26 outubro 2002

Bons dias!

O pessoal do Rio já vai aprontando a caravana, que estaremos tocando no Espírito do Chpp – shopping Downtown -, no dia 9 de novembro, sábado. A “parada” (como se referem os cariocas a QUALQUER coisa, seja viva ou morta, real ou imaginária, etc) começa por volta das 9h da noite, e extrapola todos os limites do bom senso e da solidariedade com quem usa um contrabaixo pesado pendurado no pescoço, esticando-se até as 3h da manhã. Creiam vocês ou não, assim está determinado, e assim faremos.

Não contem comigo para nada no dia 10 de novembro, portanto. Estarei, com toda certeza, aboletada nos meus aposentos, imaginando uma luz violeta entrando pelo meu chakra frontal (ou terceiro olho), incenso aceso, inspirando e expirando lentamente, e só abrindo a boca para entoar canção de uma nota só, aquela que diz assim: “OOOOooooommmmmmmmm...”

E, por falar em saudade, onde anda você?

Antes disso, no dia 4, farei um violão-e-voz chiquérrimo, num evento para 200 gringos, onde cantarei baladas melosas e alguma coisa de bossa, o que me permitir o conhecimento harmônico e, sobretudo, os dedos. Entre uma canção e outra, encherei a boca para dizer: “Welcome to Rio” – e está feita a saudação da noite, que não esperem mais nada do meu inglês tupiniquim, porque já faz anos que não estudo, e prefiro silenciar a deixar escapar um mico qualquer.

E prefiro que não me aplaudam, porque o meu “THANK YOU” já está mais para TÊM-KIU, de tão enferrujada a minha prática no idioma.

Pois é, amanhã é o dia “D”, e eu vou justificar o voto, ou seja, a ausência dele. Há quase cinco anos morando nesta cidade, vergonhosamente ainda não regularizei minha situação de eleitora, de modo que apenas me abstenho e ainda assino embaixo, na cara dura mesmo.

A gente nunca sabe quando algo é definitivo. Deve ser porque nada o é. Minha vontade é casar e ter o Breno (filho) aqui no Rio de Janeiro mesmo, mas não sei se o Capitão Rodrigo (marido) vai amarrar o cavalo num poste carioca, ou se vai preferir se ausentar da minha vida nesta encarnação, e me aparecer, na próxima, irreconhecível – talvez gay, inclusive. A gente nunca sabe.

Até agora, garanto a vocês que os capitães (bela palavra!) da minha vida não têm sido, nem lá muito capitães, nem tampouco Rodrigos. E o cavalo branco, que é bom, nem sinal dele.

Já cruzei com belos moços, sim, mas, no decorrer da história, revelavam-se portadores de pangarés mixurucas, ou seja: eram falsos Rodrigos, evidente. E aí não me serve.

O Rodrigo tem de ser original de fábrica, do bom mesmo, com cavalo incluído, furinho no queixo, boca grande e alguma sensibilidade. Do contrário, não quero nem conversa.

Dizem as más línguas que sou uma sagitariana arrogante, metida a besta e até seletiva demais, mas eu não acho que a crítica tenha fundamento. Ocorre que, até o presente momento, nenhum Rodrigo que se preze cruzou meu caminho.

Um ou outro até cruzou, mas não me convidou para a cavalgada.

Na certa, esqueceu-se. E vai ligar mais tarde.