31 dezembro 2008

Ano Novo

Ficam mandando essas mensagens “que Deus derrame suas bênçãos...”, etc.

Se é assim, que em 2009 nós façamos sólidas coisas boas para receber as líquidas – e espirituais, e amorosas, e gasosas, e brilhantes, e também muito sólidas – bênçãos de Deus. Amém.

22 dezembro 2008

Bronzeado falso

Sei que o bacana seria não comentar, mas, como é assunto de utilidade pública, não resisto: pela primeira vez, estou ostentando um bronzeado 100% cosmético, by Dove Summer Tone. A “loção hidratante com agentes autobronzeadores” promete pele dourada em uma semana de uso diário. No meu caso, branquela e sem disposição/tempo/coragem para dourar ao sol, realmente é um achado. Adotei.

Dei uma pesquisada básica no Google para saber o que andam dizendo sobre o produto, que já é amado e odiado. Tem gente que reclama da “meleca”, o que acho razoável para quem precisa se mexer muito depois da aplicação. Eu fico quieta, sentada diante do computador mesmo, então tudo bem.

Dizem também que pode manchar um pouco as roupas – mas eu só uso preto nessas horas, nem ligo. O cheiro, sim, incomoda um pouco. Segundo li, é o nosso corpo que, ao liberar a melanina, produz esse “odor” tão característico. A mim chateia, mas sinto (vejo) que a recompensa vale a pena.

Ainda preciso achar solução para dois problemas: as mãos e o rosto. Aconselhável é lavar as mãos depois da aplicação, para não correr o risco de amarelar as palmas. Pois bem, tem ocorrido o seguinte: as mãos ficam branquelas e as palmas, amarelas de qualquer jeito. Aí me aconselharam a passar o creme no dorso e “limpar” as palmas com um paninho, o que também não dá certo: dorso branco, palmas amarelas. Socorro.

Quanto ao rosto: no site diz que ele pode ser usado na face, mas quem tem pele oleosa e sofre com acne, como eu, jamais terá coragem! Qualquer coisa que eu passe no rosto me dá espinha, até vento. Recentemente, li uma entrevista com a Anna Hickman – adepta do bronzeado artificial – e ela diz que também não usa nenhum autobronzeador no rosto, pelo mesmo motivo. Resolve com maquiagem mesmo.

De duas, uma: ou encontro logo uma base para pele oleosa que me deixe da cor do resto do corpo, ou vai continuar parecendo que dormi no sol e esqueci o jornal em cima da cara.

Nas mãos, usarei luvas. Agora no verão, será uma delícia.

17 dezembro 2008

Da arte de reclamar em público

Jamais reclamo de coisa alguma em público. No trânsito, nas filas de banco e supermercado, nas calçadas, marquises, escadarias e corredores da rotina implacável - todos passam à minha frente, cortam meu barato e furam minha paciência sem que eu dê a mínima. Sempre fui assim. Passo por santa ou panaca, e não sou nenhuma das duas: sou avoada mesmo. E um bocado tímida.

Espere um pouco, não estou dizendo que sou aquela mala-sem-noção que trava o trânsito dos carrinhos verificando a validade da sardinha, de cócoras. Isso, não! Quando posso ser protagonista das minhas aventuras, deixe comigo, resolvo. Nos momentos em que cabe a mim checar, comparar, escolher, experimentar e até mesmo (me orgulho muito) maquiar, vestir e calçar, sou ágil e certeira. Não fico assim, na cabine da loja: é essa ou essa, ai, ai...? Nunca. Empilho meus ais e levo tudo embora, para o terrível momento do arrependimento, se for o caso. Mas não titubeio em público, nem manifesto descontentamento em frente a desconhecidos. Rabugice é coisa íntima, e só me aturam os valentes.

Entretanto, quando a pendenga não se define e não é minha a chave da saída, mergulho em Deus sabe qual subterrâneo das caraminholas e digo adeus ao mundo real. Reflito, medito, escrevo mentalmente, componho melodias lindíssimas (que depois verifico já existirem há séculos), chego a resolver dramas psíquicos dos quais anos de divã não deram conta – sobretudo os dramas dos outros, claro. E devo ter uma cara de trouxa, porque já chegaram a me questionar, no supermercado:

- Você não vai reclamar porque esse cara está passando as compras na fila dos 10 volumes, aí na sua frente? Ele tem muito mais que 10 volumes! Muito mais, olha lá!

