03 abril 2003

EQUADOR NA BUNDA


Estive um tempo fora do micro, porque minha macro-mamãe e meu espevitado pai vieram me visitar aqui no Rio. Estava tudo muito bom, exceto o raio do raio de sol que me pelou a bunda um dia desses. Desacostumada à vida praiana, ainda que more a dez minutos da orla, resolvi mesmo assim acompanhar mamãe - bronzeada e muito mais disposta que eu - num escaldante programa à beira-mar.

Tostávamos, as duas, enquanto a fofoca rolava solta. Mãe e filha que se vêem duas vezes por ano, quando se reúnem, sobre a alta do dólar é que não vão falar.

Horas depois, senti que alguma coisa não ia muito bem comigo, sobretudo na região dos glúteos. Ou, por outra: minha bunda virou um tomate seco.

Claro que não saí dando pinotes de dor, mas que o estrago foi feio, lá isso foi. Mamãe cor-de-jambo, imune às queimaduras, só fazia rir. E dizia que não era nada, filhota, isso passa, isso passa.

Passei foi uma temporada de bruços, lendo tudo que podia, inclusive os desenhos dos lençóis e das fronhas. Na falta do que fazer, confesso que dormi um bocado – coisa que faço muito bem, modestamente, já disse a vocês, sou ótima de cama.

Esclareço aos mais politicamente corretos que, sim, eu usei protetor solar. Fator 8. Em todo o corpo, como manda o figurino. Acontece que a bunda, concluo, por se formar redondamente a partir da lombar, e se localizar, portanto, um pouco acima do nível do mar, deve captar os raios solares de modo mais intenso, fazendo assim com que a fina e delicada tez que a reveste acabe por sofrer as queimaduras mais graves.

Além disso, as praias aqui do Rio não são como as do Sul. Aqui, estamos mais próximos à linha do Equador. Portanto, fui dormir Equador na bunda.

Não sei se fui clara.

E-qua-dor-na-bun-da.

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