31 maio 2006

Terapia

Acabo de arrumar uma boa gaveta de criado-mudo, dessas que a gente deixa acumular coisas que até Deus duvida... Ai, ai. É praticamente um Prozac (sem contra-indicações).

***

Recebo o e-mail informativo:

BIBI, A BRUXINHA

Gênero: Infantil / Aventura
Classificação: Livre
Sinopse: Só quando completam 15 anos é que as bruxas ganham as suas tão esperadas bolas de cristal. A bruxinha Bibi, filha de mãe bruxa e de pai mortal, ainda nem fez 13 anos, mas, ao que parece, vai ganhar a bola de cristal mais cedo. Mas, ao ganhar a bola, os problemas de Bibi se multiplicam e atingem todos a sua volta.

Bom. Eu não sou Bibi. Sou Bíbi (com o primeiro Bi mais forte). Mas vou aceitar a tal bola de cristal, sim, desde que não me venha com verruga no nariz.

Tem delivery?

30 maio 2006

Bom de concha


Outro dia comentei aqui que não sei por que os cantores e as cantoras insistem em preencher suas músicas com excessivos ooooouuuiiiééé, huuuummm num num, néééu réu réu, etc – quando, é evidente, há fartura de bons letristas dando sopa por aí.

Depois fiquei me perguntando: sopa de letristas? Onde mesmo? Às vezes a gente esquece, mas depois lembra. Tem, sim.

Ontem eu fui assistir a um show de um carioca maneiríssimo (como dizem os próprios), o Cláudio Henrique
, que está lançando seu segundo CD – Número Dois, pela Universal. Trouxe para casa boas colheradas da tal sopa.

Aliás, no caso dele, boa e farta sopa. É o máximo quando a gente topa com um letrista que não fica de frescuras e enche logo a concha: assim é o Cláudio, do tipo que faz crônica musicada. Conta (e canta) histórias cômicas e dramáticas, com desfechos inusitados; refrões com ponto de interrogação e melodias sortidas que respondem – e deixam no ar ao mesmo tempo. Bom de concha, bom de verso.

Olha só o “Nego Besta” dele:

“...
Mas o tempo passou
E quando era moço foi soldado
Saiu do quartel revoltado
Trocou o penteado
Por trancinhas Djavan”

Perguntou se gostei do show. Digo que foi das melhores coisas que ouvi ultimamente, ele dá um riso e agora segura a concha: “Tá, não exagera”.

É sopa??!
Bom e barato

Se você dirigir bebum (mais de 6 decigramas de álcool por litro de sangue), vai pagar multa de 900 Ufirs. Seu veículo será retido, a carteira será recolhida, e o seu direito de dirigir será suspenso. É infração considerada gravíssima.

Já “ultrapassar veículo em movimento que integre cortejo” só dói 50 Ufirs (R$ 53,20) no bolso, e mais nada acontece. É falta leve. Três pontos na carteira. Três pontinhos...

Não sei você, mas eu não penso duas vezes: furar procissão é MUITO mais legal!

(Como vêem, sigo estudando para a prova de atualização do Detran...).


Primeiros socorros

Agora falando sério, aprendi algumas coisas que eu não sabia sobre primeiros socorros nesta cartilha do Detran. Pequeno probleminha: só de ler sobre sangue, pulso, parada cardíaca, desobstrução das vias aéreas (enfiando o dedo na boca dos outros para arrancar dentes quebrados, por exemplo) eu quase tive um treco. Gelei e fui dar uma respirada na varanda, juro.

E eu sempre achei que fosse macha (portadora de macheza, coisa que independe de gênero) para dedéu...

Estou me aboiolando, e nem para me dar conta!
Sentido obrigatório

E como se não tivesse mais nada para fazer, enfio a cara na cartilha do Detran e estudo para a prova de atualização da CNH.

Ai, meus sais.

26 maio 2006

Saliência


Ó: eu não aceito como amigo no Orkut quem esteja (na foto) sem camisa. Aliás, melhor dizendo, aceito só as moças - desde que estejam de biquíni, top, o que valha.

Ora, o que é que há? Estou tirando a roupa na sua casa, por acaso??

Pode conferir lá nos meus amigos. Todo mundo vestido. O primeiro que tirar a camisa eu deleto da lista. Acho uma falta de compostura entrar no Orkut dos outros com os mamilos de fora.

