03 dezembro 2002

Um pouco de abraço, em meio ao movimento, não cairia mal. Um laço solto, depois de tanto aperto. Uma brecha entre o alvo e a flecha, para não viciar no acerto em cheio – ficar um pouco no meio, para variar.

Se a gente deixasse o colo mais livre, sorrisse mais fácil, cultuasse o quente ao invés do frio. Se a vaidade permitisse um traço torto, se a pretensão cobrasse menos, se o orgulho nos liberasse mais. Se o compasso espichasse no final da canção, só para fazer uma graça; sem mania de perfeição, sem razão, sem nada.

Talvez não precisássemos repor as energias - se não as derrubássemos no caminho da angústia. Poderíamos, quem sabe, ir andando conforme o acaso ou o destino determinasse, tanto faria; estaríamos respirando lento e rindo frouxo, ao vento. Se ainda soubéssemos como se faz.

Alguém perdeu o acesso à suavidade dos dias, nalgum lugar de um remoto passado, e fomos atrás do atalho errado. A marcha foi ficando mais pesada, mais pesada, nossos coturnos foram engrossando, e nossa casca aumentando, nosso uniforme sufocando nossa emoção desbotada.

Seria útil pensar onde era, mesmo, que pretendíamos chegar.

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