28 fevereiro 2009

Procurando o número

Eu voltava do supermercado. Uma mulher – de short curtíssimo e coladérrimo, quadril avantajado, top listrado em cores do arco-íris, maquiagem forte e uma flor vermelha no cabelo - anda pela calçada e olha as fachadas dos prédios, indo e voltando, conferindo um papelzinho que tem na mão.
...
Como é o pensamento da gente, não?

26 fevereiro 2009

Quinta-feira de cinzas

Pergunta ansiosa: quer dizer que agora o ano começou de verdade? Ou devemos esperar segunda?
Ai...

25 fevereiro 2009

Publicidade na internet

Sequência de três anúncios na mesma página:

1. "Quer namorar?" (Conheça pessoas, etc)

2. "Separação e Divórcio."

3. "Deus te ama."

Isso é praticamente um conto: o sujeito (a sujeita) conhece pessoas, namora, casa, briga, separa, e acaba obtendo o consolo divino. Final feliz.

Da vida real à literatura - o Google, realmente, oferece de um tudo.

23 fevereiro 2009

Gênio oriental

Outro dia eu tive uma insônia horrorosa que contraria o senso comum; em vez de pensamentos horripilantes e preocupações com direito a previsão de desgraças na família, tive uma ideia genial atrás da outra. Incríveis as minhas ideias. Começaram às duas da manhã e se empilharam pela madrugada adentro, derrubando qualquer chance de um cochilo sequer. Vi nascer o sol no dia mais genial da minha vida.

Tomei o café da manhã, ainda insone, e já meio perturbada com tanta produtividade. E a minha memória ia dando sinais de cansaço – esqueci metade das ideias geniais, mas pensei: que mal há nisso? A fartura é tanta, me viro muito bem com 30% dessa enxurrada criativa. Escrevo dois livros, um filme e uma peça de teatro, e ainda sobra para compor um refrão, vá lá, de boa linha melódica. Um refrão razoável, está bem.

Antes das 8h, contudo, eu já estava zonza e burra outra vez, com agravante: olheiras de urso panda. Faço força, mas não lembro nem meia ideia genial. Saio na rua tipo um zumbi, encho a cara de coca-cola e não me conformo com a estupidez: há um gênio em mim, mas ele dorme em pleno horário de expediente.

Deve ser um gênio oriental, vem me visitar e não liga para o fuso. Grandes coisas.

A outra possibilidade é que, na tontura da insônia, eu tenha ficado generosa comigo mesma e as minhas “ideais geniais”, vistas à luz do dia, sejam mera bobice. Sendo assim, melhor que fiquem no escuro mesmo, ou ainda vão me dar mais trabalho do que já estão dando agora.

Que a burrice nos rouba tempo, é verdade, mas a "genialidade" (entre aspas) é capaz de nos tomar dinheiro grande.

19 fevereiro 2009

Francamente

Meu Deus, acabo de receber um e-mail de seleção de elenco para um longa-metragem de ficção. Meu Deus, eles dividem as personagens/atrizes assim:

- Mulheres jovens.
- Mulheres entre 30 e 45 anos.
...
Ainda bem que é de ficção. Não quero nem pensar se fosse de verdade.
(Uma cerveja e colágeno, please...)
Dia bom

Café com marido. Filha já brincando, outro café com marido. Iniciar uma conversa objetiva e prática sobre as tarefas domésticas, que evolui por considerações - já não tão objetivas - sobre educação. Que, por sua vez, evolui por um longo papo extremamente subjetivo, gostoso e rico sobre literatura.
Olhar a pedra lá fora. Céu azul. Nós.

17 fevereiro 2009

Cala-te, Claro

Meu celular apita uma melodia que interrompe o que estou fazendo para avisar a chegada de “uma nova mensagem”. Aperto o botão “ler” e descubro que tenho 30% de desconto para o show dos bec-strit-bóis.

Quaisquer que sejam os bóis que estejam em turnê pela vizinhança, o fato é que eu não pedi essa informação, jamais demonstrei a ninguém – nem ao Google, que tudo sabe sobre todos – nenhuma ambição ou mera curiosidade em conhecer de perto os tais rapazes, nem por suas músicas, nem suas roupas, géis nos cabelos ou purpurinas, nada, nada. No mundo ideal: eles lá, eu cá. Mas não, não posso, porque o mundo “Claro Ideias” não permite que eu tenha as minhas próprias ideais, sossegada e individualmente, em silêncio.

Perguntinha tola: por que é que meu aparelho (pessoal, que comprei com o meu dinheirinho) produz um ruído jamais solicitado para me informar essa e outras inutilidades? Já imaginaram se, numa sala com 800 pessoas juntas, todos os aparelhos resolvessem avisar a todos os seus clientes sobre os descontos imperdíveis a que cada um tem direito? O que é que me dá o direito de incomodar o direito alheio de não ouvir minhas sobras eletrônicas?

Devo levar a mão à boca e me desculpar?

Eu passo os meus dias lendo, escrevendo e escutando coisas. E não posso ter um aparelho de telefone para (apenas!) falar. Até porque o sinal é péssimo, e raramente consigo fazer ou receber ligações.

PS: Alguém poderia dizer “é só você configurar...”, ao que retruco: por acaso não deveríamos ter que “configurar” a opção contrária – a de solicitar barulhos e mensagens? No meu, começaram a apitar e enviar textos sem a menor cerimônia. E são muitos!

03 fevereiro 2009

Salsa capilar e reza

Meu cabelo e eu fomos parar nas tesouras de um profissional chamado Marcelo, que leva a fama de ser o melhor do salão. Conforme me confirmou a depiladora boa gente. Se esse é mesmo o melhor do salão, suponho que dance um bolero como ninguém. Ou a depiladora é que não é boa gente.

No meu cabelo deu foi uma salsa descompassada, e cheguei em casa nas tamancas, desafinando um miado meio indignado, meio lamentoso, bem como costumo fazer sempre que alguma coisa desanda e foge ao meu alcance. Não estou exagerando. Você olha para o meu rosto e tem vontade de pedir ajuda: orientação vocacional capilar. Um cabelo indeciso, impreciso e inseguro. Diria até, volúvel.

E eu que já não tinha muita coisa reta na cabeça, agora esse baião caribenho, olha, só rezando. Só rezando. Pai.