07 maio 2004

Eu gosto da TPM


É como se alguém pegasse o amplificador do mundo e torcesse todos os botões para a direita: graves, agudos, médios, volumes em geral. Tudo no máximo. Se chove um pouquinho, é dilúvio. Se alguém chega sozinho, é uma multidão invasora armada de facas. Se me fazem um agrado; ou é muito - e eu não mereço -, ou é pouco - e tenho vontade de xingar-lhe a mãe.

Sei que estou na TPM quando um comercial de margarina me faz lacrimejar, e, trinta segundos depois, estou profundamente revoltada com a propaganda e o marketing, os compositores de jingle, os redatores de publicidade, os diretores e toda essa corja mercenária que nos impele a cometer rombos no orçamento doméstico em nome do prometido colesterol zero. Abutres!

Trinta segundos depois, estou lacrimejando de culpa.

Nesse período que nos visita a todas, mensal e pontualmente como uma velha tia-avó ácida, estamos sem medidas. Perdemos os meios-termos, as meias-palavras e os meios-de-campo. Estamos, ou no ataque, ou na defesa (isso quando não nos pegamos com as unhas e os dentes cravados na bola, a rolar no gramado, indiferentes ao jogo).

O adversário da peleja é o de menos. Se Deus nos deu a graça de nascermos femininas, foi justamente para que não perdêssemos tempo com esses pormenores: atira-se no primeiro que se mover, e pronto.

Perder as estribeiras, a compostura, o sono e a paciência. Tudo isso parece ser um estrondo comportamental capaz de nos reduzir – e aos que nos cercam – a pó. Mas, e se, em vez de nos entupirmos de antidepressivos ou enfiarmos a cabeça debaixo do travesseiro enquanto a “coisa” não passa, resolvêssemos converter essa energia vulcânica em “poder de fogo”?

Há uns cinqüenta anos, no tempo em que a nossa tia-avó ácida era apenas uma debutante angelical, talvez não pegasse bem a falta de medidas numa dama da sociedade. As únicas que perdiam as medidas eram tachadas de... uma palavra bem pior que “desmedidas”, enfim.

Hoje, entretanto, uma mulher desmedida pode viver tranqüilamente. Pode sair na rua usando jeans e corpete de renda, não pode? Pode xingar a mãe de quem quiser, pode pedir vodca pura no balcão de um boteco, pode entornar quantas doses quiser e ainda assediar o garçom. Pode ou não pode?

Portanto, podemos também gostar da – tão mal falada – TPM. Ora, bolotas! Faz parte de nós!

Eu gosto da TPM, se você quer saber. Gosto de não ser tão linear. Gosto de me curvar ao sabor dos ciclos, alternando hormônios, sensibilidade, ponto de vista, paixão e ódio. Gosto de cometer loucuras, ou cogitar cometê-las – só para brincar de ser eu mesma, porém amplificada.

Como eu seria se fosse “100% TPM”? (Dá uma boa estampa de camiseta, vão roubar minha idéia, se é que não fui eu a ladra). Seria insuportável; mas será que já não sou? Seria intensa? Seria ousada? Seria sexy? Seria agressiva?

Talvez esta seja mais uma das vantagens de ser mulher: uma vez por mês, você tem uma amostra grátis do que seria você-mesma-em-versão-turbinada. Mesmo que algumas coisas ultrapassem os limites do bom senso (e por que não?), mesmo que você pise na jaca, chute o balde etc.

Tomando o devido cuidado para não transformar esse período num inferno para os pobres coadjuvantes do seu ciclo menstrual, acredite, esta pode ser uma experiência das mais criativas: rabisque suas impressões sobre o que quer que seja, e depois volte a ler dali a quinze dias.

E me diga se não somos um divertido “chope com as amigas” dentro de nós mesmas.