09 janeiro 2005

A mãe fora

Descobri que este blog perde um pouco o sentido sem a minha mãe.
Volta logo, mãe!!!

Ou acha um cyber-café e vem me ler - entre uma bronzeada e outra. Hoho.


A mãe dentro

Minha mãe inventou uma brincadeirinha – e, como toda mãe que se preze, viu-se escrava dela em poucos dias. Era a brincadeira do “com o que é que parece”.

- Manhêêê! Diz com o que é que parece!!!

Foi assim. Um belo dia, tentando nos convencer a ir para a cama, ela anunciou: vistam o pijama e vão para a cama, que depois a mãe vai lá dizer com o que é que parece.

- Como assim???
- Vou dizer com o que cada um de vocês se pareceu durante o dia!

Uau! Nos empolgamos e vestimos o pijama, pronto, mãe, vem dizer com o que é que parece! E ela veio mesmo.

Disse que eu hoje pareci com uma coruja, sábia, concentrada – pois tinha passado o dia “estudando” (eu tinha uns 6 anos, aprendia a ler e rabiscava coisas ininteligíveis num bloquinho qualquer). O mano, por outro lado, tinha se parecido com uma formiga. Trabalhara duramente, ajudando o pai na organização das compras do mês.

Noite seguinte, a mesma coisa. Mas não valia repetir bicho (criança é exigente, você sabe).

Eu era uma cantante cigarra; o mano era um cão amigo. Eu era um dócil cordeiro; o mano era uma lebre veloz. Eu era um bicho-preguiça.

- Bicho-preguiça, mãe???
- Sim, senhora! Não fez nada o dia todo!!!

Sim, valia ralhar na brincadeira (mãe é implacável, você sabe).

Um dia ela ameaçou encerrar a brincadeira.

- Hoje é o último dia!
- É nada!!! (Em coro).
- É sim!!!
Beiços inconsoláveis. Fazer o quê. Se a mãe diz. Pijama. E cama.

- E então? Hoje parece com o quê??
- Hoje não parece com nada.
- ???
- Parece com nada! Não era o último dia? Então! Não parece com nada!
- Como assim, COM NADA???

Ela ficava nervosa, encabulada. Engasgava.

- Vocês são meus filhotes lindos, é isso. Não se parecem com nada, com bicho nenhum. Hoje é só pra dizer que eu amo vocês, que vocês são a coisa mais linda de mamãe, que eu tenho o maior orgulho de vocês, que nem mesmo a selva inteira seria bastante para representar quantas qualidades vocês têm, quantos carinhos vocês me fazem, quantas alegrias me dão. Nem sei o que dizer, olha, estou emocionada aqui. É que vocês são... su-pim-pas!!! E durmam bem.

E beijou a nossa testa, apagou a nossa luz, fechou a nossa porta. E saiu, de mansinho (mãe sai de mansinho, você sabe).

Cinco minutos de reflexão, no escuro. Um de nós quebra o silêncio.

- Ela não sabe o nome de mais nenhum bicho.
- Que nada, é má vontade mesmo. Tinha um monte, ainda.
- Tinha mesmo, eu sei...
- Pato, por exemplo. Pato já foi?
- Pato não foi.
- Sapo foi?
- Foi nada.
- E rato?
- Ui, rato é nojento!
- Tá, sei lá... mas é melhor que SUPIMPAS, não é?
- Ah... é, deve ser.