25 janeiro 2006

Dois ótimos


"Revisar era assim: o camarada traduzia como a cara dele e eu emendava como a
minha."
Mário Quintana

"Tá bem, nós todos vivemos a perigo
mas meus males são piores
Acontecem comigo."
Millôr Fernandes
Periódico


Hoje o jornal está uma pancada atrás da outra; ou seja, a gente mal se levanta da cama e já toma as devidas bordoadas da realidade. Como diz um amigo: é a vida, filha.

Não. Vamos começar de novo.

Hoje o jornal está cheio de notícias horríveis – assaltos, assassinatos, traquinagens político-eleitoreiras etc. Ou seja: está muito difícil acordar, calçar os chinelinhos, pôr o café à mesa, e não se engasgar com a implacável tradução do mundo em letrinhas miúdas.

Outra tentativa (tenham paciência comigo).

Hoje o jornal está de lascar. Complicado levantar da cama, calçar as havaianas (com bandeirinha), pôr o café, e engolir (a seco) os relatos do dia. Aliás, que dia!

Última, última.

Hoje o jornal está tenebroso. Fico olhando para ele e pensando: pena que eu não tenho um gato.

20 janeiro 2006

Banda larga


É um vício. Se estou no computador e preciso ligar para a farmácia, procuro no Google – em vez de andar até o imã de geladeira.

(Você acha que eu vou morrer cedo?)

Trata-se de uma incongruência, mas é assim mesmo. Depois eu saio desvairada e vou fazer Pilates, caminhar no calçadão com a pressa das mulheres que precisam urgentemente manter a forma (ou seja: perder 3kg).

Essa banda larga é um perigo. Vai um chá diet?


São Sebastião

Hoje é feriado aqui no Rio - dia de São Sebastião, padroeiro da cidade. Tenho muita curiosidade sobre os santos, com todo respeito. Tal como os médicos, cada qual tem sua especialidade, e a gente deve buscar auxílio conforme o (como dizer?) setor da encrenca. Tudo muito organizado.

Pois consta que São Sebastião protege contra a fome, a peste e a guerra. Acho que os cariocas – e os inquilinos – devem se agarrar com afinco nas preces, hoje e sempre, porque a coisa aqui não está nada fácil.

Além disso, não sei se vocês sabem, mas São Sebastião também é considerado padroeiro dos homossexuais. A informação abaixo é de um site gay de MG:

“Os homossexuais veneram são Sebastião como protetor desde a idade Média. Na biografia do santo, consta que era o soldado preferido do Imperador Diocleciano, considerado pelos historiadores como um dos imperadores mais homossexuais de Roma.”

???

Cabe reflexão: como seriam, então, os imperadores MENOS homossexuais?

E os “mais ou menos”?

E, ainda, os ligeiramente? Os vagamente? Os dia-sim-dia-não?
...
Agora, o mais importante: a mãe deles sabia disso?

18 janeiro 2006

Recado


Tá assim de gente que manda “recadinhos” pelo blog.
Pois agora eu também vou mandar.

Deus: QUALÉ???
Nem só de pagode...

Atenção: meu vizinho agora está ouvindo Rush (YYZ). Uau!!!


Para trás?

Acabou o ano, acabou o calendário (do rádio-táxi, meu Deus!) que nós tínhamos aqui. Meu irmão não se abalou: tirou a folhinha de dezembro, e deixou por baixo a de janeiro. De 2005.

Tudo bem que a gente não gosta de envelhecer, mas... deve haver outros meios de se chegar melhor aos fins, hehe.


Urina

Hoje deu no jornal que a nossa querida praia do Recreio está impossível, veja só, por conta do extremo calor que assola o Rio. Antes eram as chuvas.

Ou seja: quando não é uma coisa, é outra.

A água do mar, dizem, anda geladérrima! - não se agüenta um mergulho.

Por outro lado, o tal “Cuca Fresca” (chuvisco que respingaria de dentro daquelas placas ENORMES da prefeitura) está seco, seco. E o chafariz que instalaram na Praia da Macumba (!!), alegria da criançada e única opção para o banhista se banhar, segundo consta, fede.

E fede muito, e fede a urina.

Um entrevistado afirma que pegou uma micose depois de ter se “lavado” ali, e que a água é reutilizada – imagina!

Ou seja: quando não é uma coisa, é outra. Na calçada é xixi. No mar... bom, o mar está gelado. (Se a prefeitura não sabe o que faz, Deus sabe. Hoho).

