04 agosto 2004

Rápidas


Essa novelinha das 6h é uma gracinha, e eu vou querer um daqueles Tobias (Tubía, como eles dizem) pra mim. Alguém sabe onde vende, a granel?

Vou querer, igualzim. Bem xucro, mess. Às vezes a gente também quer só um tra-bíceps-vesseiro pra encostar a cabeça e babar, tá? Numa noite fria de chuvinha fina. Quem disser que não, é mentira.

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Minha faxineira é uma fofa. Perguntando, hoje, se eu tinha a tampa daquela panela de pressão. Não tenho. Que, se tivesse, ela podia cozinhar um feijão pra mim da próxima vez, enquanto fazia a faxina, e depois separar tudo em potinhos e pôr a congelar.

Agradeci, sensibilizada. E, orgulhosa, disse ter cozinhado o feijão mesmo sem panela de pressão (ou sem a tampa, o que dá no mesmo). E ela, no ato:

- Eu percebi. Comi hoje. Feijão bem duro.

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Meu irmão me incomodando para achar a página dos quadrinhos no jornal de domingo, em meio àquela bagunça de jornal espalhado – que, diga-se de passagem, ele faz e eu condeno.

- Não vai achar! Não vai achar! – eu disse, pondo a mão em cima da pilha.

Ele procurou mesmo assim, e achou. Ao que me surpreendi com a minha atitude de mulher madura, enquanto ele ia levando os quadrinhos:

- NO FINAL, O CEBOLINHA VAI PULAR N’ÁGUA E A PISCINA ESTÁ VAZIAAAAA!

Depois me arrependi. Não se faz.

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Ele saiu, e, na volta, ouvi um barulho embaixo da porta do meu quarto. Era um almanaque da Turma da Mônica, todinho só pra mim.

Tapa de luvas.

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Hoje, pagando o extrato do meu cartão de crédito, observei a seguinte ironia: pago R$ 40,00 para receber todos os dias, na porta da minha casa, assassinatos, assaltos, desrespeito ao cidadão e ao meio-ambiente, roubo de dinheiro público, chacinas e impunidade.

Quanto será que me cobrariam para assinar só o João Ubaldo, hein?
Pai é pai

26 anos na cara, morando fora (noutro estado) desde os 20. Sexta-feira, depois de ter suado em bicas durante o show, fui comer pizza na varanda do bar e peguei um resfriado. Contei à minha mãe, por e-mail, entre um espirro e outro. E ela, lá, contou pro meu pai, que não hesitou em observar:

- A falta que um pai faz...


Pai é pai - II

1992. Eu tinha recém começado com essa história de banda. Tocávamos na praça de alimentação do shopping da cidade – que, por sua vez, também tinha recém começado com esse negócio de shopping. Eu tinha torcido o pé jogando basquete um dia antes, mas estava ótima, não tinha sido nada.

Minutos antes do início do “show”, a galera já reunida, abarrotando as cadeiras da praça de alimentação; a banda, naquele nervosismo e silêncio pré-primeiro-acorde. Contagem regressiva.

Lá detrás, afoito, meu pai vem abanando alguma coisa no ar. Não quero crer que é ele. Quanto mais se aproxima, mais reconheço o grave esbaforido da voz:

- Filhaaaaa! Filhotaaaaaa! Pera!!!! O pai trouxe um Gelol pro teu pezinho!!!

Como eu queria que houvesse outra filha, outra filhota, outro pezinho, e outro pai maluco que não fosse o meu, a gritar sandices à beira do palco. Como eu era a única menina de banda, olhei para os lados, mas não adiantou disfarçar. O jeito foi sorrir amarelo:

- Não precisa, pai. Pode ir. Não precisa, estou bem. Vai...

Ele não se intimidou diante da minha cara feia (afinal, foi ele quem fez!), e me tirou do sério: com a outra mão, sacou, de súbito, um Toddynho (!):

- Então pelo menos pega o Toddynho que o pai trouxe, faz tempo que não te alimentas...

Bufei, e ele sumiu no vapor da minha bufada. Quem não o conhecesse poderia até dizer que fui áspera com o pobre pai cuidadoso. Que nada.

Cheguei em casa e fui tirar satisfações. Ele se refestelava no sofá, às sonoras gargalhadas:

- Quáquáquáquáquáquáquáquá!!! Essa do Toddynho eu tinha planejado há uma semana! Mas aí pintou esse improviso do teu pé, e eu não tive dúvida: comprei um Gelol e aperfeiçoei o número! Quáquáquá! Foi ou não foi de mestre? Quáquá! Morreu de vergonha! Bem feito! Quáquá!