21 fevereiro 2004

Carnavaleco


Tempinho enjoado para os cariocas: chuvinha. De minha parte, um pouco irritada, como sempre, com essa época em que todo mundo simplesmente pára de fazer tudo - e o que antes já não funcionava direito, agora, então, nem pensar.

Está certo, ninguém pode pensar em trabalho ininterruptamente (meu “bico” de voz-e-violão num barzinho foi cancelado hoje... por que mesmo?), ainda que se esteja com as calças na mão, como estou, como estamos todos nós, ou quase todos. Mas, cá entre nós, não venha Domenico Di Masi querer incluir a gandaia desenfreada e a manguaça pré-quarta-feira-de-cinzas no rol das (não-)atividades carinhosamente por ele apelidadas de “ócio criativo”. Sem querer ofender, já não vejo muita coisa de criativo nos carnavais há vááários anos.

A propósito, noite dessas a TVE exibiu um belo programa sobre samba – o verdadeiro -, mas garanto que ninguém viu, porque a cadência era um pouquinho mais lenta do que os frenéticos rebolados pré-carnavalescos que as outras emissoras mostravam no mesmo horário, por sinal, nobre. Pois ali, na TVE, personalidades do samba, estudiosos e fiéis observadores (são sempre os mais interessantes) discorriam sobre o tema dois-por-quatro, sem pudores e sem jargões, como se contassem a história de uma vizinha de porta.

Entre outras coisas, eles lembraram que a “vizinha”, quando desfilava na avenida há alguns anos – nem muitos! -, rebolava muito mais gostoso, mais swingado. Até que resolveram atropelar a vizinha.

É isso mesmo. Aceleraram o andamento do samba-enredo até não mais poder, e hoje ele é o único que não desfila: corre. Uma judiaria, como dizia minha avó.

Parece que o balanço, outrora um pré-requisito para se falar em samba de qualquer espécie, agora perdeu o sentido. Pelo menos o sentido auditivo; que, no visual, tudo balança cada vez mais.

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