10 janeiro 2006

King Kong


Fui ver King Kong. Não sou a mais indicada para criticá-lo, porque não tenho saco para filmes com muita ação, mas esse foi dos piores que já assisti. Putz, que bomba!

Roteiro fraquíssimo, personagens insossos, desenvolvimento enfadonho. Pouco humor – não passa de meia-dúzia de piadas apenas razoáveis. Inspiração zero.

Quando quer ser delicado, vira piegas. Quando quer ser bruto, aí consegue (mas me dá um macaco daquele tamanho que eu também consigo).

Dois bons atores são sub-aproveitados: o primeiro é o Adrien Brody (ex-Pianista), que ficou achatado num personagem mocinho-meloso-sem-sal. O segundo é o bom comediante Jack Black (Escola de Rock), que virou uma caricatura meio lá, meio cá; tipo um traço sublinhando texto que não existe.

E não vou elogiar mais, tá?


Continua lindo

E as chuvas cessaram. E o Rio voltou a sorrir. E o dia esteve ensolarado. E vi o Cristo da janela da minha analista. E me analisei sob seu claro abraço. E minhas neuroses se sentiram acolhidas. E me inspirei, de fato. E passei duas vezes pelo aterro do Flamengo agradecendo aos céus. E vim até a Barra apreciando a paisagem.

E ainda almoçamos com um carioca que dizia: “o Rio Grande do Sul é uma coisa fantástica!!!!”.

Assim, cheio de exclamações.

Ou seja, o Rio de Janeiro continua lindo.


Mais Kong

Desculpe voltar ao assunto, é que me lembrei de uma cena que aconteceu na poltrona.
Menino de uns 10 anos assiste ao Mico Kong com a mãe. Lá pelas tantas, um personagem diz:

“Estou exausto!”

Menino lê a legenda e pergunta:

- Mãe, ele disse que está o quê?
- Exausto, meu filho.
- E o que é isso?

A mãe explica, e eu fico pensando.

(Vem cá, um piá de 10 anos já não deveria estar exausto de saber o que significa exausto???)

06 janeiro 2006

Você sabe quem é Bruna Surfistinha?


Eu também descobri há pouco. É uma garota de programa, aliás, é uma menina de uns 22 anos, que brigou com os pais e saiu de casa – acho que aos 17. E foi ser garota de programa.

Daí ela fez um blog onde contava os programas, e teve muitos acessos (o blog... E ela também, naturalmente!), e virou, mexeu, lançou um livro.

Nesta ordem: virou, mexeu e lançou. Um livro.

Que vendeu horrores!

Nessa altura do campeonato, a garota já tinha “se aposentado”. Conta que arrumou um namorado - ou namorido, sei lá -, um homem casado que começou como seu cliente, depois se apaixonou, e... enfim, praticamente um Richard Gere. Tirou a moça dessa vida, e foram felizes para sempre.

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TÁ, E O QUÉCO?


Não sei o quéco tenho a ver com isso. Nem você, nem ninguém além dos diretamente envolvidos.

Mas o fato é que muita gente está comprando as memórias das putas tristes, do García Marquez (na lista dos mais vendidos há meses!), e também as memórias da Surfistinha alegre.

Entendo a avidez pela boa literatura, no primeiro caso. E entendo a curiosidade sobre as saliências (para ser discreta), no segundo. O resto é especulação pura, e para isso estamos aqui.

Especulo, portanto, que há uma espécie de “moda” de sexo liberal pairando no ar. Mais do que isso: é como se as meninas (e as mulheres) precisassem mostrar que também podem ser adeptas do sexo casual – não são presas às meiguices da emoção, não são mais tão apaixonáveis, e não ficam se derretendo pelos cantos ao soar de uma voz mais grave ao pé do ouvido.

Tem até uma modinha enfadonha e insistente que sugere uma espécie de lesbianismo de ocasião – uma bobagem, às vezes incentivada pela mídia “esperta” (e careta, diga-se de passagem), que tem pouco ou nada a ver com tesão; é uma questão de “atitude”. Entre muitas aspas. Meninas adolescentes beijando outras meninas na boca porque é “cool”, porque homem é tudo babaca e elas podem muito bem viver sem eles.

Baita atitude.

Acordai, bonitinhas. Não era isso que as mamães (e as vovós) queriam dizer quando queimavam sutiãs.

