo, já posso ir para a Casa dos Artistas!

Da noite para o dia, literalmente, minha goela se dividiu ao meio - uma couve-flor de cada lado -, e a dor não era brincadeira, não. Você já teve as amídalas comparáveis à couve-flor? Nem queira. Dá até febre.

Hoje de manhã, acorei bem melhor. Febre nenhuma, e couve-flor já com ares de cereja novamente. Graças a Deus e aos meus exercícios energéticos com luz verde.

Mas ainda dói bastante; por isso, nem vou falar muito hoje. He-he.

Beijos a vocês, e até o sul.

09 abril 2002

Pois, ainda falando em mascavo: coincidentemente, assisti a uma palestra com um médico e cientista biológico, Dr. Augusto Vinholis, muito interessante.
Sabe o que é doença degenerativa, né? Diabetes, cistos e tumores diversos, artrite, e outras coisinhas do tipo.

Diz o doutor que o açúcar mascavo contém selênio - ótimo no combate aos radicais livres, que, quando produzidos em excesso, acabam oxidando as nossas céulas, e causando os males acima citados.

Já o açúcar refinado, o branquinho (e o cristal entra na roda, sim!), além de não conter selênio, ainda conta com diversos produtos químicos - e, pasmem!, CAL. "Sim, CAL de pintar parede, mesmo!" - enfatiza o médico. Coisa que é cancerígena; alías, não é muito difícil imaginar por quê. Fico aqui incomodada com a imagem das minhas tripas sendo pintadinhas de branco. Acho que vou comer uns quadros, para completar a "decoração do interior". E uns pregos, claro. He-he.

Saindo um pouco dessa apologia ao mascavo, vamos falar de vacas.

Dr. Vinholis atenta para o fato de não existir, no planeta, uma vaca sequer com osteoporose. Como se sabe, vacas só comem capim. E produzem leite, que é rico em cálcio!!

Como assim??

É o seguinte: anote aí uma expressão que está sendo muito difundida na biologia moderna - energia vital dos alimentos.

Doze horas deopois da colheita, os alimentos mantém as vitaminas e os sais minerais, mas perdem o que há de mais rico: justamente a energia vital. (Aliás, existe uma mulher genial, professora - de design! - aqui da PUC-RJ, chamada Ana Branco. Ela desenvolve pesquisas e faz experiências interessantérrimas envolvendo alimentos, que vão além das suas meras qualidades nutricionais. Eis a nutrição do futuro.)

Voltando à vaca fria, então o segredo da Mimosa é este: comer capim fresquinho, recém colhido - por ela mesma, aliás. Quanta eficiência!

Se comêssemos frutas, verduras e hortaliças algumas horas após a colheita, teríamos ossos mais rígidos que os seios da Feiticeira. Tá bom, quase mais rígidos. Mas já é lucro!

Eu sei que não dá para ter uma horta dentro do apartamento. Mas, se pudéssemos ter uma dentro do condomínio, já seria uma boa. Inclusive - e sobretudo - para as crianças.

E o Dr. Vinholis adverte: nunca é tarde para mudar. Não existe essa coisa de "estou muito velho, agora não adianta mais". Pesquisas recentes atestam que os seres humanos são extremamente receptivos às transformações. Nossas células se regeneram rapidinho; mesmo as pequenas mudanças são sentidas sensivelmente pelo organismo.

Para terminar: aquelas vitaminas de farmácia têm uma eficácia de apenas 5%. Sabia disso??

Eu nem imaginava. Jurava que era pá-pum. A indústria farmacêutica-me-engana-que-eu-gosto faz parecer tão bom... e os preguiçosos, aqui, preferem ingerir pílulas mágicas - assim como preferem ganhar dinheiro no show do milhão, ficar famoso através da casa dos artistas, almoçar Mac Pronto, etc... pena que o atalho sai caro.

Beijos!
Bíbi.

07 abril 2002

O último post foi duplamente postado. Que posta.

Queria agradecer às visitas ao Biblog; tenho recebido e-mails gentis e carinhosos. Continuem visitando.
Prometo que a coisa vai ficar mais animada com o passar do tempo.

Beijos,
Bíbi

06 abril 2002

Músico, quando chega de show, parece que não vive: paira.

Aquela barulhenta combinação de sons - bumbo, caixa, pratos,
guitarra, teclado, baixo, vozes e gritos da platéia
- é a própria receita
para a loucura desmedida e crônica. Afe!!

Acabei de tomar meu leite morno (com uma colherinha de açúcar
mascavo); vou dormir.

Por falar em mascavo: viva o mascavo. Viva o não-refinado, viva o grão
grosso, e viva o tosco.

Amor e arroz, só se for integral. O nome já diz: in-te-gral.

Salve a decoração rústica, os tons terra, e os momentos não-lapidados.
Abaixo a farinha branca, abaixo os conservantes, os estimulantes, os
fortificantes - e outros antes mais.

Essa indústria dieticida já foi longe demais... o mascavo é um bom
caminho de volta.
Músico, quando chega de show, parece que não vive: paira.

Aquela barulhenta combinação de sons - bumbo, caixa, pratos, guitarra, teclado, baixo, vozes e gritos da platéia - é a própria receita para a loucura desmedida e crônica. Afe!!

Acabei de tomar meu leite morno (com uma colherinha de açúcar mascavo); vou dormir.

Por falar em mascavo: viva o mascavo. Viva o não-refinado, viva o grão grosso, e viva o tosco.

Amor e arroz, só se for integral. O nome já diz: in-te-gral.

Salve a decoração rústica, os tons terra, e os momentos não-lapidados. Abaixo a farinha branca, abaixo os conservantes, os estimulantes, os fortificantes - e outros antes mais.

Essa indústria dieticida já foi longe demais... o mascavo é um bom caminho de volta.

04 abril 2002

Pior que a fome, pior que o tiro, pior que o câncer, pior que a
depressão, pior que o tráfico, pior que a inveja, pior que o próprio ódio
desmedido que alguém possa ter por outro alguém ou por muitos, ou
por todos - é pior.

Pior que tudo isso, sem dúvida, são esses programas de televisão que
expõem seres humanos se engalfinhando por qualquer motivo baixo,
não interessa qual. Não importa.

E conseguem incentivar o que há de mais podre no mundo - o deliciar-
se com a desgraça alheia. O inacreditável fato de alguém se deleitar
observando os conflitos dos outros, por puro esporte, por pura opção.

E não digam que é falta de opção, porque qualquer mico escalando
árvore é meio mais saudável de se entreter numa tarde ociosa.

E não digam que é falta de opção, porque eles, sim, têm opção: estão
com as câmeras nas mãos, dispõem da tecnologia e dos talentos
necessários. Poderiam criar qualquer coisa. Poderiam filmar o que
quisessem, são "livres" - aí, cometem o CRIME de tirar da cartola um
punhado de lama, e atiram na nossa cara.

Por pura opção.

Fariam menos mal à humanidade se filmassem micos escalando
árvores, a tarde toda.

Desculpem o meu espírito suíno - foi a lama que me deixou assim.