As pessoas estão achando que a internet é a casa da sogra. Em muitos casos, é mesmo. Pois o conceito está errado; não sei da sogra de vocês, mas a minha é muito direita e até está no Orkut: vestidinha da Silva.

Cheguei a pensar em deletar também quem estivesse de chinelos, mas aí ponderei, faz calor em muitos estados, às vezes calha de a pessoa estar munida de câmera só em momentos de lazer, vá lá: chinelo pode.

Desde que não solte as tiras!!!

25 maio 2006

Baby


Ela chega para mim (via Orkut, mora no Pantanal) e diz, na maior:

“Tô grávida. Acredita?”

Meu Deus, como assim?? Alguém tem que avisar essa criança que a mãe dela tem OITO ANOS!

Pois ainda outro dia estávamos jogando água uma na outra, fazendo guerrinha de canecas, cantando no coral do colégio, viajando pelo interiorzão para os encontros de corais, torneios de basquete...

Como assim, grávida? Temo noção?

“Passa aqui em dezembro para ver as fotos do baby”.

Assim, na maior intimidade com o assunto. Virou mãe cibernética em dois cliques. Pode?

Esse negócio de morar no Pantanal é mesmo só para gente porreta.

:o)
São João

Ontem, vimos pinhão pela primeira vez no ano. E não é que já estamos quase em junho mesmo?

Com esse negócio de Copa e eleições, coitadinho do São João ficou até para escanteio!


Santa Rita

Falar nisso, dia 22 foi o dia de Santa Rita: a das causas impossíveis. Com esse negócio de Copa e eleições, talvez fosse bom... xá pra lá.


São Pedro

Dizem que o pior já passou. Foi embora a frente fria que encharcou o Rio de Janeiro, e agora vamos enfrentar, segundo a meteorologia do jornal, apenas “frio extremo”.

As mínimas anunciadas beiram 13 graus. As máximas irão a 30 no final de semana. “É possível que dê praia”, ainda dizem.

Hã. E cadê o frio extremo???


Santa Paciência

Meu pai recém tinha comprado o ar condicionado, e ambos não se entendiam muito bem, de modo que ele foi recorrer ao suporte, digo, atendimento ao consumidor.

- Um minutinho, senhor, que estaremos transferindo a ligação para o setor...

Blá, blá, blá, musiquinha de meditação, enfim, o ritual conhecido. Meu pai mofava do outro lado da linha, arrependido e acalorado.

Enfim, conseguiu falar com uma atendente especializada - portadora de gerundismo crônico, claro. Explicou a ela o problema. O ar não gelava.

- Não o quê, senhor?
- Não gela. Não refresca. Não refrigera!!

Ela deu meia-dúzia de sugestões óbvias, que ele já tinha tentado, e não era nada daquilo. O ar simplesmente não gelava. Quando acabaram as alternativas cadastradas (decerto, nas “perguntas mais freqüentes” do seu computador), a moça se desvencilhou de formalidades e atacou de improviso:

- Desculpe... o senhor é de onde?
- Do RS, por quê?
- Ah, logo identifiquei o sotaque. He he... O senhor não me leve a mal, mas, sabe como é... He he... O seu ar condicionado é de 8.500 BTUs, está bem, mas aquele friozinho do Rio Grande ele não vai dar não, viu?

!!!

24 maio 2006

Família

Meu pai fazia comidinha em casa, nós duas fazíamos ginástica e eu comentava, que coisa mais magnífica, que coisa sensacional isso de se ter um pai fazendo comidinha em casa e nós duas ali, fazendo ginástica... Sensacional, sem palavras.

- Até porque não se consegue falar aqui, fazendo força, né?
- É... BUFF! BUFF! (Eu bufava).

Que alegria, quem me conhece sabe.


Anos

Meu irmão fez anos, mas inverteu as velinhas do bolo bem na hora da foto.

Vale roubar, é?

Ficava mais simpático, ele achou. Não vou contar aqui quantas primaveras, senão ele me mata.

Em vão, porque eu nasço tudo de novo. Quem me conhece sabe.
Com classe


Já contei a vocês daquela senhora do Pilates - a que é toda elástica e mata a turma de inveja com tamanha flexibilidade. Pois ontem ela ia fazendo um alongamento mais ousado, coitada, não se espichou demais e embolotou inteira no chão?

Contam, contam. Essa eu não vi. Virou assunto na aula de hoje.

“Mas como é que foi? Caiu mesmo?”

“Virou de costas ou caiu de barriga?”

