18 outubro 2006

Ultrasom – 22 semanas

- É uma menina.

Estranhamente, eu não quis acreditar. Tem certeza? Checa bem esse negócio aí, alô, alô, tá funcionando o aparelhinho que mede? Olha, o senhor desculpe, mas eu já passei por isso antes, cheguei aqui e o bebê me apareceu sentado e...

- Estou dizendo, é uma menina.

Vai por mim, doutor, essas coisas às vezes enganam, estou calejada, imagine que minha primeira experiência deu segundo turno, Deus me livre de empatar um jogo desses, esse gelzinho é de boa qualidade? Gruda bem o, como chama isso, enfim, o scanner que você passa na minha barriga, está bem grudado? Digo, aderindo? Olha, a imagem na tela não está lá essas coisas, não. Quero dizer nada. Muito chuvisco. Tem risco de haver interferência com os bebês das outras?

- A sua filha é uma me-ni-na! Está muito claro, olha lá o sexo!!

Não havia Cristo que me fizesse engolir a ficha. Eu seria mãe de uma menina. Que alegria doce; um suspiro bem ensaiava, mas não me acontecia. Continuei tentando me certificar, e apertava a mão do pai cada vez mais forte, como quem pedia que me dissesse que era isso mesmo, soprasse no meu ouvido sem que o médico estivesse olhando: psiiiu, ele está falando sério!

A verdade é que só acreditei quando olhei para ele.

Dizem que as mulheres são mais sensíveis às formas não verbais de comunicação, um franzir de testa, um jeito, acento de sobrancelha. Na tela eram pedacinhos de pés, braços, boquinha, mão, ossos e feições confusas. Na voz do médico eram palavras.

Mas o pai fez lá um ar, e foi no lá e no ar que eu enxerguei inteira a minha Lara.