Caríssimo senhor gentil, obrigada por avisar, mas, no dia em que eu me puser a contar os volumes dos carrinhos alheios, pode mandar me internar. Devo estar sofrendo de um terrível tédio interior e já nem me interessa andar solta às compras, comprar para quê? Deixa eu curtir meus plágios imaginários que, com certeza, sou mais feliz assim.

Acontece que há uma primeira vez para tudo, principalmente o que não devia. Estava parada na fila dos frios, tranqüila e “compondo” minhas trilhas sonoras, quando parou atrás de mim um adolescente. Devia ter uns 15 anos, bermudão, a listinha de compras amassada entre os dedos e aquela cara de quem odiou a missão de comprar queijo. Senti solidariedade, ora, já fui uma guria afoita e “ocupada” demais para auxiliar nas tarefas da família. O púbere bufava, a fila empacava, e eu concordei com a sobrancelha: saco.

Lá junto ao balcão, mais afoita que todos nós, atravessa uma perua com óculos de tartaruga e vai direto dando ordens ao atendente. Quer meio quilo disso, meio daquilo, e a búfala, e o peru fatiado bem fininho, mas sem quebrar. Olhei o garoto, que bufou novamente, agora com ironia e um pouco de raiva. Bastou. Espichei o pescoço de tal forma que ouvi um estalo, mas nem liguei. Limpei a garganta com um pigarro dramático e emendei o seguinte discurso:

- Aê! Tem filaaaaa!!!

Silêncio constrangedor. Senti um terrível pressentimento. Minha adversária me olhou tranqüilamente e explicou:

- Querida, estou aqui há séculos. Cheguei muito antes de você. Jamais faria um negócio desses, furar a fila. Está pensando que eu sou o quê?

Quando eu ia levantando a voz para – sei lá, contrariar, dizer que era um abuso, que ela estava mentindo, que eu conheço a família dela e todos são assim, que é uma pegadinha e vai cair um Papai Noel do teto! -, pois a moça que estava entre nós duas fez uma cara de “cala a boca” e completou:

- É verdade. Ela está comprando uma porção de coisas, só tinha saído um segundo para ver uma coisa enquanto o rapaz estava fatiando o presunto.

Na mesma hora, e usando o mesmo tom e o mesmo pescoço de girafa, pedi sonoras desculpas à perua inocente. E segui pedindo. E pedi outra vez. Quando dei por mim, já tinha pedido desculpas umas dez vezes e, na verdade, pedia era para mim mesma. Que vexame, eu não podia me perdoar.

Que o menino adolescente estivesse indignado porque a mulher comprava quilos e mais quilos, isso pude compreender. O que não posso conceber é que, justo na estréia da minha audácia de reivindicar meus direitos em público, eu tenha acabado desmoralizada na sarjeta da injustiça. Acusar uma inocente. Tudo culpa da minha distração de proporções dramatúrgicas. Se ela estava ali quando cheguei, juro que não vi. Se tivesse uma árvore, um gambá, um rinoceronte – teria visto?

Se a estivesse a Madonna cantando Holyday em cima do queijo bola, ainda assim talvez eu olhasse e pensasse: que melodia interessante acabo de inventar, impressão minha ou tem uma loira animadíssima dançando no queijo? Céus!

09 dezembro 2008

Sex and the City

Eu assisti ao filme "Sex and the City" no DVD. Minhas expectativas já eram baixas, mas consegui me surpreender: é péssimo! Praticamente não tem roteiro, é uma coleção de clichês e piadas de mau gosto, as personagens conseguem estar menos interessantes do que no seriado e os seus pares românticos... o que dizer deles?

O ex-charmoso Mr. Big virou um idiota com expressões de boneco de plástico; o Steve (da Miranda) perdeu a graça e se transformou num menino chorão arrependido. O marido judeu-careca-boa-gente aparece pouco, e o astro de cinema que se casou com a Samantha é mais um bonitinho burrão que nada acrescenta. Todos os atores do filme, que já não são grande coisa, ainda por cima estão mal dirigidos.

O figurino, badaladíssimo, é realmente lindo em muitos casos (a única coisa do filme que vale a pena, para quem gosta). Mas tem coisas horrendas, como o inacreditável "pássaro" que a Carrie usa na cabeça junto com o vestido de noiva. Argh! Não dá para se concentrar na cena com aquela ave figurante.

Nunca achei a série genial, mas, pelo menos, rendia algumas risadas. Já o filme, puff.