“Juuura? Detalhes, please.”

A professora ia acalmando os ânimos, narrando o ocorrido como se sorvesse um doce.

“Não, não... Escuta. Foi assim, ó. Ela estava nesse aparelho, e eu disse, deita e joga o corpo para frente COM CUIDADO. Ela jogou o corpo, eu disse, peraí que já vou segurar suas pernas, um segundinho só que já estou indo, eu cuidava da outra aluna, já estou indo aí, cuidava da outra, ela foi espichando, espichando para frente, cuidado aí, não vai mais, não, já te acudo, fica parada, fica... Quem disse? A mulher é teimosa!”

“Acabou se estabacando no chão??”

“Nããão... Também não é assim, né? Virou uma cambalhota linda, e ploft!, caiu com a maior classe.”

“Como assim, caiu com classe???”

“Em câmera lenta. Tô dizendo. Foi ou não foi, fulana?”

A fulana concordou, e todas aplaudimos a queda cinematográfica que, puxa vida, afinal perdemos.

Mas, pela descrição, mais um pouquinho e eu estava comprando o DVD. (Essa mulher é, de fato, tão chique que deve mesmo embolotar em som surround!).

23 maio 2006

Mais de Miriam

Outra boa nova da internet: foi lançado o ambiente virtual da jornalista Miriam Leitão
– um empreendimento modernoso com direito a blog, áudio e vídeo, naturalmente recheado com informação e análise de primeira.

Incrível, mas vamos nos pegar dizendo: não se fazem mais blogs como antigamente!

22 maio 2006

Check Up

Fui ao clínico geral fazer um check up geral das minhas condições físicas gerais enquanto pessoa humana.

- Ponha este avental verde, com a abertura virada para frente.

Ponha verde naquilo. E ponha abertura naquilo!

- Posso amarrar aqui? (Dei nó cego na cordinha que fica em volta da cintura. Querendo manter a compostura, achei que era o mínimo a ser feito).

- Pode, pode. Respire pela boca. Solte o ar. De novo. E de novo.

Apalpa daqui, aperta dali, o homem não estica o braço e puxa do armário um martelo?

- Estou em obras, é o que o senhor quer dizer?

- Não. Só vou bater no seu joelho.

Ah, bom, bater no meu joelho.

Pergunte se eu paguei barato pela consulta. Mais: pergunte se, no final, eu tive direito a bater no joelho dele. Hunf.

19 maio 2006

De novo

Socorro. Gripe horrorosa me puxou pelo colarinho (melhor dizendo, pelo decote) e me levou para a cama sem direito a preliminares. Estou me sentindo verde, e devo estar mesmo - verde ou azul, de tão pálida e sem graça. Olheiras, calafrios. Comendo sem gosto e respirando em falso.


Engano

- Alô, aí é do salão de beleza?
- Dão, senhora.
- Como?
- Dão! Dão!!

Pelo aboooor de Deus, dão be faça falar ao telefone com essa gripe!!!


Vende-se lenço

Acabei de fazer um pedido na farmácia. Vitaminas e aspirinas. “E lenços de papel, aquela caixa maiorzinha...”.

Chegou. É do tamanho de uma caixa de ferramentas. Isso aqui dá para uns 30 narizes!

Vendo lenços. É um real o punhado.


Tem febre, por acaso?

Quando era criança, por mais que me gripasse, mal tinha febre. 38 era pico de audiência. Corria a família toda, ela está com 38, chama o doutor, cobre a guria, põe mais uma mantinha que o negócio é sério.

Minha mãe vinha, alisava e beijava a minha testa, um beijo geladinho – era bom negócio estar com 38 graus.

Já meu irmão, o primogênito, aquele que já nascera adulto (do meu ponto de vista – o de pirralha da casa), pois o desgraçado ostentava febrões de 40 graus vááárias vezes por ano. Era um inferno. Sofria de bronquite, de inflamações na garganta, das mais variadas alergias possíveis e imagináveis (até hoje, não pode com poeira), e ainda por cima era portador de um talento raríssimo que o fazia naturalmente premiado enquanto são, imagine enfermo: o filho da mãe era meigo.

Doente, ficava mais meigo ainda.

E era uma criança bonita, o danado. Tinha farta cabeleira negra, levemente ondulada e brilhosa como em propaganda de xampu. O rosto era lisinho e claro; os olhos, enormes e espertos, os cílios alongados, as sobrancelhas caprichadas, a boca cor-de-rosa e carnuda, carro-chefe daquela fisionomia freqüentemente elogiada. Argh.

