04 julho 2002

Faltava um compasso, para desenhar nos dias tortos, quando a gente olha no espelho e vê uma mola curva, de cabelo fraco, boca murcha e pés indecisos. Faltava uma régua, um esquadro; qualquer instrumento desses que ajeitam os traços à força, e nos impedem de desviar.

Qualquer farelo gruda no carpete, e qualquer vento assobia pelas frestas dos cupins, e qualquer pensamento vadio se instala nas idéias quando o dia amanhece assim, meio tremido. Tudo entra, fica, incomoda e permanece.

Mesmo as coisas que não são reais, mesmo os mais frágeis produtos do inconsciente, aqueles fiozinhos de melancolia, tudo isso vem à tona quando o primeiro raio de sol risca torto no céu. Não se sabe se foi Deus que acordou ruim de braço, ou se é o diabo quem está guiando. O fato é que as horas correm em zigue-zague, e quem quiser que se ajuste ao balanço.

Se ainda houvesse um metrônomo, uma bússola ou um velocímetro. Mas não. Ninguém controla e ninguém mede; a poeira vai acumulando, e ninguém enxerga.

De vez em quando, portanto, há que se controlar a delicadeza do estômago e a angústia da vida; é só esperar, que passa. Com calma, que passa.

Amanhã a poeira baixa, o sol se levanta redondinho, e o horizonte se estica como lençol passado a ferro.

Foi só um probleminha. O tempo tossiu, e o mundo deu um tapinha nas costas dele. Pronto, pronto, a vida segue em linha reta.

E vai pela sombra.