05 dezembro 2008

Volta ao passado

Ô, Deus meu. Os anos se passam. Mamãe aqui era uma guria e carregava uma guitarra nas costas, fazia shows usando camiseta do Grêmio e tênis de basquete. Era uma garota que, como eu, amava U2 e Guns'n Roses. Taí.

01 dezembro 2008

De auto-estima, groselha e laquê

Está bem, nunca fui a miss auto-estima. Tinha 9 anos e me achava esquisita, mas podia ser que melhorasse. Tinha 11, não melhorava. Tinha 12 anos, de vestido repolhudo (momento que minha mãe julga inesquecível - eu parecia uma princesa), pois não é que fiz parte de um bolo vivo do aniversário de uma amiga muito chique em Porto Alegre?

Dancei a valsa com um milico bastante educado, coisa e tal. Não tiramos nenhuma fotografia para guardar de lembrança, mas a minha memória é implacável: eu me sentia uma velha com aquela roupa e maquiagem, para não falar do cabelo empapado de laquê. Esquisita, dura e desconfiada de uma micro-bolsinha que me obrigaram a carregar e que, vá lá, combinava muito com o vestido. Mas o que eu vou poder levar aqui? Só o dinheiro (pouco) e o batom (mais um item fundamental que a minha autocrítica considerava dispensável). Aquele lilás na boca tipicamente incolor me dava a sensação de parecer que tinha recém chupado um picolé de groselha. Eu era o próprio picolé de groselha, gelado e imóvel, derretendo ao som da valsa e suando a camisa do pobre daquele milico.

Tinha ainda uma coisa com as mãos. Quando eu usava batom, muito raramente e sempre persuadida à exaustão, não sabia onde colocar as minhas mãos. Um inferno. Era como se o tom labial desnorteasse a minha figura como um todo, e o que já era sem jeito descambava de vez. Resultado: as mãos pagavam o pato. Onde enfiá-las? Que gestos eu faria? Mãos de menina, mãos de mulherzinha, mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura-bolo...?

Quando a valsa enfim terminou, o rapaz perguntou se eu queria um refrigerante e eu emudeci de pânico. Como assim, refrigerante? Não termina aqui o nosso número? Você está ameaçando continuar me acompanhando neste baile – e, pior, sem valsa para disfarçar? Escuta aqui, você acha que só porque eu pareço um picolé de groselha eu devo me casar com o primeiro militar que me oferecer fanta uva? Respeite o meu laquê!

- Não, obrigada, não bebo.
- Você é engraçada.
- Não, obrigada.
- Você tem um ótimo senso de humor.
- Me arruma uma cadeira?
- Como assim?
- Tá vendo aquela cadeira sobrando lá? Arrasta ela aqui pra mim, por favor?
- Você está se sentindo mal? Precisa sentar?
- Não. Quero botar as mãos na cadeira. Por favor, eu disse.

O guri trouxe a cadeira – era gentil toda vida, o que indica que desperdicei uma amizade promissora -, eu o dispensei e fiquei em pé, empertigada, com as duas mãos apoiadas na guarda da cadeira e um olhar falso que pretendia convencer alguém de que eu não conseguia me decidir, oh!, entre os brigadeiros e os cajuzinhos. Ufa, tudo estava resolvido. Era rezar para ninguém me desmascarar até a hora dos meus pais irem me buscar.

Logicamente eu fantasiava que a paralisia pudesse me tornar invisível, e aproveitava para emendar também um falso dilema bocó (brigadeiro ou cajuzinho?), que era para conferir um maior potencial dramático à situação. Empacada atrás de uma cadeira, as mãos fixas – e, portanto, impedidas de fazer o gesto errado -, e empacotada na indecisão dos doces, àquelas alturas eu já era praticamente uma pintura ou mesmo uma instalação artística em forma de convidada na festa da minha amiga chique. O resto da turma comia, bebia, dançava e conversava muito.

Hoje, quase vinte anos depois, vai ver que alguém olha uma foto que sobrou num canto e se lembra da grande festança da filha caçula dos Dorfmann, até com saudades.

- Escuta... Quem era essa guria que segurava uma cadeira espremida lá no cantinho, meu Deus?

Cada um com seu hobby, meu caro. Não fosse por mim, ninguém hoje estaria sabendo da festa chique que o seu Dorfmann deu à filha em mil novecentos e groselha com laquê.