Com febre, mantinha o semblante sereno. Era a meiguice em pessoa.

De modo que eu bem que tentava, mas não conseguia um Ibope de 40 graus por nada neste mundo. Sempre era a segunda (e última!) colocada – coisas de caçula.

Fiquei com essa incompetência febril, qualquer aspirina sossega minhas crises, vibro quando o termômetro espeta algumas linhas acima do 38, cubro-me até o pescoço e faço “brrrrrr!!!” sozinha para ver se minha mãe aparece e me beija a testa – ou, sei lá, faz alguma coisa que me cure e traga paz de espírito...

Por exemplo, põe algum defeitinho no meu irmão.

15 maio 2006

Dia das mães

Ninguém tinha tempo de sair para comprar um presentinho para ela. Que vergonha. Meu pai se prontificou.

- Eu vou. Compro um presente em nome dos filhos.

Oba! Ele compra - em nome dos filhos, dos espíritos santos, amém. E foi na quinta-feira anterior ao domingo em questão. Mas ela foi junto. (A mãe em questão).

- Não tem graça ela ir junto! – protestamos.
- Claro que tem. Xá comigo. Ponho ela sentadinha numa praça de alimentação e vou às compras. Tem erro, não. Xá comigo.

Na volta, ela me ligou:

- Acabo de chegar do shopping. Ganhei de vocês um perfume ma-ra-vi-lho-so!
- Pô, mãe! Sacanagem! Era para ser surpresa!
- Ah, minha filha, não resisti. Fui lá e escolhi junto. Perfume é tão pessoal, né? Experimentei uns cinco, e escolhi o melhor de todos.
- E qual foi o eleito?
- Sabe que eu não sei? Esqueci.

Provou tantos que esqueceu o escolhido. Mandou embrulhar para presente, e saiu da loja balançando a sacolinha do perfume cuja marca não lembrava mais.

“Só vou abrir no domingo.”

Domingo ela abriu o pacotinho e se perfumou toda. Cheguei para o almoço e comentei que o cheiro era maravilhoso. E, de fato, era.

Até agora não sei o nome do perfume que meu pai comprou em nome dos filhos, ela própria escolheu, mandou embrulhar, esperou até domingo, abriu e ganhou de surpresa.

Não é verdade que só muda o endereço. A minha é modelo exclusivo.

11 maio 2006

Classificados

MÁQUINA
Vndo máquina d scrvr faltando uma tcla.

CAMISINHA
Troco caixas de preservativos vagabundos por roupas de bebê.

PRÓTESES
Troco lindo Pitbull muito bravo por mão ortopédica e perna mecânica.
Acontece mil vezes, aconteceu agora

- Boa tarde, eu gostaria de fazer um pedido.

Dei meu telefone, ele achou lá o cadastro. Pausa.

- Desculpe, senhora. É Bibiana??
- Sim.

Reticências do outro lado.

- Desculpe... É Bibiana mesmo?
- Aham...
- Por Deus que eu achei que estivesse escrito errado! Então... O que vai querer, dona Viviane?
...

A sua cabeça... parcelada, por favor.

10 maio 2006

Permissão

“Vossa senhoria me permita, está querendo fazer a gente de besta.”
(Senador Efraim Moraes – PMBD-PB - Presidente da CPI)


Urgente

Marquei com o corretor, depois de muitas ligações em vão. Amanhã ele virá. Finalmente ele virá. Afastem as cadeiras. Preparem os canapés. Que alívio, o corretor virá.

No entanto, telefonou na véspera:

- Não poderei ir, senhora, sinto muito. É que fui chamado de última hora para ser padrinho de casamento.

???

Vossa senhoria me permita...
CPI sem fôlego


Coloquei os fones e saí para dar minha caminhada ouvindo, acreditem, Silvinho Pereira na CPI.

É estarrecedor. Essa gente é muito burra; nós estamos representados por gente muito despreparada. São burros demais, repito, burros. Escandalosamente burros. O interrogado é burro, mas os que formulam as perguntas são igualmente burros. Alguns podem até ser espertos, mas não são inteligentes. São burros, são vulgarmente burros. É triste. Burrice assim é triste demais.

Dei a minha caminhada, ida e volta, e ninguém disse coisa alguma que valesse a pena escutar.

