03 maio 2003

Eu criei este blog para exercitar a escrita, principalmente. E também para me exibir um pouco! - diria meu ego sagitariano, com a mão na cintura, batendo o pezinho e me olhando com cara de “arrá, te entreguei!”.

É vero.

Mas minha mãe, que mora em outro estado, diz que percebe o meu estado – não o geográfico, mas o de espírito – por essas mal traçadas linhas virtuais. Coisa que põe por água abaixo toda a minha pretensão literária, aliás.

Mas, não tem nada. Certa feita, eu devia ter uns doze ou treze, ao responder àqueles enfadonhos interrogatórios a que somos submetidas na adolescência, sobre “como vão os namorados?”, afirmei:

- Não tenho namorado, mãe, porque sou feia. E meninas feias não têm namorado. (O beiço de “Bibi, A Feia” ia daqui ao Arpoador).

Pensando que ela, como boa mãe, fosse enumerar minhas qualidades estéticas, redundando se fosse preciso, enfatizando talvez a minha pele de pêssego e o meu cabelo impecável (que até eu mesma achava bem interessante), caí do cavalo. O argumento veio em forma de um questionamento que me fez – e me faz – gastar horas aboletada num divã:

- Não tem namorado porque é feia? Então me responda: com quem os meninos feios namoram???

Silenciei, reflexiva e decepcionada. “Comigo, claro”, pensei. Para as meninas bonitas, homens bonitos. Para as meninas feias, homens feios.

Exagerei um pouco quando inventei de namorar um guitarrista cabeludo que não era lááá um exemplo de beleza convencional, ou, por outra, usando uma expressão da moda – “fugia dos padrões”. Minha mãe se assustou com a minha escolha, mas não pôde esboçar um “ai”, já que o conselho, afinal, fora dela. E sempre fui muito de seguir as coisas ao pé da letra.

Ocorre que acabei pegando gosto por homens que “fogem dos padrões” (alguns se revelam verdadeiros maratonistas na contramão dos padrões vigentes, se é que me entendem, e é a esses que mais me prendo), justo por culpa de mamãe. Depois que comecei a fazer análise, tenho sentido confortante sensação de alívio, uma vez que 99% dos meus atos falhos, meus problemas e minhas eventuais cafajestices são, no fim das contas, culpa de mamãe.

Mamãe, que sempre foi minha referência feminina, seguiu sua própria lógica da estética, e casou-se com o bonitão do meu pai - um metro e oitenta e poucos, moreno, charmoso, etc. Ela, que sempre foi linda, abocanhou o vivente, filho de dona Manoela, com quem divide os lençóis até hoje.

Minha mãe já foi até Miss, contei a vocês?

Mas eu, por conta de uma crise de adolescência, fui condenada a flertar com tribufus, até que a morte nos separe.

Culpa de mamãe.