27 abril 2003

O Segundo Caderno


Aqui em casa, temos o seguinte código de ética: quando chega o jornal, o primeiro que o pegar deve, cuidadosamente, separar o Segundo Caderno e posicioná-lo no seu devido lugar -o banheiro.

O Segundo Caderno é somente lido no instante em que a pessoa estiver, digamos, acertando as contas com suas particularidades fisiológicas. Uma leitura leve, despretensiosa, perfeitamente cabível num momento de relaxamento, quando não se deve tomar sustos com a nova subida da gasolina, mais um tiroteio na Linha Amarela, ou ordens do tráfico. Nada disso. A fim de zelar pela regularidade e pelo bem-estar do intestino, elegemos as notícias culturais e os quadrinhos para esse período íntimo e introspectivo.

O Segundo Caderno já está tão arraigado no nosso cotidiano domiciliar, que se tornou parte das leis da família. É expressamente proibido, por exemplo, ler o Segundo Caderno no sofá ou à mesa. Quem o fizer estará sendo antiético e até mesmo anti-higiênico, uma vez que a prática dos exercícios fisiológicos está intimamente ligada à leitura desse pedaço do jornal.

Caso a pessoa queira “ler o Segundo Caderno” (entre aspas) mais de uma vez no dia, fica valendo a Lei da Substituição, ou seja: ela pode lançar mão do Caderno Barra (quintas e domingos), Revista da TV (domingos), Rio Show (sextas), Prosa & Verso (sábados), ou ainda Revista Megazine (terças).

Por absoluta falta de condição literária, portanto, fica sendo considerado grave delito o ato de evacuar duas vezes às segundas e quartas.

(Para melhor cumprimento dessa lei, também pensamos no cardápio: domingos e terças, nada de frituras ou muitos temperos).

Para se ter uma idéia do quanto é levado a sério o código do Segundo Caderno, outro dia uma amiga me telefonou, e minha cunhada atendeu. Absolutamente constrangida, falando baixinho, avisou:

- Olha... a Bibi está lendo o Segundo Caderno... hehe... eu peço para ela te ligar daqui a pouco, tá?

Minha amiga não entendeu o que poderia haver de tão sério naquela leitura, que não podia ser interrompida.

E não pode mesmo. O Segundo Caderno é coisa muito séria.
Ainda o cartão de crédito

Certa feita, clonaram o cartão do meu pai. E ele descobriu a tramóia num hipermercado, após encher o carrinho de compras, ao ser barrado no caixa.

Isso foi em Belo Horizonte, em 99.

O nome do hipermercado? Extra!

- Filha, li no teu blog a história do cartão de crédito. Lembra quando clonaram o meu? Pois é, foi justamente no Extra! Sabe o que estou achando? Que eles barraram o teu cartão porque já conhecem o histórico da família... hihihi!

Coincidência pouca é bobagem.
Alou!

O Carioca da Gema estava, como sempre, “supimpa”. Teresa Cristina e sua banda sabem o que estão fazendo. O bar estava lotadão, como sempre, mas dava para dançar. Com um pouco de paciência e boa vontade.

Minha cunhada dizia: “Tem que se impor! Tem que se impor!”.

Nos (im)pusemos na fila do gargarejo. Noite 10.