Ou meus ouvidos não têm a menor capacidade aeróbica, ou essa CPI está completamente sem fôlego – de tanta burrice que deve ter fumado.

09 maio 2006

Chico e o sexo

Chico Buarque, no seu DVD “À Flor da Pele”, constrangido:

- É engraçado dizer isso, né... mas as moças, nos anos 60, pretendiam se casar virgens.

E depois:

- Claro, tinha sempre uma ou outra, mas era exceção: a fulana, que estuda no colégio tal, dá. Ela dá. Mas era exceção.

E conclui, sobre hoje em dia:

- Hoje é muito difícil um rapaz de 16 anos não se deitar com sua namorada de 15. 14 anos.

**

Mãe

É engraçado como, nesta época, todo mundo acha que conhece a minha mãe.
“Sua mãe vai amar!”
“É a cara dela!”
“Cuide bem de quem cuidou de você!”

E outras pérolas divididas em 10X sem juros. Hunf.

**

Mas fiquei babando por um presente: tal de “Day Spa”, na Barra da Tijuca (claro).

Minha mãe passaria um dia inteirinho recebendo banhos cheirosérrimos, massagens relaxantes e tratamentos moderníssimos num espaço desses de estética-holística-zen-chique-no-último.

Caríssimo, of course.

Já disse: nesse ano não dá, mas ano que vem vai rolar – ah, se vai! E, para não ficar uma coisa assim tão enfadonha para a pobrezinha, tchan-nan!... Eu vou junto com ela. Eu me submeto. Encaro.

Bah, sou uma filha supimpa.

**

Pilates

As professoras resolveram fazer um alongamento em grupo (geralmente é individual). Colchonetes no chão, e mandamos ver.

Estica daqui, estica dali, conta até 20 e depois volta devagar. Estou observando uma senhora de quase 70 anos que está ao meu lado. A desgraçada tem um alongamento de pôr inveja a nós outras, porque fez dança e yôga a vida inteira. Um escândalo. A mulher se estica e nem geme, como as pobres mortais. Raiva. E a professora segue:

“Troca a perna!”

Interfiro:
“Eu tinha uma perguntinha...”

“Que foi?”

“Pode trocar a perna com a Suely?”

Quá quá quá geral. Desconcentrei a turma toda, levei bronca mesmo.
Sério - quem tem peito?


Hoje eu fiquei absolutamente chocada, e vou contar por quê.

Minha afilhada tem 12 anos. Há pouco tempo ela entrou no Orkut, e eu recebi um recadinho fofo: “oi, madrinha! Vc tem MSN?”, essas coisas. Como moramos em cidades distantes, o contato é raro. Fiquei toda feliz por reencontrar aquela gracinha de menina – que, infelizmente, e para desgosto da madrinha escritora, usa uma ortografia que beira o indecifrável (axim escritu comu nem sei imitar direito!), mas isso hoje não vem ao caso.

Vamos ao que vem ao caso – sério.

Quando fui acessar o perfil dela no Orkut, havia embaixo alguns “depoimentos” (em geral, elogios que os amigos escrevem sobre a gente, e que servem para fazer uma espécie de média - terceirizada, o que só agrega valor! – com os possíveis visitantes). Num desses depoimentos, encontrei uma coisa que me chamou a atenção: a amiguinha em questão se apresenta no Orkut com uma foto onde aparece só enrolada numa toalha. A menina tem 12 anos. Olhei de perto, e era isso mesmo. Não aparece nada além de um pedaço da toalha, os ombros, o rosto infantil e o cabelo molhado.

Aquilo me deixou espantada. Como não tenho nenhuma amiga de 12 anos, não costumo visitar perfis dessa faixa etária no Orkut. Não sei dizer, portanto, se é comum as meninas tirarem esse tipo de foto e colocarem à disposição do mundo virtual.

Não sei dizer, também, o que os pais e as mães (reais) dessas meninas pensam disso. Se é que sabem que as filhas exibem seus colos nus, rostos infantis e cabelos molhados na rede.

Para mim, já era bastante desconcertante ver aquela menininha, enrolada na toalha, fazendo cara de sensual para a câmera. Cliquei nela. Curiosidade mesmo. Quis ver o sobrenome, a origem, se havia pai ou mãe no perfil, enfim, acho que eu queria mesmo era ver a assinatura do pai ou responsável. Claro que não havia nada disso. Mas havia coisa bem pior.

