12 maio 2002

A primeira cena da minha manhã foi o alemão cedendo o lugar no pódium.

Não sou dada a assistir às corridas - de nenhuma espécie -, sempre fico com a impressão de que estão perdendo alguma coisa no meio do caminho... essa ânsia de chegar logo não me seduz. Até porque sou demorada; não sei se por falta de talento ou excesso de zelo com as circunstâncias - não sei, fato é que não sou de fazer o cabelo voar.

Isto posto, a cena do pódium foi triste e cheia de beleza - cá na minha ótica sentimentalóide e ignorante do esporte. Paciência.

Hoje foi o dia das mães, e eu tive o privilégio de curtir a minha. Depois de quatro anos de abstinência, tomando apenas doses homeopáticas de mãe, digamos que o domingo foi tão precioso quanto preciso. E ainda não sei como é que ela cabe ali dentro.

Pensando bem, deve ser de família. Minha Vó Maria, mãe dela, também é de miúdas medidas, e meio que se transborda toda - tamanho encanto.

Acho que foi isso que sempre me surpreendeu naquelas mulheres da família; uma delicadeza de traços e dimensões, uma doçura espontânea e incansável - unhas feitinhas, pés macios, carinhos, carinhos... e, por outro lado, a força exuberante que transcende a forma, explodindo e jogando para o alto qualquer semelhança com a meiga e frágil mocinha que o espelho teimasse em refletir diante de seus olhos.

Desde pequenininha, eu sempre vivi entre um afago e um susto. O afago da doçura, do conforto e do aconchego do abraço; o susto da ruptura, do gesto brusco, da (quem sabe?) loucura. Era o susto da evolução.

Hoje eles dizem - vai passear, vó, curtir a vida!

E ela vai mesmo. Mas não é que esteja paradinha, não. Ela já está passeando, porque nasceu passeando - ora intuitiva, ora inteligentemente - por entre os caminhos malucos da transformação. De ter nascido numa época, ter crescido noutra, ter parido noutra, ter criado noutra, e noutra, e noutra, e noutra. E passeou, colhendo flores e pedras de todos esses tempos, sorvendo as décadas, os filhos, os netos. Absorvendo a vida.

Todas elas têm nos olhos a ternura e a luta, todas se derretem e se solidificam conforme a mais absoluta necessidade. Nunca vi nenhum sentimento fútil, nenhuma dor gratuita, nenhum carinho vazio. São mulheres de motivos concretos, de atitudes certeiras e de corações convictos.

Assim são as mulheres da família, assim é a Vó Maria. Doce feito um afago. E doida de pedra.