30 março 2009

No tempo do Info Zero

Estou maluquinha com esse negócio de
As pessoas agora escrevem e-mails como se fosse
Emendam conversas pulam vírgulas dizem coisas sem nenhuma
Entrei no Twitter (atrasada)
Ai que saudade do tempo em que
Não havia essa info info info
Bastava uma sombra, meia goiaba
e um assunto espichado
que ia até o fim.

24 março 2009

Razão e felicidade

Um desses e-mails que circulam por aí dá pequenas dicas de como viver mais. Uma delas é “pensar positivamente”. “Pessoas otimistas podem viver até 12 anos mais que os pessimistas.”

Se isso é verdade, significa (ou “pode significar”) que os pessimistas morrem 12 anos antes. O que, por sua vez, “pode significar” que eles tinham toda a razão. Hoho.

O que você prefere? Ser feliz ou ter razão?

Pensemos bem. É que a razão dá um prazer danado, e ela se sustenta até na preguiça, na improdutividade e no tédio, se for preciso. Ter razão consola quando a gente nem tenta porque não ia dar certo mesmo, e adivinha?, realmente não deu. Então, a razão dá uma ninhada de filhotes cheios de ventosas que grudam e ficam repetindo: eu te disse, eu te disse, eu te disse!

Já a felicidade é escorregadia e dá um trabalho danado administrar. É bem melhor de viver, mas muito pior de "ir levando".

Se você não disser nada, a razão diz ela própria. É cheia de cem por centos, totalidades, coerências mil. A única coisa que a felicidade diz é sobre a pessoa que a experimenta - que, por mais feliz que seja, é feita de buracos e incompletudes que não sabem ligar lé com cré. Pensa que a felicidade liga?

Se você empacar, a razão buzina convictamente e joga luz alta nas suas certezas milenares. Já a felicidade passa, sorrateira e displicente, e vai morar em alguém que leve a alma para tomar sol de vez em quando.

16 março 2009

Acordo psicortográfico

Estou achando muito estranho que "paranoia" não leve mais acento. Muito estranho.
Acordo ortográfico, sei. Muito, muuuuito esquisito.

14 março 2009

Origens e Modernidades

Todas as letras do meu computador aumentaram de repente, e eu não tenho a menor ideia de como fiz isso. Eu ia dizer “a fonte” (das letras) aumentou, mas, francamente, certas expressões não conferem muito com as minhas impressões sobre elas – sou do tempo que fonte era coisa de água e não de letra. O que é que a gente tem que engolir em nome das maravilhas de modernidade.

Por mais que eu tenha blogs há 7 anos e navegue na internet desde 1995 (!), continuo me achando uma pilota de carroça, chacoalhando e abanando as moscas enquanto – me parece – o resto do mundo faz “assim” com o dedo, e é o que basta para o bicho (a máquina) responder a contento sem pestanejar. Comigo é nos cascos; não sei se me falta uma mandinga qualquer ou se é coisa pessoal mesmo.

**
No Sul, nós temos muito essa intimidade com os cavalos, por isso fiz a referência. Não digo nem o bicho físico. Mas a ideia, os termos, tudo isso que forma o imaginário equino do gaúcho e acaba orientando sua conduta pela vida afora, mesmo que vá trotar por outras bandas, como foi meu caso e de tantos conterrâneos que identifico pela bandeirinha na traseira do carro. Lá vai o(a) gaúcho(a)!, digo para mim mesma, como se de um primo se tratasse. Bah, nunca vi mais gordo.

É tão engraçado como nos sentimos unidos quando moramos longe dos “pagos”, e sobretudo quando guardamos distância segura uns dos outros – de modo a nos livrar desse tipo de piadinha irônica que acabo de fazer aqui, por exemplo, e de outras bem piores. Nós, gaúchos, temos o costume de nos espetar mutuamente quando estamos próximos, e só há um motivo para isso: é que, quando estamos distantes, não conseguimos.

Piadinhas à parte, ao contrário do que se pode imaginar, em inúmeros casos essa troca de farpas é sinal de carinho explícito. Ou não.

**

Mas, voltando às patas do teclado, levo fé no entendimento que nos unirá, cedo ou tarde, em doce harmonia, já que me empenho sincera e humildemente em construir uma relação sadia e produtiva para ambas as partes. Olha que já se vão anos, e sigo me esforçando. É verdade que não tenho recebido muito apoio. Mesmo assim, persisto. Colaboração nenhuma. Apenas atitudes mesquinhas, egoístas (aumentar e diminuir o tamanho das letras sem me consultar, confundir maiúsculas e minúsculas, para dizer o mínimo). Não há de ser nada, não me abalo. Ainda que não receba consideração, sequer piedade...

(A coisa dos cavalos é mesmo de origem gaúcha; já esse dramalhão descarado vem do meu bisavô italiano e dos que dele descendem. Nada disso culpa minha, esclarecido.)

04 março 2009

Dentro

Ai, tem dia que acordo começando tudo com ai. Ai que não é dor. Ai que não é queixa. Ai que não é manha, charme, ai de Deus ou ai de mim.

Ai que é um gesto - e bem que sacudo, mas não cai.

Fora

Bolsas, pastas, gavetas, caixas de sapato, latinhas, bolsos, prateleiras: meu deus, descubro mariolas de goiaba em toda parte!

03 março 2009

O Garçom do Google

Só agora eu me rendi ao Gmail, e vou dizer uma coisa: ou eu sou mesmo muito caipira, ou tudo isso é meio assustador.

Escrevo um e-mail para a minha mãe convidando para ir à piscina, por exemplo. Na barra vertical à direita, “Anúncios Google” me dão as seguintes cantadas: Tudo para iluminar sua piscina. Móveis em alumínio, clique. Sua piscina está aqui. Etc.

No tempo do carimbo, a correspondência da gente era – supostamente – confidencial e sagrada. Agora, toma-se um assunto em família qualquer, pesca-se meia dúzia de palavras convenientes e aquilo vira massinha de modelar para o marketing alheio.

De um lado, assustador. De outro, profundamente redundante e chato esse garçom virtual a nos oferecer sempre os mesmos pratos – ou seja, essa publicidade “inteligente” (pretensiosa, na verdade) julgando que devo me interessar por aquilo que me interessei ontem, e anteontem, e semana passada... O cão mordendo o próprio rabo?

É como se o garçom estivesse ouvindo o nosso papo, e eu dissesse “suco de laranja, patati, patatá, suco de laranja, patati, patatá, suco de laranja”. Aí ele se aproxima, com a cara mais canastra do mundo, e diz:

- Agora vou te dar uma ideia genial que vai te surpreender: que tal SUCO DE LARANJA?

Uau, quanto charme.