02 outubro 2002


ERRATA

Errei, errei!
Eu não tinha 9 anos quando da novela Top Model, mas uns 12. Quase me rejuvenesço três anos. (Mal, não faria).

Deve ser a crise dos 25 anos - que eu farei no dia 24 de novembro próximo, se Deus ajudar e a Benedita deixar. Mandem brindes!
Imagine, 25. Eu tinha certeza de que, aos 25, seria uma mulher formada, bem sucedida, linda e cheirosa, a fazer compras no shopping com o Breno (filho, já com um ano e meio) e um certo Capitão Rodrigo (maridão, claro).

Mas tudo passou tão de repente, foi até divertido, nem cansei, todavia, muito embora esteja feliz como pinto no lixo, não arrumei canudo algum, nem tampouco sucesso, lindeza, Breno ou Rodrigo. Vai-se vivendo, oras.

Esta coisa de planejar é comum aos mortais, mas carece um pouco de inteligência. Dos planos que fiz, poucos vieram me dar bom dia na vida real.

O plano bom é aquele que, ao invés de ser planejado, planeja a gente. É o pensamento que te pensa, o sentimento que te sente, a vida que te vive.

Quando eu comecei a tocar violão, tinha certeza absoluta de que a coisa mais difícil na vida era fazer um Fá maior. Aquilo não era pra mim, definitivamente. Cantava com gosto, mas cheia de pé atrás. Minha mãe dizia “te solta!”

O plano vinha me comendo pelas beiradas. Sorrateiramente, o sentimento me sentia, e o pensamento me pensava: no fundo, é exatamente nessas seis cordas que eu vou me segurar enquanto ainda não puder me soltar.

Com o tempo, fui caindo cada vez mais dentro. Dentro da caixa do violão, onde o barulho é mais intenso e a gente sente a vibração de cada nota no peito... diacho, o peito. A primeira coisa que eu vi – e me encantou – no contrabaixo foi justo o peito. O meu, que ficava tremendo ao som do grave produzido pelo instrumento.
Outro plano que eu não planejei – o baixo me pegou pelo peito, e não larguei dele até hoje.

Essas coisas que a gente não entende. Quando me perguntam “e por que o contrabaixo?”, eu me seguro para não cair no ridículo de dizer: toco baixo porque o baixo me tocou primeiro.

Paupérrimo, não? Pura verdade.

Assim que eu parar de tomar essa vacina anti-Breno, e se, então, o Breno vier chorar na minha vida, terei muito prazer em oferecer-lhe meu peito para que possa se tornar uma criança saudável – alimentada de um leite grave, cheio de oitavas abaixo, dedilhado profundamente com muito amor e alguma melodia, que ninguém é de ferro.

Um leite em fá maior, leitinho afinado de quem seguiu, sobretudo, o instinto. Na hora de compor – vida ou canção -, garanto que não há coisa melhor.
Ah, eu acho engraçado. Quer dizer que estão reivindicando atualizações no BiBlog, como se clientes fossem? Ok, eu mereço. Agradecemos a preferência. A sua ligação é muito importante para nós.

Mais de 5 mil visitas neste site, e eu continuo cada vez mais dura, tentando escrever um livro para ver se descolo algum, concentrada nos meus personagens, enlouquecendo meus pobres amigos que já não sabem se sou fruto de ficção ou realidade, sonhando viver de brisa ou vento ou poesia mesmo. E me vêm cobrar assiduidade artística.

Pois bem, caríssimas leitoras (suspeito só ter mulher me lendo, além do Duda e do Mano), cá estou, desprovida de inspiração, mas nutrida de afeto pela literatura até os dentes. Nove da manhã de quarta-feira, acabo de ler no Globo que “o tráfico planejou ação que parou o Rio”.

Chega a ser engraçado – perdoem meu humor negro e, por vezes, infame. Primeiro, que o rio costuma correr indefinidamente, já diziam os poetas antigos. Hoje em dia, eis que o rio pára.

Diziam os telejornais extremamente confiáveis da nossa cidade, ontem mesmo, que “uma onda de boatos fez o comércio parar em alguns dos bairros do Rio de Janeiro”. Imagina, falando assim, boatos. Parece coisa de gente doida, que um passou para outro, que passou para outro, e acabou se formando uma ondinha, quase uma marola, que – olha só! -, plim!, parou a cidade.

Comerciantes desvairados, à beira de um surto descabido de pânico, simplesmente acharam melhor perder fortunas, no final de um mês tenso de economia instável, porque “boatos” invadiram a cidade. Como fossem os ETzinhos do Mel Gibson, entortando plantações alopradamente. Boatos.

Hoje, o imparcial Globo afirma que foram os traficantes mesmo. Então eles existem, os traficantes?? Ora, quase me choco com tal novidade. Só falta me dizerem que eles mandam nesta cidade maravilhosa, agora. Só o que falta.

Nossa governadora, entretanto, diz que está tudo sob controle. Acredito que sim. “Tá tudo dominado”. Por quem, mesmo??

É por essas e outras, caros ouvintes – para variar a expressão -, que eu prefiro bater um papo com os ETs a enlouquecer meus poucos neurônios com essa gente de saúde duvidosa. Depois, a doida varrida sou eu.

Não consigo, contudo, deixar de me encantar por esta cidade amalucada e incoerente. De um lado, mar. Do outro, montanha. Só podia mesmo dar nisso.

Há quase cinco anos, trouxe meus trapos e hospedo meus versos por estas bandas. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. A confusão inspira, amigos. E a confusão, em si, pira. (Sorry).

O Rio de Janeiro virou parente: só eu posso falar mal, sabe como é? Se pego alguém maldizendo a cidade, viro bicho. Meu bairro, então, é sagrado. Fale mal do Recreio e arrume uma inimiga de carne e prosa.

Ainda lembro, como se fosse ontem, a primeira vez que pisei nesta terra. Turismo em família. Viemos ao Recreio dos Bandeirantes, que pouco era além de mar e mato, e conhecemos parte do cenário da novela Top Model – a Malu Mader era meu ideal de mulherão, eu tinha nove anos e muita fantasia na cabeça. Lembra, mãe?

A “casa do Gaspar” (Nuno Leal Maia, na época em que eu nem valorizava um telhado grisalho tanto assim) era um sonho real. Eu estava em Hollywood, eu era feliz.

Tinha a “barraca do Sal(danha)”, onde o Evandro Mesquita interpretava um surfista natureba pra lá de atrapalhado que vendia sucos e lanches. Aqui, bem no Recreio. Eu estava vendo tudo aquilo, sonhando em me tornar a Malu Mader ou coisa parecida, e pedindo ao papai do céu que, assim que minhas pernas fossem grandes o suficiente, me pusesse a morar nesta cidade-cenário.

Ele me pôs.

Não me tornei a Malu, nem tampouco coisa parecida. Pensando bem, talvez coisa parecida: Malu-ca eu consegui ser.

Já é alguma coisa.