17 dezembro 2003

Coisas do pago

No Rio Grande nosso de cada verão, as chuvaradas deram uma trégua, e amanhecemos com um céu de brigadeiro sobre nossas cabeças - ainda úmidas dos últimos dias. A temperatura, no entanto, chegou a três graus (isso mesmo, 3 GRAUS!) na serra. Em pleno dezembro.

Aqui no Vale dos Sinos, puxamos o cobertor e viramos para o outro lado, tranqüilos e serenos (sem trocadilho, please!): dias melhores virão.

Esta que vos fala, já há seis anos desacostumada ao temperamento confuso e até meio geminiano – perdão da palavra – do clima gaúcho, não hesitou em curtir um belo resfriado, desses de assar o nariz (se estivessem me ouvindo, seria “dariz”). Acho que São Pedro estava com TPM nos últimos dias, e, solícita ao conhecido período crítico, até lhe concedo meu amoroso perdão.

Desde que não se habitue, claro.

Como estive ausente da vida social nos últimos dias, fui informada ainda agorinha de que, logo mais, à noitinha, dar-se-á um churrasco daqueles bem buenos, e que minha parte da carne já fora gentilmente encomendada por um grupo de amigos que conta com minha humilde presença no festejo. E vou mesmo.

Apenas me esqueci de avisá-los sobre minhas restrições alimentares: sou adepta do quase-vegetarianismo (um dia chego lá!), não como carne nem por decreto. Coisa que, aqui no Sul, o churrasqueiro já leva pro lado pessoal.

Não há de ser nada. Como boa sagitariana diplomata que sou, tratarei de solicitar um naco de cadáv..., digo, de carne bovina ao assador, e passarei parte da noite remexendo com aquilo dentro do meu prato, lá e cá, enquanto mordisco uma saladinha qualquer. Até que acharei um cãozinho guaipeca, desses bem gente-boa, doido para devorar parte de um semelhante. Eu lhe derrubarei a carne, silenciosamente, a tempo de suas presas estraçalharem com minha reprovável conduta de gaúcha em dia de festa, e ninguém haverá de dizer nada a respeito.

A menos que esse vira-lata ordinário me denuncie.