01 agosto 2004

Minha mesa meia-lua de vidro


Estava aqui, diante do micro, atualizando meus contatos cibernéticos e dando de comer aos vícios virtuais. Foi quando, de repente, um bom pedaço da minha mesa de vidro se foi ao chão, sem a menor cerimônia, como criança que quer alguma coisa e não ganha. Só faltou bater os pés.

O barulho produzido pelo suicídio da mesa foi tamanho, que só não me grudei no lustre porque não tenho lustre. Susto passado, fiquei me perguntando o que teria feito a metade da mesa se indispor com a outra metade desse jeito tão dramático, rompendo abruptamente num divórcio certamente sem chance de volta. Uma pena. Juntas, as metades formavam uma bonita lua cheia. Agora, tenho apenas uma mesa meia-lua de vidro.

Está certo que eu nunca havia entendido direito como encaixar uma mesa redonda nalgum canto da sala, de modo a criar um ambiente (não é assim que os decoradores dizem, ambiente?) charmoso, à minha altura. E ficava arrastando, de lá para cá, a pobre da mesa arredondada, girando, girando, até que ela me parecesse um pouco mais... quadrada. E nada.

Com o divórcio das partes, ao menos consigo encostar a parte reta na parede também reta, e a meia-lua parece estar embutida no concreto. Posso fazer minhas refeições solitárias de frente para a parede, ou até pendurar um quadro com o rosto do Richard Gere para me fazer companhia.

Do café da manhã à ceia, estarei apoiada sobre a metade cheia da mesa, e Richard preencherá lindamente a outra metade.

Quando eu estiver de dieta, inverto a mesa.