15 dezembro 2001

O ceú se vestiu de cinza, está fresquinho no Rio de Janeiro. Até venta. Deus ouviu as minhas pressas.
Demorasse muito, acho que eu fugiria para os pampas - como se lá estivesse menos abafado. Não importa. A memória é que refresca.
Ia passar o Natal no sul; não vou mais.
Vai fazer quatro anos que a gente mora aqui.
Quando a gente se afasta, as lembranças começam a aparecer, em série, nos sonhos, em frente ao espelho, nas esquinas, nos cheiros. Lembrei tanta coisa que nem tinha mais importância, achei que não teria cabeça para guardar tanto. Tive.
As novidades vão respingando, dia após dia, mas as antigüidades brotam do subsolo inconsciente, de um jeito quase anti-ético.
Gotas de presente, já notou? Momentos.
Parece que o passado sempre é mais sólido. Brotos de memória.
Besteira, na verdade. Tudo é tão nada sólido... passado, presente e futuro são apenas estados diferentes das mesmas partículas - é só ar.
Vai ver que é por isso, então. Venta no Rio de Janeiro: o arzinho anti-ético resolve balançar os meus cabelos sagitarianos justo nesta época do ano.
E a minha filosofia vive de brisa.
Eu que me vire.

Não resisti. Saudade.