31 maio 2003

Ana Lógica


Para quem me escreve e deixa recadinho perguntando se eu tenho uma banda e como é o som, eu respondo (e aproveito para fazer meu comercial): sim, eu tenho uma banda. Chama-se Ana Lógica.

Somos um trio – Lori Guimarães na bateia, Adal Da Pieve (meu irmão) na guitarra, e esta que vos escreve no baixo e vocais. Somos todos gaúchos, mas moramos no Rio de Janeiro desde 98. Viemos juntos, justamente para continuar o trabalho da banda, que começou há onze anos.

Em 2001, gravamos nosso primeiro disco, produzido pelo (experiente e excelente) Mayrton Bahia, que produziu discos de Legião Urbana, Adriana Calcanhoto, Elis Regina, João Gilberto, Engenheiros do Hawaii, etc e etc e etc... São onze composições minhas, e uma regravação do Caetano Veloso – Reconvexo, quem tem mais de 20 anos deve lembrar dessa música na voz da Bethânia: “meu som te cega, careta, quem é você?”.

O CD ainda não foi lançado, porque ainda não acertamos com nenhuma gravadora, mas acredito que, deste ano, não passe. Farei aqui o devido estardalhaço, podem deixar comigo.

O estilo da banda é uma coisa que adoram me perguntar, mas nunca consigo responder direito. Eu digo que é rock-pop-com-pitadas-de-nem-tão-pop-assim.

No disco, usamos alguns músicos de apoio nos arranjos – metais e teclados, além da sanfona do Luciano, um amigo gaúcho que, gentilmente, emprestou seu talento à faixa “Desvairadamente Feliz”, que é uma milonga. (Milonga, para quem não sabe, é um ritmo tipicamente gaúcho, com origem na Argentina).

Um beijo para ti, Luciano, que certamente não me lê aqui.

A minha voz é uma coisa que todos classificam como “diferente”, e eu rezo todas as noites para isso significar alguma coisa boa. No início, quando não havia a Cássia Eller e a Ana Carolina, diziam que eu parecia um homem cantando em algumas canções mais graves. Hoje em dia, dizem que eu pareço a Cássia Eller ou a Ana Carolina. Mas a verdade é que elas têm um registro vocal muito mais grave que o meu. Eu também sou contralto, mas não vou tããão grave, e flerto com uns agudinhos que, às vezes, lembram Paula Toller ou Marisa Monte, vamos dizer assim. E, quando eu canto em tons médios, lembra o timbre do Nando Reis.

Às vezes eu grito um pouco, mas não chega a parecer que estou tendo um ataque epilético. Talvez eu grite porque não tenho como fazer jogo corporal, porque minhas costas estão segurando um contrabaixo pesado, e minhas mãos estão ocupadas nas cordas dele. Assim, o único instrumento que posso usar para interpretar a canção é, de fato, a goela. E não gosto de cantar sem o baixo, porque parece que eu fico sem roupa.

As pessoas também me perguntam se não é muito difícil cantar e tocar baixo ao mesmo tempo. Eu respondo que é como dirigir: no início dá impressão de que vai ser impossível coordenar todos os movimentos, mas rapidinho acostuma.

Bom, acho que já falei demais sobre o som.

A boa notícia é que, em breve, teremos o site da Ana Lógica, onde vocês poderão conferir fotos, biografias, agenda, release, e ainda ouvir trechos de músicas em MP3.

30 maio 2003

Alugo seu filho por uma noite

Não, não sou pedófila!! Só quero ir ao show (matinê) do Kid Abelha, domingo, às 19h, no ATL Hall. Censura livre.
Pago o ingresso do seu filho, busco e levo, e ainda compro uma água durante o show – que sou contra dar refrigerante a criança.
Vai querer?

Sei lá, estou precisando ouvir músicas doces.

29 maio 2003

Rio, 18 graus


Dias “frios” no Rio de Janeiro. A cidade fica com um ar melancólico que eu, particularmente, aprecio mais do que aquela gosma quente que se forma sobre tudo e todos no verão, sol derretendo a moleira, senhorinhas gordas suando e disputando espaço à sombra das marquises, com suas sacolas cheias de frutas, desodorantes vencidos, a fala arrastada, o olhar perdido, os assuntos de sempre - que o filho, que a vizinha, que o marido...

