05 maio 2003

“Big Man”, refrigerante e fritas


Tem uma reportagem na Marie Claire deste mês que se destina a revelar que nós, mulheres solteiras, não estamos sempre à procura de reverter esta situação. Que há muitas mulheres inteligentes, bonitas, bem sucedidas e até muitas sensíveis que preferem dedicar suas vidas a si próprias; ou seja, foi-se o tempo do medo de “ficar para titia”.

Até aí, tudo bem. O que me chamou a atenção foi perceber, através de alguns depoimentos, que estamos tratando os homens (nossos amigos, namorados, amantes e até maridos em potencial) com um capricho digno de comercial de fast-food:

- Posso trocar minha batata frita por uma salada?

Uma entrevistada garante que se relaciona bem com o sexo masculino: ela tem um amigo para ir ao cinema, outro para acompanhá-la nas compras, outro para longas conversas filosóficas, outro para dividir uma garrafa de vinho e outro, ainda, para transar de vez em quando. “Mas cada um no seu setor” -, completa.

Cá entre nós: será que não estamos exagerando um pouco? Desse jeito, não há ser humano que seja capaz de “preencher todos os requisitos”. Nós não aceitamos o “número um” ou o “número dois”, com tudo que tem direito, como veio de fábrica. Queremos um pacote personalizado, um homem à nossa altura, encaixotado e quentinho, pronto para o consumo.

Queremos amá-lo como ele é, desde que seja perfeito.

- Posso trocar o refrigerante por um suco?

- Pooode -, responde aquela voz acolhedora, simpática e deliciosamente fora da realidade. Sim, porque o “Big Man” com fritas e refrigerante (ou suco, ou água, conforme o gosto da freguesa) é tão humano quanto o Frankstein.

O título da reportagem já diz: “Mulher solteira não procura. Mas quer achar”. No fundo, bem no fundo, todas nós carregamos uma pontinha inconfessável de inveja daquele casal lindo que empurra o carrinho do bebê pela faixa de pedestres, justamente quando estamos apressadas, querendo que o sinal abra logo para chegarmos em casa. E o que nos espera hoje? Talvez um amigo-fritas, ou um amante-Coca-Light.

Está certo que ninguém precisa engolir sapo e arrotar príncipe, mas vamos pegar leve, e admitir que estamos morrendo de medo de perder o “status” de mulher moderna e independente, caso dê o azar de alguém nos flagrar indo buscar a cervejinha na geladeira enquanto ele assiste à final do campeonato no sofá.

Pior que isso: estamos é perdendo o talento para as relações humanas. Resolvemos entender das máquinas, das estatísticas e dos gráficos, e estamos anestesiadas pela exatidão de um universo que é tão fascinante quanto desumano.

Do jeito que a coisa vai, qualquer dia vamos injetar no travesseiro um “aroma artificial sabor homem”. E dormiremos tranqüilas, na segurança da solidão disfarçada de opção.

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