31 agosto 2004

Vejam só que festa de arromba


Domingo foi dia de assistir a um show único (embora duplo): Tremendão - ele mesmo! - e Evandro Mesquita, num só show. O teatro estava lotado: das cerca de 300 pessoas, 250 deviam ser mulheres, a maior parte delas acima dos 40 anos. Imaginem só que festa de arromba.

Fiquei na fila do gargarejo, e gargarejei mesmo. Erasmo Carlos - de calça jeans desbotada, camisa de veludo molhado (ou algo assim) e colete de couro – comandava uma banda competente (um maestro/pianista, um baterista, um guitarrista, um baixista e um saxofonista), se não com o mesmo vigor de antigamente, com certeza com o mesmo talento - carisma, idem. Um pingo de choro engasgou na minha garganta logo no início, quando ele provocou: “Sei que você fez os seus castelos / e sonhou ser salva do dragão”. Essa frase sempre mexeu comigo, não sei bem por quê.

Relembrei as canções que minha mãe tocava no violão e cantava, e eu achava o máximo, quando era pequena. Pensei nos meus pais, na geração deles, em tudo que havia de surpreendente na tal da jovem guarda. E em quantos daqueles hits são pais dos nossos hits de hoje.

Lá pelas tantas, entra em cena o simpático, encantador e 1001 utilidades Evandro Mesquita. Um garotão, camisa de surfista, sorriso fácil. Pulinhos no palco. Aplausos e gritinhos na platéia. O gás do show aumentou, e a nossa participação também; afinal, ele tinha perdido um amor no paraíso. Quem poderia ficar indiferente?

Mais uma cena de cinema à minha frente: infância e adolescência, anos 80, Blitz - o início de tudo, para quem ousa acreditar em ser feliz tendo o rock brasileiro como pano de fundo. Eu confesso, sou uma boba; seja sob o sol, ou debaixo de chuva.

Depois que eu já tinha engasgado, pensado nos meus pais, nos meus tios, em mim, na besteira que fiz em resolver fazer da música a minha vida, e, finalmente, no prazer inexplicável que uma simples escala de blues acelerada causa em centenas de pessoas que sequer sonham – e nem estão interessadas – em saber o que vem a ser uma escala de blues... bom, aí eu pude vir para casa, com o coração meio bobo e descompassado, mas com um sentimento afinadíssimo que me dizia, e ainda insistia: é preciso saber viver.