Culpa de quem?

De ninguém. E de todas nós. Do processo.

A minha geração, por exemplo, ouve esse papo de feminismo e acha radical, démodé. Demos de ombros, queríamos mesmo saracotear. Aliás, demos também de bunda. Pior: na boquinha da garrafa!

Claro que há quem venha de frente, e sempre vai haver, cada vez mais – advogadas, juízas, professoras, publicitárias, médicas, roqueiras, artistas porretas. Mas também há muitas moçoilas rebolando fora do eixo, e isso, me desculpem: além de não ajudar, atrapalha um bocado.

E olha que não sou contra o rebolado, não. Acho ótimo que se rebole, que se transe, que se goze, que cada qual descubra o sexo – e as formas de amar, se assim fica bonito dizer – que mais lhe dê prazer. Sacanagem, sexo bilíngüe, trilíngüe, o diabo a quatro. Ora, vá ser feliz!

Mas também sou a favor de rebolar o tutano, e isso sim merece destaque. No que estão pensando as meninas das raves? Quais putas tristes estarão lendo?

O problema, como diriam os marqueteiros, é uma questão de foco. Há muita preocupação com a celulite; pouca com os buracos do cérebro. Sexo é bom, e é para dentro. Pensar pode ser para fora.

Destinar todas as capas de revista ao êxito das bundas livres? Mas, afinal, que sucesso estamos comemorando?

Ora, vá comer feijão e estudar.

04 janeiro 2006

realidade / ficção


Uma verdade belamente escrita não dá outra: toma jeito de mentira bem contada.

Já uma verdade mal escrita não toma jeito nem quando enfiada entre aspas.

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Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

(Humberto Gessinger)

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Fui ver o filme da Bethânia. Aproveita-se mesmo é a própria. Mais parece um “making of” caprichado do show Brasileirinho (aliás, ótimo, eu tenho em DVD). Algumas coisas comoventes de Dona Canô e Caetano, mais um Chico sub-aproveitado aqui, um Gil superaproveitado ali... nada de mais, é isso. E imagens de favelas para inglês ver.

Belas são a música e a poesia. O mais é estética, conceito, vazio. Dã.

02 janeiro 2006

Eu também vi a merda


Está todo mundo dizendo que 2005 foi uma merda, e que já foi tarde. Pois eu faço parte do humilde time de pessoas que acharam 2005 um ano supimpa (está bem, está bem, eu também vi a merda, e senti o cheiro, e registrei, e publiquei, e até pisei um pouco em cima do pedaço que me cabia!). Apesar dos mortos e feridos, no entanto, respingaram coisas boas em mim e nos que me cercam. Foi bacana demais.

Agradeço em silêncio, debaixo do edredom, e agradeço também enquanto caminho pela praia (o mar tem essa cara de quem tem algo com isso; vai ver ele nem sabe de nada, mas, na dúvida, sou francamente grata).

Volta e meia até acendo uma vela.

Como já disse, é claro que eu também vi a merda. E a fedentina chegou a me embriagar um bocado. Visitei mais médicos do que pretendia. Briguei com quem não merecia. Paguei mais impostos do que minha razão pudesse compreender. Rompi e fiz as pazes com a terapia umas dez vezes. Xinguei meus defeitos, subestimei virtudes, cantei vitórias que não cheguei a ter, fiz planos que sequer tentei realizar, outros que realizei pela metade, e outros que – putz, foi quaaaaase!

Os “quase” se acotovelam no balcão me pedindo para passar na frente dos demais projetos. (Alegam já ter a senha, ou algo assim).

Esse ano tem eleições e copa do mundo, estão dizendo que a merda pode virar - para melhor. Não sei de previsões, mas sigo muito grata e confiante, mesmo sem saber direito qual é a melhor direção para se navegar neste momento.

Assim, por partes: primeiro os remos, depois os rumos e os rimos.

01 janeiro 2006

Ano Novo


Virei o ano com a família, na praia do Recreio. Pessoas de branco pulando sete ondinhas, pescoço dolorido de procurar os fogos no céu, beijos e abraços, ops, alguém mijando no muro, garotos bêbados, moças salientes, saias coloridas, isopor, pulseiras, flores, sandálias, juras de amor, planos, promessas, enfim, resumindo, um brinde triplo para este ano:

Tim-tim (saúde)
Din-din (entrando)
Tum-tum (batendo)

FELIZ ANO NOVO!!!