No inverno, não. No inverno, o Rio é menos escaldante, menos seboso, menos atormentado. As senhoras vestem um agasalho e vão, no máximo, até a varanda tomar um chazinho com biscoitos. O marido fica achando que o agasalho é exagero, e ela nem revela, mas gosta mesmo é porque esconde um pneuzinho ou outro, aí o biscoitinho desce com menos culpa – algumas pensam “menas culpa”, e até dizem.

É tempo de muito vento na praia e ressacas no mar. Que coisa boa caminhar no calçadão sem o ininterrupto anúncio da goela do vendedor de biscoito Globo! E os engarrafamentos de fim de semana?

À noite, as boates recebem moças mais bem vestidas e maquiadas. A Lapa recebe os mesmos boêmios, que bebem a mesma caipirinha, que ouvem o mesmo chorinho, que batucam nas mesmas caixinhas de fósforo, mas é tão diferente: na volta para casa, o ar fresco da madrugada deixa tudo mais poético. Rola até um chapéu.

Os cariocas podem odiar esta época do ano, mas é quando a beleza estonteante do cartão postal está fazendo as unhas e colocando rolinhos no cabelo... Para que o sol volte a brilhar no próximo verão.

No inverno, o Rio de Janeiro continua lindo.

27 maio 2003

Família Eletrônica


E-mail da mamãe:

Oi, lindinha,
estou fazendo um esforço, soprando, soprando, pra ver se consigo enviar,
junto com a msg, um pouco do frio daqui. Verdade que ainda não está MUITO
frio, mas já dá para sentir o gostinho.



E-mail do papai:

Agora sou eu quem está passando este e-mail. Eu, quer dizer: o pai. Estou com saudades de vocês, pois tu e o mano só falam com a mãe no telefone. Aqui está tudo bom. Além disso,
tenho cuidado da mãe de vocês o melhor que eu posso, e quando posso e ela deixa. Faço almoço todos os dias e compro as coisas para o café da noite.Vou com ela passear em POA e na Serra, etc etc etc...
Um beijo grande grande grande em vocês, e sejam felizes e bonitos
sempre sempre.Tchau.



E-mail do irmão:

Vírus "Microsoft" implanta programa-espião
Segunda-feira, 19 de maio de 2003 - 16h08
SÃO PAULO - O cavalo-de-tróia Palyh@mm, também conhecido como "Microsoft", se propaga por e-mail e conexões de redes locais e instala um programa-espião no PC invadido. Os fabricantes de antivírus o classificam como ameaça de nível médio.
O Palyh chega num e-mail cujo remente é um endereço falso da Microsoft: "support@microsoft.com" - daí o apelido. O assunto e o nome do arquivo anexo variam. Se executado o anexo, um arquivo PIF, o programa varre o computador em busca de endereços de e-mail e usa um motor SMTP próprio para enviar mensagens a todos os endereços encontrados. Além de se propagar por máquinas ligadas em rede, o vírus se auto-renova entrando em contato com um servidor web. Com esse recurso, é possível que ele também possa roubar dados do sistema, já que deixa um porta aberta para a internet.
Carlos Machado, da INF

25 maio 2003

programinha solitário e antigo de sábado à noite

1 - Quase famosos
2 - Pecado original

24 maio 2003

Ricardo diz que estou enigmática. Acho que estou mesmo, até pra mim. Cada sonho...
Essa noite, sonhei que estava de mãos dadas com um ator da Globo, gaúcho, mais que quarentão. Não é o Werner, é outro.

Aniversário do meu irmão foi assim, agradável, em família – ou “em banda”, o que é mais apropriado se dizer, mas já virou tudo a mesma coisa. Encomendei salgadinhos na Rose, aqui do Recreio, e uma torta de chocolate trufada. E fiz uma coisa que eu chamo de canapé... Os meninos se esbaldaram.

Aliás, meu irmão apagou uma velinha de 19, comprada pela namorada. Como o amor é generooooooso...

Não vou revelar a idade dele. Mas, quando ele tinha 19, eu tinha 15/16, namorava um cabeludo de 20, dirigia um Buggy amarelo-ovo para lá e para cá, toda prosa, e tocava guitarra numa banda de rock.

