05 maio 2006

Salão de beleza

A moça grávida contava que, ontem, quase morreu de desejo por uma sopa de cenoura.

- Não adianta dizer que é mito. A vontade que a gente tem não é igual, sabe? É exagerada mesmo. Eu ficava aguando, desesperada pela sopa!

A mulher era uma simpatia, todo mundo ficou ouvindo as histórias de grávida e adorando. Dali a pouco, gemeu e reclamou de azia. A mulherada ficou sensibilizada, mas ela nem se abalou:

- Não façam essa cara de pena, não. Essa azia não é do bebê. É da carne seca com cebola que eu acabei de comer, nossa como eu comi! E depois ainda tracei um bolo de aipim com coco que estava uma delícia! Vou tomar um Luftal e logo passa. Esquenta não.

Aaahh, bom.

***

Outro assunto que imperava era a plástica.

Chegou uma mulher de uns 40 e poucos, loira, cara de inteligente (ora, óculos de séria), e com um decote que exibia um contorno meio suspeito. Primeiro achei que era preconceito meu, quis pensar noutra coisa. Mas não conseguia, aquelas duas bolotas saltando pelo colo da mulher, sabe como é, a gente quer ser delicada, mas a curiosidade.

Vou fazer o quê? Ler a Caras?

Graças a Deus ela encontrou uma amiga, e as duas começaram a falar. A amiga era gordinha (gordinha é gentileza, tá?), mal cumprimentou a outra e foi logo dizendo:

- Eu já avisei meu marido: vá se preparando! Daqui a dois ou três meses eu vou entrar de novo.

(Fiquei pensando: entrar? Onde?)

- É, minha filha, vou entrar na faca!

(Jesus...)

- Quando fiz a primeira, ele me chamava de maluca. Mas pagou, né. Tem que pagar, é o que eu digo: você também usufrui, nego! Tem que comparecer. E ele comparece mesmo, tadinho, nem estou reclamando... Agora quero colocar silicone, porque da outra vez eu não coloquei, só diminuí e subi um pouco. Tola. Está certo que não cai nada, quando eu tiro o sutiã fica tudo no lugar, não despenca e tal. Mas eu sinto falta desse seu desenho do colo, sabe? (E fazia as bolotas da outra com as mãos dela, cá em cima).

- Sei, isso aqui (cá em cima) só com silicone mesmo. Minha médica disse. Tem jeito, não.

Lá do outro lado, uma manicure pedia uma pausa à cliente.

- Preciso tomar meu Dorflex. Menina, tô à base de Dorflex, desde que fiz a manutenção.

- Que manutenção?

- Da minha cabeça. Aliás, do cabelo. Implante!

- E dói?

- Dói um absuuuurdo!

Perua de cabelo cor de telha, até agora calada, abriu a boca para censurar:

- Você é doida! Fazer implante, depois ficar com a cabeça dolorida! Tá maluca!!!

- Ué! Estavam falando até agora de plástica! Pois essa aqui é a plástica que eu posso, tá???

Ficaram todas quietinhas.