Na página de recados dela, tinha lá um sujeito adulto, certamente com mais de 30 anos, que dizia: “Não sei... posso ser, quem sabe, seu novo amigo...”.

Achei o tom daquele recado muito esquisito, e fui clicar no perfil do cara. Não deu outra. Na página de recados dele, várias (e ponha várias nisso!) meninas aparecem perguntando: “Desculpe, eu conheço você?”.

Para quem não é familiarizado ao Orkut talvez isso não esteja muito claro, então eu explico: o sujeito visita muitas meninas menores de idade e manda recados “puxando um papo”.

Quem cair na rede, caiu.

Voltei à página de recados da menina de toalha e fui pesquisar qual havia sido o primeiro recado dele a ela. Como teria iniciado o papo?

Não apareceu nada. No Orkut, a pessoa que envia um recado pode perfeitamente apagá-lo quando bem entender. Ele deve apagar todos.

Eu sei que vocês estão pensando em pedofilia. Mas eu não estou (não só nisso).

Estou é pensando no Dia das Mães. E no Dia dos Pais, e no Dia dos Avós. E no dia em que alguém vai ensinar à amiga da minha afilhada noções básicas de valor, comportamento e perigo - sem temer ser rejeitado pela adolescente, ser taxado de “careta” ou “corta-barato”. Alguém que não queira ser mais um amiguinho “qui escreve axim”. Porque aquela menina, que mal tem peito para segurar a toalha enrolada ao corpo, certamente está enchendo a cabeça de abobrinhas que poderão lhe custar mais caro do que ela tem discernimento e maturidade para imaginar hoje.

E, àqueles que têm discernimento e maturidade, eu pergunto: cadê peito para ensinar???

05 maio 2006

Salão de beleza

A moça grávida contava que, ontem, quase morreu de desejo por uma sopa de cenoura.

- Não adianta dizer que é mito. A vontade que a gente tem não é igual, sabe? É exagerada mesmo. Eu ficava aguando, desesperada pela sopa!

A mulher era uma simpatia, todo mundo ficou ouvindo as histórias de grávida e adorando. Dali a pouco, gemeu e reclamou de azia. A mulherada ficou sensibilizada, mas ela nem se abalou:

- Não façam essa cara de pena, não. Essa azia não é do bebê. É da carne seca com cebola que eu acabei de comer, nossa como eu comi! E depois ainda tracei um bolo de aipim com coco que estava uma delícia! Vou tomar um Luftal e logo passa. Esquenta não.

Aaahh, bom.

***

Outro assunto que imperava era a plástica.

Chegou uma mulher de uns 40 e poucos, loira, cara de inteligente (ora, óculos de séria), e com um decote que exibia um contorno meio suspeito. Primeiro achei que era preconceito meu, quis pensar noutra coisa. Mas não conseguia, aquelas duas bolotas saltando pelo colo da mulher, sabe como é, a gente quer ser delicada, mas a curiosidade.

Vou fazer o quê? Ler a Caras?

Graças a Deus ela encontrou uma amiga, e as duas começaram a falar. A amiga era gordinha (gordinha é gentileza, tá?), mal cumprimentou a outra e foi logo dizendo:

- Eu já avisei meu marido: vá se preparando! Daqui a dois ou três meses eu vou entrar de novo.

(Fiquei pensando: entrar? Onde?)

- É, minha filha, vou entrar na faca!

(Jesus...)

- Quando fiz a primeira, ele me chamava de maluca. Mas pagou, né. Tem que pagar, é o que eu digo: você também usufrui, nego! Tem que comparecer. E ele comparece mesmo, tadinho, nem estou reclamando... Agora quero colocar silicone, porque da outra vez eu não coloquei, só diminuí e subi um pouco. Tola. Está certo que não cai nada, quando eu tiro o sutiã fica tudo no lugar, não despenca e tal. Mas eu sinto falta desse seu desenho do colo, sabe? (E fazia as bolotas da outra com as mãos dela, cá em cima).

- Sei, isso aqui (cá em cima) só com silicone mesmo. Minha médica disse. Tem jeito, não.

Lá do outro lado, uma manicure pedia uma pausa à cliente.

- Preciso tomar meu Dorflex. Menina, tô à base de Dorflex, desde que fiz a manutenção.

- Que manutenção?

- Da minha cabeça. Aliás, do cabelo. Implante!

- E dói?

- Dói um absuuuurdo!