No meu aniversário, fui apresentar meu namorado a meu pai. Aqueles momentos difíceis, mais para o moço cabeludo do que para mim. Ambos olhamos para minha melhor amiga, e dissemos: “tu vem junto!”

Ela já conhecia meu pai há um tempo, seria mais fácil quebrar o gelo com alguém por perto.

Fomos, a três. Chegada a hora, anunciei: “Pai, este é o fulano!”

E meu pai, olhando para ele e para ela ao mesmo tempo: “Ãhn? Qual delas? Esta, ou esta?”

O cabeludo avermelhou, e minha amiga gargalhava compulsivamente. E eu, embora não estivesse na dúvida, também não soube o que dizer.

Que situação mais injusta, eu fico pensando. Porque o fulano, por mais que quisesse, jamais poderia se dirigir ao pai da moça nestes termos:

- O senhor me desculpe, mas o único veado aqui é o senhor.

Pobres aprendizes de genro, já começam a engolir os sapos desde muito cedo. Trata-se de uma vingança que se prolifera ao passar das gerações; o genro, um dia, se tornará sogro. E a maldição segue, implacável.
Mas, como eu dizia, foi nossa época de (amarelo) ovo. Já quebramos a casca e a cara, já cantamos de galo, já galinhamos o suficiente.

Agora estamos tão convictos de nossa “adultice”, que enchemos a casa de balões coloridos e fizemos uma festinha toda decorada de... Homem-Aranha.

Com direito a painel na parede e chapeuzinho, claro. Senão, que graça?

22 maio 2003

eu mereço...

Não percam esta: o nome eleito para a prenda é Bibiana
o difícil

O difícil é quando você está muito bem, mas não sabe explicar o porquê. As pessoas perguntam, o dinheiro, o trabalho, o sexo, as novidades, e você não sabe. As pessoas querem muito saber dos motivos. Gostam tanto de fuçar razões!

Certa feita, fiz uma música que dizia assim:

“Eu não tenho escolha
não tenho palavras
não faço sequer sentido
mas eu não quero motivos
não quero prova
só quero e estar contigo”.

E eu nunca estive com ele.

E assim é a vida. Mas eu avisei, avisei que não havia sentido.

As razões da vida são leis que não “pegaram”. Mas sempre tem um guarda chato apitando na esquina.

20 maio 2003

uma coisa é certa

Uma coisa é certa: me aguardem...

18 maio 2003

Bibi Da "Pievi"

Fui saber hoje que tem um pedacinho de mim no Submarino. Só R$ 9,90!

Trocaram o Pieve por "Pievi", mas tudo bem, o livro não é meu mesmo...

17 maio 2003

Vocês não têm me visitado com a regularidade desejada, mas nem vou reclamar. Estou mesmo aquém do que meus amigos virtuais consideram uma moça boa de blog. Tudo bem, tudo bem. Não vou reclamar, já disse. Só um choramingo básico, tipo charme, que é para eu não perder o hábito.

(Fungada)

O que fizeram com aquele moço, o Marcos Pasquim, foi realmente algo assim meio estranho. Primeiro, deixaram o cabelo dele crescer, sujando um pouco aquela cara de bom moço; o que conta pontos a favor, claro.

Conseguida a façanha de transformá-lo em um homem interessante, decidiram fazer ainda “melhor”: o papel dele se destina a esbofetear as pessoas na rua, sem muito critério, a fim de (creio eu) tornar as cenas “de ação” mais atraentes. Blargh! Tudo em vão.

Quando vi o Marcos Pasquim de cabelo crescidinho, barba mal feita e óculos na cara, parei ali mesmo, interessada. Mas, quando ele começou a descer o pau na metade do elenco masculino da novela, minha esperança foi por água abaixo. Quanto mau gosto.

Não que eu espere grandes textos de uma novela, sobre tudo das 7h. Mas, pelo menos, as cenas de pancadaria gratuita, no maior estilo decadente-Van-Damme-de-ser, poderiam ficar de lado nesse horário tão juvenil.

Claro que estou equivocada e iludida; que o Jô Soares vai dizer que a televisão não influencia o comportamento das pessoas, que “todo mundo” (?) gosta de cenas violentas, etc. Já sei, já sei, tudo fica por isso mesmo.

