21 fevereiro 2003

FIM DA GREVE

Buenas!

Minha polêmica greve era somente para confirmar o óbvio: vocês não me dão o mínimo apoio! Recebi ONZE protestos contra o meu próprio protesto, e, incrível, NINGUÉM me perguntou onde estava minha insatisfação, quais eram minhas reivindicações, minhas exigências...

Vocês não têm vergonha?

Eu nem deveria ter terminado a greve. Prometi a mim mesma que só voltaria a escrever quando alguém me perguntasse o que eu estava querendo. Nada. Ninguém deu pelota para os meus sentimentos, ninguém quis saber. Só queriam protestar.

Estou carente, oras! Que mulher não fica carente uma vez ou outra, ainda que seja moderníssima, independente, forte, segura, confiante, invulnerável, antiderrapante, firme, convicta, sagitariana e, talvez, um pouco mentirosa?

Quis um afago virtual, mas, em lugar dele, o que recebo? Pedras.

Está certo. Quem mandou eu inventar carência numa hora dessas? Quem mandou?

Viram como está meu texto hoje? Cheio de interrogações, todo inseguro. Viram? Culpa de vocês. Sou contra isso, sou contra. Não gosto desse tipo de texto que dialoga consigo próprio, mais parecendo que o leitor não está ali para formular suas próprias perguntas.

Não sou muito de interrogações, e ponto final.

Mas o que eu posso fazer? Vocês me obrigam! Onde estão vocês, quando eu mais preciso? Quando eu questiono a nossa relação, analisando tudo, desde o dia em que nos conhecemos até o momento presente, onde estão vocês?

Ausentes.

Assim fica difícil. Queria que vocês se olhassem no espelho agora, para verem exatamente o que eu estou vendo: esse ar casual, mera ruguinha no meio da testa, pensamento meia-boca - estou aqui, mas não é muito comigo...

É nisso que eu penso, quando ponho a cabeça no travesseiro, e me pergunto se não poderia ser melhor. É sobre essa ruga descompromissada que eu reflito, diante da telinha, enquanto vejo o furdunço que uma paixão “made in Manoel Carlos” pode causar. Nos outros.

E o nosso furdunço, cadê? (O mouse comeu).

Não sei se poderemos levar adiante deste modo. Sinceramente? Não sei.

(Baixo a cabeça, faço círculos com o dedo numa poeirinha que caiu sobre o mouse pad, suspiro... longo silêncio...).

Sinais do tempo, gente. Poeira no mouse pad.

(Coço o nariz, fungo duas ou três vezes para deixá-los na dúvida entre a alergia ao pó ou um choro compulsivo que pode começar de uma hora para outra...).

Hein? Como?

(Faço cara de desentendida enquanto vocês começam a dizer o quanto me amam, como eu sou maravilhosa, e outras quinquilharias verbais do tipo.)

Ah. Sério?

(Olho no relógio, entediada).

Ok, ok. Então eu vou dar mais uma chance à relação.

(Vocês se sentem aliviados, como se recém tivessem escapado da guilhotina. Vocês suam horrores. Vocês tremem, não sabem onde colocar as mãos).

(Eu, superior, publico tudo isso).

(E vocês?).