20 maio 2004

Sair da cama com essa chuvinha é um pecado... sair de casa, o inferno


Ontem eu tive uma crise de me-deixe-só, pelo amor de Deus, como eu precisava ficar um pouco sozinha. E era dia da minha faxineira. E o apartamento é pequeno. E ela agora deu de ligar o rádio numa estação evangélica, num volume insuportável, e cantar junto aquelas canções, digamos... instrutivas.

Como eu também tinha de fazer uns trabalhos musicais aqui no micro, o duelo foi feio. Só acabou quando ela se despediu:

- Tchau, fica com Deus.

A senhora se incomodaria de levá-lo para passear só meia horinha?
Quase que eu disse.

***

À noite, cometi pequenos exageros: mandei trazer um DVD do Sex And The City e uma comédia romântica bobinha – quem inventou o delivery de DVD merece o céu!

Como estava friozinho (médio, médio), fiquei de pouca roupa só para poder me enrolar num edredom, apagar a luz e me esquecer da vida diante daqueles clichês açucarados. Ok, há alguma irreverência na série Sex And The City, apesar do texto pisando na pieguice com vontade. Boas risadas, sim; e o Chris Noth (aquele ator que faz o Mr. Big) já vale o seriado inteiro.

Seguindo o “raciocínio” das comédias românticas, eu poderia dizer que Mr. Noth - minha alma gêmea, sem sombra de dúvida - foi nascer nos EUA e inventou de ser ator de uma série exibida no mundo todo só para se tornar visível para mim. É um sinal.
Fechado, hoho.

Me falta...


...o ar!


***

Fomos ensaiar num estúdio novo, aqui no Recreio. Tinha uma banda ensaiando antes da gente, que obviamente atrasou, então ficamos na técnica ouvindo o som. Eram uns meninos de 16 a 20 anos, faziam um som mezzo CPM 22/Detonautas, mezzo Rappa... algo por aí (não sei direito quem é quem nessas bandas novas).

Aí eu me dei conta: a partir deste sábado, minha banda será 66,6% balzaquiana.
Abafa.

***

Sonho esquisito: eu estava grávida e tive um menino negro, mas o pai da criança (que não lembro quem era) havia morrido antes mesmo de saber que teria um filho.

Logo após o parto, no hospital, havia uma prática ridícula, assim: de um lado, ficavam as mães. De outro, os pais das crianças. Os bebês ficavam no meio, e uma enfermeira ia chamando um a um:

- Bebê Fulano. Mãe?
(Uma moça gritava: eu!)
- Pai?
(Um cara se acusava: eu!)
Então a enfermeira entregava o filho, e os três saiam, felizes, porta afora.

Eu já estava aborrecida com toda aquela exposição, sobretudo porque o meu filho não tinha pai vivo, eu teria que explicar isso, todos ficariam com pena de mim etc. Até que a enfermeira levantou o meu filho:

- Paulo. Mãe?
- Eu... (levantei a mão, tímida).
- Pai?

- Eu...
Lá do outro lado, reconheci um ex-namorado (de verdade) que não via há anos, magrinho e branco – que, obviamente, não poderia ser o pai. Fiquei meio assim, mas não discuti. Saí de lá com meu filho Paulo e o falso pai branco.

Ao sair, cobrei:
- Tu ficou maluco???

E ele, tranqüilo:
- Fiquei sabendo da história, e tive vontade de vir. Se quiser, te ajudo a criar.

Assim, como quem se oferece para pagar uma conta sua no banco.
Agradeci, mas recusei.
Um pouco porque era sonho, outro pouco porque era eu.