A violência, afinal, é uma mazela social muito antiga, que é fruto da má distribuição de renda neste país, da falta de recursos nas camadas mais pobres da população, da falta de educação, blá, blá, blá. E, quanto aos mauricinhos malhados da Zona Sul, que tomam bomba nas academias e vão para as boates encher de porrada o primeiro que olhar para as curvas das suas namoradas, a isso se dá uma explicação psicológica muito elaborada, típica das nossas cabeças geniais do século XXI, que pode ser reduzida, em última análise, a uma só frase:

- É falta de Prozac.

13 maio 2003

Vamos lá, eu não estou legal.

Mas não é aquele “não estou legal” fechado, denso, sujeito a trovoadas. É apenas um – dá licença de eu não estar legal? Obrigada.

Nada vai explodir; eu não vou pensar que a vida não vale a pena, nem vou me atirar pela janela, nada disso. Talvez coma um chocolate, ou dois, ou três, e depois fique com a herança do mau humor, pequena e amarelada, bem na ponta do meu nariz.

Minto! A única explosão será esta, e talvez ela seja a pior de todas: a explosão do espelho.

Sonhei que alguém me perguntava: “vem cá, quanto tempo faz que você não chora, hein?”.

Não sei, não lembro. Não é meio pecaminoso chorar num mundo onde os livros mais vendidos trazem receitas “tiro-e-queda” para ser feliz? Que motivo há, afinal, para que o sujeito não se sinta completo, se, hoje em dia, é até possível trocar o refrigerante por um suco na sua Mac Oferta?

Outro dia eu passei numa banca, lá no Catete, e comprei a revista Nova, que eu não lia há anos, acho que desde a adolescência. Pois eu deveria ser contratada para trabalhar como ombudsman dessas revistas femininas. Taí, vou escrever para esse pessoal.

Faz um tempinho, também, que eu não consigo rezar direito. Sim, porque eu costumava rezar, mas ando meio dispersa até nisso. Deus que me perdoe, mas é a pura verdade.

Viram? Nem um texto eu consigo terminar com clareza, acabo misturando os assuntos.

É como se terminasse uma oração assim:

O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, mexendo o tempo todo em fogo brando, acrescentando sal a gosto, até que a morte nos separe, amém.

Rende quatro porções.

***

Dizem que o Garotinho anda declarando que, durante seu governo, investiu muito em educação. Prova é que, antes, as balas eram perdidas. Agora, estão ingressando na universidade.

11 maio 2003

MAMÃE !!!

Mãezinha, tua filhota te ama muitíssimo, e está com saudades. Parabéns pelo dia de hoje, e por seres assim tão poderosa e linda e querida e vitaminada e sarada e inteligente e cheirosa e carinhosa e linda outra vez.
No ano passado eu estava aí para te incomodar com minhas brincadeirinhas, meus beijinhos e minha imitação do Tubarão (tan-tan-tan-tan-tan-tan, lembra?). Infelizmente, neste ano o Tubarão está, literalmente, aqui no Rio, mas te manda zilhões de carinhos via Embratel.
BEIJO, MÃE !

08 maio 2003

Bobagenzinha muito legal

Clique aqui, depois vá em "Astrologia Reversa" e faça o teste.

Consiste em responder algumas questões sobre a sua personalidade, e depois ver se o seu signo corresponde mesmo ao jeito como você é. É muito engraçado.

No meu caso, deu que provavelmente eu sou do signo de Peixes. E que eu jamais seria de Leão.
Sobre o meu verdadeiro signo (que eu saiba), Sagitário, eles advertem:
"Não é verdade. Consulte seus pais sobre sua verdadeira data de nascimento."

Depois, quando eu digo que a culpa é de mamãe...
Recadinhos Básicos:

- Duda, querido, não tenha pressa...
- Xandy, amei te ver aqui.
- Ricardo, obrigada pelos ELOGIOS! Posso te ligar quando eu ficar deprimida, para você me lembrar deles?? (risos)
- (ma)Luka, eu estou ótima, graças a Deus. E a senhorita? Treinando para aquele futebol que marcamos, mas nunca jogamos?
- Paula: vamos trocar figurinhas de esquisitinhos um dia?
- Carolzinha, sua atrevida! Sem comentários!! Saudade de falar contigo, guria.


