25 novembro 2002

ANIVERSÁRIO

É, queridos, estou mais velha. Uma jovem adulta, segundo dizem. Tudo bem, 25 é um número bonito, mas estou muito diferente (aquém - seria a palavra exata) do que me imaginava ser aos 25.

Tenho até um querido diário, onde lembro ter escrito, aos 12 anos de idade, que pretendia ser psicóloga com essa idade. Mas uma coisa deu certo: eu queria morar no Rio de Janeiro – que recém tinha conhecido. E outra: eu queria não ter mais que usar óculos. E outra: eu queria ter cabelo comprido. E outra: eu queria continuar escrevendo bastante.

Mas não imaginava que, um dia, fosse escrever coisinhas num computador, e muito menos publicá-las numa espécie de diário virtual. E também não imaginava que, no ano seguinte (aos 12), eu fosse me enfiar numa banda de rock que se formou dentro da minha própria casa, e resolvesse então cantar as coisas que eu escrevesse.

Acho que a psicologia ficou engavetada nos meus escritos, lá onde, sorrateiramente, dou conselhos a mim mesma – os quais não sigo, porque santo de casa não faz milagre -, numa espécie de autoterapia compulsiva. E a doida segue, por outro lado, a desafiar a sanidade da psicóloga, de modo que eu mesma já não sei mais qual das duas é mais perturbada das idéias.

Minha vó Maria ainda acha que eu poderia enveredar para os lados acadêmicos da psique. Diz que dá tempo, e tudo. Mas eu não sei se a doida aqui deveria suspender as atividades, e ir se aboletar do outro lado do divã por uns tempos. Talvez a psicóloga ficasse frustrada, de tanto correr atrás da cura da doida e não achar. Não sei. Ou, vai ver que é preguiça mesmo.

De qualquer forma, está bom assim, sem a psicologia, mas com as cordas do baixo, as músicas, as letras, os desejos, os medos, as paixões, as crises, as alegrias e os espetinhos de coração de galinha que meu irmão faz como ninguém.

Sim, ontem a festa foi com espetinhos, se alguém quer saber.

(Vocês já notaram que eu, quando invento de filosofar além da conta, meto sempre um espetinho no meio? Acho que é para descontrair. Meu irmão é bom nisso, aliás. Na descontração e no espeto).

Por voltar a falar em aniversário, agradeço muitíssimo aos recadinhos de vocês, sempre tão assíduos (as) e docemente carinhosos (as) comigo. Obrigada. Agora, vamos mudar de assunto antes que eu me sinta uma jovem senhora, de tanto falar em idade...


SHOW DO RUSH

Eu fui!!!

Talvez vocês não gostem do Rush - trio de rock canadense com 35 anos de carreira, aquele da música tema de “Profissão: Perigo”, quem tem mais de 20 deve lembrar. Mas vamos mudar de assunto, que esse negócio de mais de 20 já me remeteu a... vocês sabem.

Talvez a maioria de vocês nem sequer tenha prestado atenção no tal do Rush. Mas eu sou fã, muito fã mesmo, e nunca pensei que pudesse ver um dos meus maiores ídolos, o baixista e vocalista Geddy Lee, ao vivo.

Foi ali, no maior estádio do mundo, que eu tive a maior emoção do mundo quando o Rush apareceu, de verdade, em carne, osso e o Mi Maior da primeira canção, Tom Sawyer – aquela que eu, há oito anos, em entrevista a uma revista da minha cidade, citei como minha canção preferida.

Era o Mi Maior do Mundo.

O Maracanã estava em êxtase, enquanto eu me forçava a olhar só o telão, só o telão, só o telão, Bíbi, senão desmaia. Claro que não me contive; olhei mesmo. Graças a Deus, o Geddy Lee ficava do tamanho da unha do meu dedão, porque eu estava sentada do outro lado do estádio. Foi o que me salvou de despencar, dura e pálida, e virar tapete na hora.

Não virei tapete, mas também não estava lá muito em estado de gente. Virei uma coisa que pulsava, vibrava e arrepiava, embora estática por fora, meio incrédula, a segurar a boca com a mão direita, no afã de não deixar escapar nem um fiozinho de emoção. Sou assim, diante das maiores coisas do mundo: faço de conta que é tudo de faz de conta, pra não pirar de verdade.

Vieram outras canções, e outras mais. Do meu lado esquerdo, meu irmão e guitarrista. Lado direito, nosso amigo e baterista. À frente, outro trio nos chamava atenção: três meninos, deviam ter uns 12 anos, cada um fazendo os gestos do seu instrumento, tocando no vento. Uma banda de rock, certamente.

O trio canadense, o nosso trio, e o trio mirim. Cada qual mais diferente do outro, e mais igual impossível.

Claro que era mais que um evento, um espetáculo de som e luzes. Claro que era muito mais que uma banda preferida, um ídolo, um “obrigado” agudo e com sotaque estrangeiro. Era a sinergia que faz com que um trio se torne uma banda, assim, como num toque mágico. Deixam de ser Geddy, Alex e Neil – viram uma coisa só.

É difícil entrar nessa e não querer ficar. Complicado abandonar aquilo que nos mantém maior do que somos, não porque inflamos, mas porque amamos.

Como dizer àqueles meninos que é difícil, que a estrada, que a falta de grana, que as gravadoras, que os botecos vazios, que os bêbados chatos... que nada! Está ali, bem à frente, uma chance que deu certo – um trio que faz rock há 35 anos. E ponto. Mesmo que seja só um, entre tantos que se desfizeram, já nos faz querer ficar, ir tentando enquanto dá.

Até porque, no fundo, estamos todos tocando no vento; os instrumentos estão ali por um mero acaso.

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