16 agosto 2002

INDO EMBORA

Estou me despedindo do solo, do fixo e do colo. Cansei da vida aflita, vida falida, falecida vida. Eu vou sem pés, sem nós; eu e eu, a sós. Vou rumo ao infinito, sem medidas, e parto normal: sempre ganho é no grito.

Deixo para trás os significados; levo só os símbolos, e bolo outras versões. Se escapar um verso, a solução está no ar. Se o cérebro parar, vou flutuar, ar. Se o coração inventar de não bater, escrevo um compasso diferente e engulo tudo.

Bate outra vez.

Estou indo embora, olha o vento. Não quero abraçar as estrelas, quero pairar com elas no espaço. Certas vidas perecem, viram adubo.

A vida ensina sem ser didática, e a dor não conhece matemática. Não tem muito segredo, a gente ganha é no grito.

Tudo aqui é muito alto; o amor é alto, a alegria é uma gritaria. Cansei de me fingir de surda-muda. Se o negócio é brulho, não falto.

Estou indo embora, pulando fora e caindo em mim.

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