Sortuda da Semana:

Camila Pitanga.
Hohoho
Aqui no Rio, à noite, tem feito um friozinho de gelar a ponta do nariz. Fico ali na varanda, de moletom, sentindo o cheiro do amaciante nas roupas limpas, olhando a lua pela metade e as Três Marias, naquela fofoca celestial interminável.

Meu sonho de consumo é um laptop; ainda acho que o melhor lugar para escrever é na cama.

Estou apaixonada por uma melodia do Paulinho da Viola (pareço velha falando “uma melodia”, mas é isso mesmo que quero dizer), chama-se “Para ver as meninas”. Sabe quando passa um dia, e outro, e outro, e aquilo fica cantando nas entrelinhas da consciência? Pois é.

Às vezes eu pego o violão e toco, e me decepciono com a minha incompetência. Tem gente que considera os próprios limites um desafio; eu tenho vergonha de dizer isso, mas sofro de uma preguiça homérica e devastadora. Até pecado. Fazer o quê?

Há tanta coisa para se entreter na vida, que dispersa. Eu admiro aqueles virginianos obcecados e perfeccionistas, e admiro os geminianos práticos e geniais, e os arianos que vão abrindo o caminho com a cabeça, feito as cabras mesmo. Queria ter essa determinação toda, mas me falta a persistência. Acho que olho muito para os lados.

Sabe aquela história de viajar de trem e ficar olhando para os lados, né? Quando você desce, acaba ficando tonto, e cai. Se conseguir manter o olhar à frente durante o trajeto, quando descer, vai sair andando naturalmente, sem problemas.

Eu sei que vocês gostam mais quando eu escrevo coisas engraçadas.

Então eu vou contar uma coisa. Ontem, gravei toda uma música no computador (só a voz), e depois ouvi uma vez e gostei. Coisa rara. Antes de salvar “a melodia”, chutei a extensão que liga o estabilizador à tomada.

Tá bom, isso não é muito engraçado. Se tivesse faltado luz, pelo menos eu poderia xingar a mãe de outrem. Mas, chutar o próprio estabilizador?

Um terapeuta diria que isso é sintomático, e questionaria (eles nunca perguntam: “questionam”), afinal, que estabilidade é essa que você está desejando quebrar?

Não sei, eu diria. Mas ele diria: no fundo, no fundo, você sabe.

Talvez eu esteja mesmo querendo cortar algumas correntes.


p.s.: Por que há pessoas que insistem em mandar e-mails enormes que eu nunca pedi? Que falta de netiqueta!

05 maio 2003

“Big Man”, refrigerante e fritas


Tem uma reportagem na Marie Claire deste mês que se destina a revelar que nós, mulheres solteiras, não estamos sempre à procura de reverter esta situação. Que há muitas mulheres inteligentes, bonitas, bem sucedidas e até muitas sensíveis que preferem dedicar suas vidas a si próprias; ou seja, foi-se o tempo do medo de “ficar para titia”.

Até aí, tudo bem. O que me chamou a atenção foi perceber, através de alguns depoimentos, que estamos tratando os homens (nossos amigos, namorados, amantes e até maridos em potencial) com um capricho digno de comercial de fast-food:

- Posso trocar minha batata frita por uma salada?

Uma entrevistada garante que se relaciona bem com o sexo masculino: ela tem um amigo para ir ao cinema, outro para acompanhá-la nas compras, outro para longas conversas filosóficas, outro para dividir uma garrafa de vinho e outro, ainda, para transar de vez em quando. “Mas cada um no seu setor” -, completa.

Cá entre nós: será que não estamos exagerando um pouco? Desse jeito, não há ser humano que seja capaz de “preencher todos os requisitos”. Nós não aceitamos o “número um” ou o “número dois”, com tudo que tem direito, como veio de fábrica. Queremos um pacote personalizado, um homem à nossa altura, encaixotado e quentinho, pronto para o consumo.

Queremos amá-lo como ele é, desde que seja perfeito.

- Posso trocar o refrigerante por um suco?

