06 julho 2005

Registro


Chove ainda. Tempinho propício para cama, café, livros, edredom, pãozinho quente, letras e músicas...

No entanto, há a vida. A torneira do tanque deu de ter incontinência urinária – do nada. Mas o porteiro me resolveu o problema em minutos. Foi lá e comprou a pecinha, trocou, e ainda deu um polimento na danada.

- Tá nova, olhaí! – gabou-se.

Antes disso, contudo, demorei meia hora para achar o tal registro. De quatro, procurava e praguejava: quem foi o ¨$&@#$ que escondeu essa ¨#!@& desse registro, ô &$*@# !!!

Desisti. Eu nem queria mesmo (me dizia). E ia deixar a água correndo, quando me levantei e resolvi olhar para cima, tipo “Deus, me ajude!”. E Ele ajudou. O registro estava um pouco acima da linha dos meus olhos.

Fosse um bicho, me mordia.

É muito bom você sorrir amarelo quando paga um mico desses e não tem ninguém assistindo. Hoho.

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Cara-de-pau


Na aula de Pilates, tinha uma moça que se achava engraçada, e por isso se permitia falar sem parar e desconcentrar todo mundo. Andava de um lado a outro, entre os exercícios. Ia à sala da secretária, voltava, ia de novo, pegava uma bala, abria, chupava, comentava, ria alto. Ah, e tinha um sotaque espanhol muito forte. (Tô dizendo nada, não. Só para ilustrar melhor).

Sabe essas pessoas que acham engraçado se comportar como crianças? Ave Maria.

Claro que eu era a única aluna que estava quietinha no meu canto, fazendo questão de não sorrir para a moça quando ela fazia uma (sem)gracinha qualquer. Claro que eu ignorava. E é claro que, por eu ser a única a ignorá-la, ela se apaixonou logo por mim.

Ficava perguntando para as professoras como era o meu nome, de onde eu vinha, o que fazia etc. Elogiou o meu cabelo. E a minha pele. Só para ver se eu me dirigia a ela e fazia amizade.

Fiquei muda, fantasiada de pufe. Todo mundo estranhando, porque a moça só faltava pedir para eu falar com ela.

Aqui, ó. Não falo. Nem é comigo.

Eu adoro ser cara-de-pau com as pessoas que são cara-de-pau com as outras, e acham que ninguém vai ser com elas.

Esse é um dos meus maiores prazeres da vida.
Desagradável


Tentávamos jantar num restaurante bacaninha da Gávea, enquanto um grupo de #¨&*#$)_(!, na mesa ao lado, sofria de um mal que acomete parcela cada vez mais significativa da população: o desagradabilismo crônico. Conversavam (eufemismo) num volume tal, que você não me acredita. Só ouvindo – até porque, no momento, não havia outra saída possível.

O comportamento humano é algo curioso. Todo vai do psicológico - eu já dizia, outro dia, numa coluna da Época em que eu comparo o “psicológico” das pessoas com os diversos tipos de cães. Psicológico de madame (irritante). Psicológico de bêbado (cão sem dono). E por aí vai.

Pois o psicológico dos desagradáveis, sinceramente? – por mim, podia virar logo sabão. Ia fazer falta nenhuma.



Chuvinha


chuvinha
dá uma vontade
de se enroscar
na pessoa
em questão

para os
questão
felizes,
sim

para os
questão
infelizes,
não


E para os
fora
de questão,

marquises