15 junho 2002

TIPO ASSIM... KÉLI KI.

Poucas coisas grudam tanto no ouvido quanto a música daquela menina, a Kelly?, Keli?, Ke? - ah, vamos escrever como se lê: KÉLI KI, e pronto.

Por outro lado, tipo, há expressões que, tipo, também grudam muito no ouvido, e depois, tipo, assim, acabam grudando também na boca da gente. Tipo.

Essas duas, vamos dizer, tipo assim, essas duas mazelas da comunicação, aparentemente, nada têm em comum. Mas, se formos pensar, tipo, são exatamente idênticas na função - que é, justamente, não ter função alguma.

Expressões pouco recheadas de significado, como "tipo assim", ou "baba, baby, baba" são quinquilharias da linguagem coloquial, adornos que mais atrapalham do que enfeitam, mas... vá lá, adornos.

"Tipo assim" é uma pausa de raciocínio, um lapso voluntário (que, depois, torna-se involuntário), uma paradinha para descanso do cérebro. A pessoa pensa, fala, e depois inclui um "tipo assim" enquanto não sabe ainda o conteúdo da próxima frase. Um "tipo assim..." reticente pode levar minutos, horas ou até dias - se o usuário já for dependente químico e tiver seqüelas, o "tipo" pode durar meses. Trata-se de um caminho sem volta.

O sujeito começa usando um "tipo assim", vez por outra, na maior inocência. Quando vê, um "tipo" só já não lhe basta, e é preciso espalhar, tipo, no discurso, tipo assim, várias vezes essa expressão; caso contrário, tipo, o vivente sequer consegue chegar ao final da frase.

Quando finalmente a frase termina, então o usuário acaba fraquejando - e usa o "tipo assim" para iniciar um novo assunto; aí, começa tudo de novo.

Do mesmo modo, mas em proporções maiores, o "baba, baby, baba" é um mal que assola a linguagem musical - outrora conhecida como "poesia musicada" -, transferindo os sintomas do "tipo" para as linhas melódicas, e levando o vácuo cerebral aos palcos e danceterias das grandes cidades.

Contudo, não acho que deva ser proibido o uso do "tipo", nem tampouco do "baba". O problema é o excesso. Se a pessoa usar um "baba" no fim de semana, entre amigos, num ambiente saudável, até tudo bem. Vez por outra, tipo assim, que mal tem?

Muito cuidado, no entanto, com os abusos. Passando de dois "tipo assim", não dirija. Se dirigir, não use o "baba".

Tive conhecidos, infelizmente, que ingressaram pelas bandas ingratas dessas mazelas da comunicação, e nunca mais voltaram. Perderam-se, coitados, e seus cérebros foram comidos por cupins. Ainda vivem, ou sobrevivem, mas são tipólatras compulsivos, e passam os dias inteiros cantando aos seus avôs:

"Vô, cê não acreditou / Vô, cê sequer me olhou..."