02 junho 2004

Casamento aberto

Nosso baterista vai tocar hoje à noite na Far Up, detalhe: com a outra banda dele. Você vê como são as coisas hoje em dia. Casamento aberto. E nós, os “outros”, vamos lá conferir a pulada de cerca. E ainda vamos pagar pra entrar.

É o fim.


O primeiro Orkontro a gente nunca esquece

Vocês sabem o que é o Orkut, né? Eu estou lá há pouco tempo, e freqüento uma comunidade do meu bairro. Pois, segunda-feira, marcaram o primeiro “orkontro oficial da comunidade”. E eu fui.

Pena que choveu de assustar carioca, mas, ainda assim, saí no lucro: conheci dois vizinhos-gracinha, batemos papo num barzinho até os garçons nos varrerem porta afora. Ambos moram a poucas quadras da minha casa.

É engraçada a sensação de conhecer gente que pode ter cruzado o seu caminho na fila da padaria, no postinho ou na praia, e ninguém nem tchuns. Aí, por um mero esbarro virtual, você acaba dividindo a conta com esses caras na vida real.

A sensação que ficou, pra mim, foi de uma camaradagem instantânea – até porque o Recreio é um bairro afastado da zona sul, todo mundo que mora aqui se sente um pouco “out” do Rio de Janeiro (o que, concordamos em uníssono, é mais vantagem que desvantagem. Mas é claro que tudo tem os dois lados). Então a gente acaba sentindo um certo alívio de conhecer gente boa que mora perto. Sabe como é, pedir uma xícara de açúcar.

Além disso, na Barra e no Recreio (os dois bairros são colados, sendo que o Recreio é ainda mais longe da zona sul), você precisa de carro para fazer tudo. Claro, você até pode andar a pé; mas, como são bairros enormes, as distâncias entre um banco, uma academia e a sua casa, por exemplo, certamente não caberão nas suas pernocas.

Isso faz com que a gente se sinta mais isolado, de certa forma, por andar sempre preso àquela cápsula com insul-film, evitando sinais fechados e qualquer contato com algum ser humano que se aproxime – por motivos óbvios. Coisas das grandes cidades, e, cada vez mais, das pequenas também.

Já dizia a minha mãe (tão badalada aqui no blog, arroz-de-festa insaciável do meu diário virtual, adivinha por quê?): “o bom desse negócio de internet é quando a gente conhece pessoas de verdade”. Sim, porque, por mais que você tenha um rio de afinidades com aquele amigo virtual, ele ainda não é uma “pessoa de verdade”. Não antes de vocês se conhecerem no mundo dos toques, dos ares e dos sabores.

Resumindo, a tecnologia pode até ser um barato, mas o mundo de verdade ainda requer pessoas de verdade. Ainda bem.


A relação deste blog com o meu irmão

Meu irmão nunca lê o blog. Vocês devem reparar que eu sempre falo sobre ele aqui. Pois é, ele nunca lê, mas sempre sabe de tudo.

Chega em casa, exausto, e a minha cunhada senta aqui e lê tudinho pra ele. Ele fica resmungando lá do sofá, recostado, volta e meia ouve-se um grunhido entre uma frase e outra:

- Hmmmrrrssnn... (contrariado, sempre).

Se estou aqui pela sala, pergunto:

- O que foi? Não gostou?

Ele faz um bico torto, e torna a manifestar qualquer coisa que não se entende, mas com a propriedade de quem questiona a burrice da pessoa que não entendeu. Tanto, que a gente até fica na dúvida.

- Hein? Falou o quê?

Ele emburra:

- Tu só me usa pra fazer piada aí... (beiço)

De modo que quero manifestar aqui - como se já não fosse público e notório – minha admiração pelo menino que vive comigo há 26 anos, portanto, desde que vim ao mundo. Aliás, por esse homem que é meu irmão (se digo menino, ele se chateia; se digo homem, se chateia também: estou tentando um equilíbrio), que me ensinou a ler e a escrever, sempre com ênfase na difícil tarefa que era, para mim, identificar qualquer palavra que começasse com “B” como sendo outra que não – afinal - “Bibiana”.

Foram muitas bananas, batatas e biancas, até que ele me fizesse entender que não se deve julgar o livro pela capa, a pessoa pela cara – ou a palavra pela primeira letra. Aprendi a ler.

Isso sem falar na lição do perdão, que ele sabiamente me ensinou após o fatídico episódio do ferrinho - um palito de ferro que eu, injuriada por uma tolice qualquer, cravei sem piedade no dorso da mão dele. O feito até hoje se conserva muito visível, embora eu não me orgulhe disso, sob forma de uma cicatriz em forma de, bem, em forma da minha crueldade infantil. Perdoável, perdoável.

Por essas e outras, tenho em minha casa um guru, ao menos a julgar pela premissa básica de todo gênio: a incrível capacidade de expressar sua verdade de forma peculiar. Tão peculiar e misteriosamente incompatível com nossa pobre maneira de entender quanto o indecifrável:

- Hmmmrrrssnn...