Perua de cabelo cor de telha, até agora calada, abriu a boca para censurar:

- Você é doida! Fazer implante, depois ficar com a cabeça dolorida! Tá maluca!!!

- Ué! Estavam falando até agora de plástica! Pois essa aqui é a plástica que eu posso, tá???

Ficaram todas quietinhas.

04 maio 2006

Péssima hora

Essa greve de fome do Garotinho até teria graça (o cara é gordo, e tal), mas numa hora dessas...

Francamente, não tem a menor.

03 maio 2006

FOTO é apelido!

Quando eu fui chamada para escrever uma coluna para a revista Época, um dia ela me ligou:

- Alô, aqui é a Mirian, estou ligando para marcarmos a foto.

Na primeira frase, identificamos o sotaque uma da outra. Mas continuamos marcando a data e o local da foto - que serviria para me apresentar aos leitores. Até que uma de nós (não lembro qual) disse:

- Vem cá, tu é gaúcha de onde??

Caímos na risada. É muito bom encontrar conterrâneos longe dos pampas.

Mirian Fichtner, a gaúcha em questão, já mora no Rio há pelo menos 20 anos (se bem me lembro), é uma das fotógrafas mais brilhantes do Brasil, premiada internacionalmente, talentosíssima, perspicaz, sensível e dona de uma simpatia capaz de deixar qualquer ser fotografado à vontade. Aliás, acho que ela deixa à vontade até as pedras da calçada - que vão, gentilmente, lhe servir de cenário.

Vocês podem dizer se estou exagerando – pois a Mirian acaba de lançar o seu e-book fotográfico. Quem quiser ver o escândalo (no bom sentido) que essa mulher produz, clique aqui.

Ah, e cuidado com o relâmpago!

02 maio 2006

Crash! – No Limite

Finalmente eu assisti ao vencedor do Oscar de melhor filme. “Crash – No Limite” não tem nada de mais, e é simplesmente bom demais. O melhor que eu vi nos últimos tempos.

Não sei como bateu (sem trocadilho!) em vocês, mas, para mim, o filme não fala de raças, tampouco de violência – duas questões centrais que permeiam o roteiro do início ao fim. Nada disso. Ele não está falando das coisas que grifa; está, sim, usando os grifos para falar de coisas que estão nas entrelinhas.

Crash é sobre as complexidades humanas. E esse assunto - que é tão delicado - é belamente tratado por contraste: com a violência das cenas chocantes, muitíssimo bem dirigidas, interpretadas por atores em momentos raros, com paixão, com comoção, com fúria, com intensidade, com exagero (sim!), com inverossimilhança (sim! É cinema!!), com todos os termos ditos – que, no fim das contas, servem para nos conduzir aos indizíveis.

Para não ser apenas uma desconcertante obra das entrelinhas, Crash também é bom de linhas: traz um roteiro impecável, bem amarrado, que lida com ironia e faz o que poucos têm feito ultimamente – conta histórias. Sem frescuras. Pá-pum. Recomendo.


Fuxiqueira, eeeeeeu?

Levei um baita susto ao entrar no Orkut. Dizia lá: “veja quem visualizou o seu perfil recentemente: fulano, fulano, fulano, fulano e fulano.”

??

Ou seja, o Google criou uma ferramenta que permite a identificação da fuxicagem.

Sim. Qual o nexo?

Tô fora. Não quero nem saber o nome dos fulanos que me visitam, tampouco desejo que os meus fuxicados saibam que eu andei bisbilhotando a vida deles. Eu, hein? Troço mais antiético!

Fuxico é fuxico; tem que ser pelo buraquinho da fechadura, ou deixa de ser fuxico.

Fui lá e desabilitei o (des)serviço. Pelo menos eles dão esta opção: você aperta num botão, e tudo volta a ser como antes.
...

Mentira, vai. Todo mundo quer saber quem anda visitando o seu perfil. Mas não quer ser identificado quando visita o dos outros. (No Orkut dos outros, você sabe...).

Como o serviço só permite que você flagre o visitante se também se colocar na reta, o negócio é escolher: ou mantém a privacidade (mas também não mata a curiosidade), ou sai logo da moita (e fica sabendo quem teve interesse em fuxicar na sua vida).

Óóó, dúvida relevante.

Claro que eu escolhi ficar na moita, como me convém. Sou uma curiosa confessa - mas assim, no genérico. Não me leve para o lado pessoal, que eu negarei até a morte. Hoho.