15 setembro 2002

Alou, macacada, cá estou de volta ao mundo dos vivos, de carne e byte. Pois vejam vocês, caros assinantes do BiBlog, como são as coisas. Estou com 4500 visitas neste site, e o saldo do banco está no vermelho. Ninguém me emprega, ninguém me chama nem para fazer locução do carro das frutas. Convite para escrever, então, nem pensar.

Ninguém sabe quem sou eu, além de vocês e poucos outros.

Nunca fui assalariada, a bem de verdade; sempre obtive meus centavos por meio de meus esforços esporádicos - fosse em tempo de frenéticas turnês pelo interior rio-grandense, fosse em tempo de vacas magras, mas sempre tirei leite das minhas pregas vocais. (Que nome horrível resolveram dar a isto, Deus do céu, esse pessoal das ciências bem que poderia ter um pouquinho mais de senso estético ao batizar pedaços do corpo alheio).

Agora, em meio à tempestada financeira, só me resta pedir ao grande patrão dos céus, como diz meu irmão - que, aliás, é outro duro -, que me dê condições de sobreviver nesta selva civil que atende por São Sebastião (ainda por cima) do Rio de Janeiro (ainda por baixo).

Essa foi terrível, mas não me contive.

Não que estejamos passando fome, mas podia rolar um alfinete ou outro de vez em quando, um supérfluo sempre cai bem, vocês sabem, até o J.C. não podia só com pão e água, tanto que adicionava um vinhozinho à dieta sempre que podia - está escrito no Livro Sagrado, não sou eu quem está dizendo.

Pois minha dieta tem sido desprovida de qualquer frescura a mais, ando comprando esmalte barato, e passo metade da semana retocando a unha, pinto o cabelo em casa mesmo, saio daqui desconfiada dos olhares, minhas cordas do contrabaixo estão vergonhosamente enferrujadas, mas toco assim mesmo, meu irmão reclama, digo que isso é coisa de guitarrista, que as cordas da guitarra são muito mais baratas, mas não convenço muito, vejam como não tenho obtido lucro nem no discurso argumentativo, vocês podem notar que meu texto está virado praticamente numa só frase, porque estou economizando até na pontuação.

Dêem graças a Deus que ainda estou usando as vírgulas.

É isso, caríssimos, escrevo por prazer, toco, canto e respiro por pura necessidade, a situação do músico no Rio de Janeiro está a degringolar-se, sua-se muito, paga-se pouco, gasta-se mais do que se pode, a culpa é inimiga da perfeição, os juros correm tal como cataratas ordinárias encharcando nosso saldo de dívidas, corta-se a vaidade, a auto-estima acende a luzinha da reserva, o celular só recebe, a Rosinha "Garotinho" vai vencer as eleições, os jovens estão enfartando cada vez mais, o trânsito só falta andar para trás, o Chacrinha não continua balançando a pança, e aqui eles têm o hábito de colocar UVA-PASSA dentro do cachorro-quente.

Ah, me desculpem - eu havia prometido não mais falar em apocalipse.

Desconsiderem, portanto, o tópico do cachorro-quente; que, para o resto, ainda há salvação.

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