- Pooode -, responde aquela voz acolhedora, simpática e deliciosamente fora da realidade. Sim, porque o “Big Man” com fritas e refrigerante (ou suco, ou água, conforme o gosto da freguesa) é tão humano quanto o Frankstein.

O título da reportagem já diz: “Mulher solteira não procura. Mas quer achar”. No fundo, bem no fundo, todas nós carregamos uma pontinha inconfessável de inveja daquele casal lindo que empurra o carrinho do bebê pela faixa de pedestres, justamente quando estamos apressadas, querendo que o sinal abra logo para chegarmos em casa. E o que nos espera hoje? Talvez um amigo-fritas, ou um amante-Coca-Light.

Está certo que ninguém precisa engolir sapo e arrotar príncipe, mas vamos pegar leve, e admitir que estamos morrendo de medo de perder o “status” de mulher moderna e independente, caso dê o azar de alguém nos flagrar indo buscar a cervejinha na geladeira enquanto ele assiste à final do campeonato no sofá.

Pior que isso: estamos é perdendo o talento para as relações humanas. Resolvemos entender das máquinas, das estatísticas e dos gráficos, e estamos anestesiadas pela exatidão de um universo que é tão fascinante quanto desumano.

Do jeito que a coisa vai, qualquer dia vamos injetar no travesseiro um “aroma artificial sabor homem”. E dormiremos tranqüilas, na segurança da solidão disfarçada de opção.

03 maio 2003

Eu criei este blog para exercitar a escrita, principalmente. E também para me exibir um pouco! - diria meu ego sagitariano, com a mão na cintura, batendo o pezinho e me olhando com cara de “arrá, te entreguei!”.

É vero.

Mas minha mãe, que mora em outro estado, diz que percebe o meu estado – não o geográfico, mas o de espírito – por essas mal traçadas linhas virtuais. Coisa que põe por água abaixo toda a minha pretensão literária, aliás.

Mas, não tem nada. Certa feita, eu devia ter uns doze ou treze, ao responder àqueles enfadonhos interrogatórios a que somos submetidas na adolescência, sobre “como vão os namorados?”, afirmei:

- Não tenho namorado, mãe, porque sou feia. E meninas feias não têm namorado. (O beiço de “Bibi, A Feia” ia daqui ao Arpoador).

Pensando que ela, como boa mãe, fosse enumerar minhas qualidades estéticas, redundando se fosse preciso, enfatizando talvez a minha pele de pêssego e o meu cabelo impecável (que até eu mesma achava bem interessante), caí do cavalo. O argumento veio em forma de um questionamento que me fez – e me faz – gastar horas aboletada num divã:

- Não tem namorado porque é feia? Então me responda: com quem os meninos feios namoram???

Silenciei, reflexiva e decepcionada. “Comigo, claro”, pensei. Para as meninas bonitas, homens bonitos. Para as meninas feias, homens feios.

Exagerei um pouco quando inventei de namorar um guitarrista cabeludo que não era lááá um exemplo de beleza convencional, ou, por outra, usando uma expressão da moda – “fugia dos padrões”. Minha mãe se assustou com a minha escolha, mas não pôde esboçar um “ai”, já que o conselho, afinal, fora dela. E sempre fui muito de seguir as coisas ao pé da letra.

Ocorre que acabei pegando gosto por homens que “fogem dos padrões” (alguns se revelam verdadeiros maratonistas na contramão dos padrões vigentes, se é que me entendem, e é a esses que mais me prendo), justo por culpa de mamãe. Depois que comecei a fazer análise, tenho sentido confortante sensação de alívio, uma vez que 99% dos meus atos falhos, meus problemas e minhas eventuais cafajestices são, no fim das contas, culpa de mamãe.

Mamãe, que sempre foi minha referência feminina, seguiu sua própria lógica da estética, e casou-se com o bonitão do meu pai - um metro e oitenta e poucos, moreno, charmoso, etc. Ela, que sempre foi linda, abocanhou o vivente, filho de dona Manoela, com quem divide os lençóis até hoje.

Minha mãe já foi até Miss, contei a vocês?

Mas eu, por conta de uma crise de adolescência, fui condenada a flertar com tribufus, até que a morte nos separe.

Culpa de mamãe.