25 janeiro 2003

EU QUERO ENTRAR NO ROUGE

Está decidido - eu quero entrar no Rouge. Estou aqui ensaiando o Ragatanga e tudo. Meu sonho é entrar no Rouge. Chega dessa vida ingrata de compor e não conseguir gravar, gravar e não conseguir lançar, ensaiar e não conseguir tocar. Chega de escrever letras e mais letras, riscar, rasgar, escrever tudo de novo, rasgar de novo por achar que não está legal.

Ragatanga é o sucesso!

Meninas, me ajudem. Eu tive uma infância muito difícil. Andava de chinelos no inverno sulista, comia canja de galinha rala porque não havia dinheiro suficiente. É verdade. Mas canto desde que morava na barriga de minha mãezinha, porque acredito que a alegria está no coração da gente, não importa o financeiro.

Nunca sonhei com fama e dinheiro. Só quero mostrar o meu trabalho, sabe? Acho que todo mundo deveria ter uma oportunidade, é por isso que estou aqui, ensaiando o Ragatanga para fazer bonito diante desse Brasil lindo, cheio de gente maravilhosa e trabalhadora.

O meu público é assim, bem variado. As crianças gostam de mim, não sei bem por quê. Minha mãe diz que eu tenho carisma, e meu namorado afirma que sou bonita, mas eu acho que beleza não é tudo nesse mundo, tem que ter talento. Porque a minha beleza um dia vai acabar, eu sei, tenho conhecimento disso. Não adianta ser só bonito por fora.

Cantar? Ah, pra mim, cantar é tudo! Eu acordo cantando, durmo cantando, faço esteira cantando... cantar alivia a alma por dentro, tudo. Como dizem, quem canta seus males espanta.

Sim, eu estudo muito. Terminei o ensino médio e fiz alguns semestres da faculdade de jornalismo, depois tranquei tudo para me dedicar ao que eu gosto mesmo de fazer, que é cantar, não sei se eu já disse. Ah, e agora estou estudando o Ragatanga.

Sou uma pessoa muito honesta e também humilde. Pretendo estar ajudando muita gente com o dinheiro que eu ganhar na minha carreira. O que eu desejo para o mundo é muita paz e alegria, é por isso que eu insisto em ser cantora, para levar um pouco de alegria a esse povo pobre a nível material, mas muito rico de espírito.

Eu quero e preciso e vou entrar no Rouge, porque as pessoas precisam parar de dizer que não existe nada de original no meio musical brasileiro. Pretendo estar mostrando que nós estamos aqui, de peito aberto, mostrando a cara e pagando para ver, porque acreditamos que temos muito que acrescentar na cultura em termos de opinião e até mesmo no tocante ao gênero espiritual, tão esquecido hoje em dia, com todas essas guerras, num mundo onde os valores são distorcidos, a família é menosprezada, só se fala em silicone, as meninas precisam ter o bumbum malhado e o que importava antigamente nem sempre volta a importar, o que é um erro grave, se pensarmos que tudo pode vir à tona um dia e então estaremos nos deparando com desastres ecológicos, dos quais só podemos nos livrar com muito pensamento positivo e amor ao próximo e compreensão.

Ainda mais agora, com a globalização.